Radicalização dos terroristas de Barcelona levou cerca de um ano
Com a morte de Younes Abouyaaqoub, de 22 anos, o condutor da carrinha que tirou a vida a 15 pessoas - 14 nas Ramblas e uma à saída de Barcelona, as autoridades da Catalunha afirmaram esta segunda-feira que "as 12 pessoas da célula foram abatidas ou detidas", mas que os Mossos D"Esquadra não vão dar por encerrada a operação.
"É provável que a operação se estenda a novas linhas de investigação a nível internacional e que tenhamos novidades nas próximas semanas", declarou Josep Lluís Trapero, o major dos Mossos Mossos D"Esquadra, na conferência de imprensa em que foram explicados os passos que levaram à morte de Abouyaaqoub pelas autoridades em Subirats, a cerca de 50 quilómetros de Barcelona, após a denúncia de uma testemunha.
Aqbouch Abouyaaqoub, de 80 anos, é avô de Younes, o autor do atentado de Barcelona abatido. Ele e a mulher vivem em Mrirt, uma cidade marroquina de 30 mil habitantes e onde nasceram quatro dos jihadistas envolvidos nos atentados da semana passada.
Em conversa com um jornalista do El País, Aqbouch pede perdão pelo sucedido e garante que os atentados nada têm a ver com a cultura marroquina, garantindo que o jovem deixou o país à vários anos. "Uma coisa é certa: o meu neto não acabou os estudos aqui. Estudou em Espanha", disse.
Mohamed Abouyaaqoub, de 35 anos, vive em Ripoll, tal como Younes, e é de Mrirt, tal como os quatro jihadistas marroquinos, a quem conhecia - os irmãos Omar e Mohamed Hychami, Houssaine e Younes Abouyaaqoub. Partilhava o apelido com dois deles, mas não esclarece se eram da mesma família. "Eram pessoas muito tranquilas. Os quatro falavam espanhol e catalão perfeitamente. Nunca suspeitei deles. Nem em Ripoll nem aqui", contou ao El País. "Acho que foi o imã de Ripoll que os convenceu. Eu também ia à mesquita do imã e nunca o ouvi falar do Daesh nem da luta armada. Acho que lhes passava essas mensagens mais tarde num apartamento em Barcelona, não na mesquita", acrescentou. As autoridades da Catalunha confirmaram esta segunda-feira que o imã de Ripoll é um dos mortos encontrados na casa de Alcanar, onde houve uma explosão na noite anterior aos atentados de Barcelona e Cambrils e que levou os jovens a improvisarem estes dois ataques.
Um primo de dois dos terroristas, que quis manter o anonimato, afirmou ao El País que "isso de que a radicalização dos rapazes foi rápida é mentira". "Há pelo menos um ano que o imã de reunia com alguns deles fora da mesquita", prosseguiu.
Abdelbaki Es Satty, o imã de Ripoll e tido como o cérebro dos atentados, encontrava-se frequentemente na sua carrinha com Mohamed Hichamy, o seu irmão Omar, com Moussa Oukabir e Youssef Aalla, referiu a mesma fonte. "Estavam dentro da carrinha e passavam lá duas horas ou mais. Se passava alguém perto, calavam-se e começavam a olhar para os telemóveis", acrescentou.
Estes encontros prolongaram-se durante um ano e de forma discreta. "Se se cruzavam nalgum sítio, na mesquita ou na rua, cumprimentavam-se como se fossem desconhecidos", referiu o primos de dois dos jihadistas. Para este foi durante o Ramadão, em junho, que souberam o que iriam fazer. "Desde esse momento começaram a comportar-se de uma forma muito carinhosa com as suas mães e com a família, estavam muito em casa e sempre atentos aos seus familiares", contou.
O La Vanguardia, citando fontes da investigação, adiantava que o airbag da carrinha usada por Younes nas Ramblas impediu que o número de mortos fosse maior. Os vários impactos recebidos pelo veículo nos 500 metros em que investiu contra os peões ativaram o airbag do condutor, bloqueando o sistema elétrico da carrinha. O que levou a que Younes abandonasse a carrinha e fugisse.