"Quero e desejo que se faça justiça em nome das minhas filhas. Eu avisei muita gente"

Nélson Ramos, pai das crianças afogadas em Caxias, garantiu que avisou do perigo que as filhas corriam e lamenta nunca ter sido ouvido
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"Quero e desejo que seja feita justiça em nome das minhas filhas. Eu avisei muita gente". As palavras sentidas são de Nélson Ramos, o pai que ficou sem as duas filhas depois de a mãe das crianças as ter, alegadamente, afogado na praia de Giribita, em Caxias (Oeiras), na noite de segunda-feira.

Em entrevista ao programa "Sexta às 9", da RTP1, Nélson relatou como foi o primeiro a dirigir-se à APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) e como decidiu avisar a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Amadora, a 10 de dezembro, de que as suas filhas corriam perigo. "Tenho receio de a mãe estar a usar as crianças para me atingir, para se vingar de mim". Em resposta escrita no mesmo dia, a CPCJ limitou-se a assegurar que o processo estava "encaminhado". A Segurança Social também referiu, no relatório enviado para o tribunal da Amadora, nunca ter conseguido entrevistar o pai das crianças. "Houve falhas porque eu não fui ouvido, nunca me quiseram ouvir", afirmou Nélson Ramos, visivelmente abalado.

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Depois da primeira queixa apresentada por Sónia Lima, a 17 de novembro, na PSP, a mãe das crianças foi ao hospital Amadora Sintra pedir o exame necessário para comprovar os alegados abusos sexuais que as filhas sofreriam do pai. Sónia alegou ter visto o pai das menores embriagado e a beijar de forma imprópria as filhas. Mas a perícia médica concluiu que não havia evidências de abuso sexual. Sónia ficou inconformada. Pediu novo exame no hospital D.Estefânia e a fatura desse exame foi parar à morada de Nélson. ""Recebi essa fatura endereçada a mim. Fui ao D.Estefânia com a fatura para perceber o que se passava. O que me disseram foi que não me podiam dar muitas informações por estarmos em processo de separação mas que eram feitas acusações graves contra mim", contou Nélson.

"Contactei a CPCJ quando recebi a fatura do hospital porque achei estranho isto estar a acontecer. A primeira reação que eu tive foi que a Sónia não quer que eu veja as meninas e está a utilizá-las como arma".

O ex-companheiro de Sónia Lima não respondeu taxativamente que achava que a mãe das suas filhas tinha premeditado a morte das crianças. Mas respondeu assim: "Talvez ela soubesse que um dia mais tarde eu iria ter o direito de estar com as minhas filhas e de ser pai. Porque sempre fui um pai presente, atento e cuidadoso". Nélson garante que Sónia também era uma excelente mãe, antes dos episódios que se seguiram à separação em novembro, da queixa por violência doméstica e abuso sexual e da alegada tentativa de afastar o pai das filhas. "Era muito cuidadosa com elas, ao ponto de exagerar", diz Nélson. Em junho do ano passado, depois do nascimento de Viviane, a mais nova, tudo se complicou na vida do casal. "Havia violência verbal e havia violência física, que partia sempre dela, à frente das crianças".

A rutura dá-se em novembro. "A primeira vez que fui confrontado com as acusações de abuso sexual foi no momento da rutura, muito conturbado. Sou expulso de casa, ameaçado. Obrigaram-me a dar a chave de casa e acusaram-me de ser pedófilo, de dar beijos na boca à Viviane". Era Nélson, técnico de audiovisuais, quem pagava as despesas da casa. Uma prima de Sónia, agente da PSP, presenciou e terá participado nesse episódio de expulsão de Nélson de casa, estando agora a ser alvo de um processo de averiguações na corporação, porque terá dito que estava em serviço quando não estaria.

Sónia Lima encontra-se em prisão preventiva no hospital psiquiátrico de Caxias. Nélson Ramos garantiu na entrevista que jamais a conseguirá perdoar. "Não consigo, não posso perdoar nunca".

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