Vou lutar pela união. Vou lutar pelos parisienses. Paris merece!" Termina assim o artigo de opinião publicado por Rachida Dati no Journal du Dimanche, no qual a ex-ministra da Justiça de Nicolas Sarkozy, eurodeputada desde 2009, assume a candidatura à Câmara de Paris nas municipais de 2020. Dati, já autarca do 7.º bairro da capital francesa, não esconde a ambição de unir a direita para derrotar Anne Hidalgo e acabar com quase duas décadas de domínio socialista em Paris. Para tal, Dati já anunciou que não é candidata às europeias de 26 de maio. No mesmo artigo, a eurodeputada lamenta que Paris se tenha tornado "uma cidade da qual se foge", onde além do aumento brutal do preço das casas os residentes têm de lidar com "a insegurança, a sujidade, a poluição, os engarrafamentos e as obras constantes". Mais do que criticar as metas da atual presidente da câmara, Dati ataca os seus "métodos", prometendo, se for eleita, trabalhar para devolver aos parisienses "a limpeza, a segurança, a melhoria das condições de vida, as atividades para os seus filhos ou o acompanhamento de pessoas frágeis ou isoladas". Numa cidade que tem sido notícia nas últimas 19 semanas devido aos protestos - muitas vezes violentos - dos coletes amarelos, o mais duro ataque de Dati contra as políticas de Anne Hidalgo prendeu-se até agora com a iniciativa anticarros da presidente da câmara. "É preciso ver uma mãe de família carregar o carrinho de bebé pelas escadas do metro para perceber que as questões de mobilidade se colocam em termos de acessibilidade mais do que em termos de julgamentos morais", garantiu a eurodeputada. Para já, Dati foi a primeira a avançar para a candidatura às municipais previstas para a primavera. Para conseguir a nomeação do partido Os Republicanos, a eurodeputada terá primeiro de bater os rivais internos para ser escolhida na comissão de investidura no outono. A tarefa mais difícil será unir toda a direita e o centro atrás da sua candidatura..Depois da derrota estrondosa de Philippe Séguin frente ao socialista Bertrand Delanoë nas municipais de 2001, a direita nunca mais conseguiu recuperar a câmara da capital. Delanoë liderou a autarquia até 2014, tendo passado o testemunho à sua pupila Hidalgo, que nesse ano se tornava a primeira mulher a presidir à Câmara de Paris. Sob a sua vigência, a capital francesa viu a sua dívida aumentar de 3,4 mil milhões de euros para seis mil milhões, tem sido acusada de deixar a sujidade acumular-se nas ruas e, numa medida para lutar contra a poluição, limitou o trânsito dentro da cidade..Muito popular nos primeiros anos de mandato, Hidalgo viu o apoio popular cair nos últimos tempos, resta saber se será suficiente para lhe custar um segundo mandato à frente de uma cidade com perto de 2,2 milhões de habitantes..Velhas aliadas?. Mas quem são estas duas mulheres? Filha de um eletricista e de uma costureira, Hidalgo nasceu em Espanha, perto de Cádis, e a sua família e migrou para Lyon, França, quando ela tinha 2 anos. Dati, quanto a ela, já nasceu em França, em Saint-Rémy, filha de um pedreiro marroquino e de mãe argelina. Com idades muito próximas - Hidalgo tem 59 anos e Dati 53 - as duas até já cultivaram uma aliança em 2014, quando a já então autarca do 7.º bairro terá, segundo o semanário L"Express, dado informações preciosas à presidente da câmara sobre a sua rival da direita, Nathalie Kosciusko-Morizet. Agora, e apesar de neste momento haver vários outros potenciais candidatos à Câmara de Paris - entre os quais o deputado Cédric Villani, o secretário de Estado Mounir Mahjoubi ou o porta-voz do governo Benjamin Griveaux, todos do La République en Marche! do presidente Emmanuel Macron -, as atenções mediáticas estão centradas neste duelo no feminino pela capital francesa. Resta saber se as duas rivais mantêm o tom cordial quando chegar a hora da campanha oficial.