Elisabeth, herdeira ao trono dos belgas mas soldado sem direito a queimar etapas, apresentou-se no último dia de agosto, primeiro do novo ano letivo, no campo militar de Eisenborn para começar a PIM - phase d'nitiation militaire, isto é, a recruta - primeiro passo para quem quer frequentar a Escola Real Militar (ERM) da Bélgica. Dentro de quatro semanas, já com a boina azul, participará na abertura solene do ano académico da ERM - um desfile na Esplanada do Cinquentenário, em Bruxelas..É a primeira mulher da família real da Bélgica a ingressar na Escola Real Militar e vai frequentar o curso de Ciências Sociais e Militares, em flamengo. É o mesmo curso que o pai frequentou quando, ele próprio, fazia a sua formação para um dia se tornar rei..A primogénita duquesa de Brabant, que completa 19 anos a 25 de outubro, passou os últimos dois anos na UWC Atlantic College, no País de Gales, a mesma por onde passou a rainha emérita de Espanha, Sofia, Guilherme da Holanda e Carlos de Inglaterra..A passagem pela Escola Real Militar, uma instituição com 20% de mulheres entre os alunos e uma general ao comando, Lutgard Claes, será a primeira formação superior da futura rainha dos belgas no seu país e mereceu um comunicado da instituição. "Os estudantes congratulam-se com a chegada da princesa herdeira e reservam-lhe um acolhimento caloroso. Os alunos, os professores e os funcionários da ERM farão igualmente todo o possível para lhe dar um ano de enriquecimento académico." O currículo do curso inclui comunicação e relações internacionais, geopolítica, liderança e trabalho em grupo, assim como gestão..O palácio justifica a frequência do curso: "Ao inscrever-se na ERM, a princesa prossegue num longa tradição da família real." Dispõem-se a cumprir uma tradição depois de terem quebrado outra - o fim da primazia do varão no trono. Em outras circunstâncias, apesar de primogénita de quatro filhos de Philippe e Mathilde da Bélgica, seria ultrapassada pelo irmão Gabriel, dois anos mais novo..As rainhas só chegavam ao trono em ocasiões raras e o serviço militar nunca foi assunto. Mas, à medida que foram sendo revogadas as leis que davam primazia ao varão e a manterem-se as monarquias, a Europa prepara-se para ser um continente de rainhas. Além da Bélgica, são mulheres as herdeiras ao trono de Espanha, Bélgica, Holanda, Suécia e Noruega. E, em todos os casos, o treino militar foi (ou será) parte da sua formação.."É a igualdade de género", resume José Bouza Serrano, ex-embaixador de Portugal e autor do livro Famílias Reais e os Nossos Dias. "Bem patente em países como a Suécia.".O exemplo não é ao acaso. Victoria, que sucederá ao rei Carl Gustav, 43 anos, e, pela ordem natural da vida, a que mais perto se encontra do lugar de rainha, fez recruta num quartel de Estocolmo em 2003. Depois, participou numa missão de paz no Kosovo, onde já tinha estado num curso militar intensivo. A formação militar é uma escolha e não uma obrigação. Na Suécia, o rei não é o chefe das Forças Armadas ao contrário do que acontece na Bélgica e em Espanha..Leonor frequenta o equivalente ao 9.º ano em Portugal, um ano decisivo para que afine gostos e comece a traçar-se um caminho mais preciso na sua formação, como é habitual com todos os jovens da sua idade e aconteceu com o pai, Felipe VI, que fez os estudos secundários no Canadá e, de regresso a Espanha, fez formação militar em Espanha..Pouco se sabe sobre a educação da princesa, que faz 15 anos a 31 de outubro, e da irmã, Sofia, dois anos mais nova, mas a herdeira passará pela academia militar. Não apenas para cumprir uma tradição familiar, mas pela ligação histórica da família real aos militares, nota José Bouza Serrano.."Juan Carlos era chefe das Forças Armadas e foi essa ligação que, no fundo, parou o golpe de Antonio Tejero", lembra o diplomata ao DN, lembrando a ocupação do Palácio das Cortes no dia 23 de fevereiro de 1981 e a comunicação do rei, com o uniforme de general, na madrugada de 24, contra o golpe e em defesa da Constituição..O gesto valeu-lhe o reconhecimento dos militares e da população em geral - uma popularidade manchada pelos casos de corrupção do genro, Inãki Urdangarín, condenado e a cumprir pena de prisão, e da sua fortuna de origem desconhecida que contribuíram para que abdicasse a favor de Felipe VI e, finalmente, trocasse Espanha pelos Emirados Árabes Unidos..Os escândalos de Juan Carlos têm ferido a credibilidade da monarquia espanhola e podem ditar o seu fim. "Têm anticorpos de muita gente e estão a reduzir-se, a reduzir-se", observa Bouza Serrano, notando a aparente contradição de uma monarquia com um rei bem preparado e que tem recebido elogios por tentar demarcar-se dos problemas familiares, mas que está "a pintar-se a um canto, como se diz na expressão inglesa"..A educação da princesa das Astúrias é, por isso, mais importante. Bouza Serrano vê nos pais pessoas com "ideias muito claras nesse sentido"..Leonor frequenta um colégio em Madrid, Santa Maria de Los Rosales, onde o pai também foi aluno, e estuda línguas orientais. Sobre a futura formação militar, fica um sinal: ainda príncipe das Astúrias, Felipe quis que o primeiro ato oficial das filhas, em 2014 (com 8 e 7 anos), fosse o 25.º aniversário do curso de tenentes da Academia da Força Aérea..Mais do que isso, frisa o ex-embaixador, "Leonor também vai querer conhecer os militares da sua geração como o pai conheceu os da dele. É bom que o façam, assim como é bom conhecer os universitários da sua geração, como decerto fará. Não queremos reis tontos". E tanto o pai como o avô frequentaram universidades espanholas depois de terem passado pelos três ramos das Forças Armadas..Mas no que ao serviço militar diz respeito, a pioneira das pioneiras foi a rainha Isabel II. Apesar de a imprensa britânica se congratular por a jovem herdeira poder viver uma vida tranquila à margem dos efeitos da guerra, a partir dos 16 anos ela começou a querer intervir mais no esforço de guerra..Tinha acabado de completar 18 anos quando, contra a vontade do pai, o rei George VI, se alistou no Women's Auxilary Territorial Service (ATS), um departamento em que as mulheres serviam como operadoras de rádio e, entre outras funções, como mecânicas e condutoras - foi este o caso da atual rainha em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial..A Collier's Magazine acompanhou-a e escreveu sobre o orgulho que ela sentia nas mãos sujas e manchas de óleo na roupa. Isabel II aprendeu a guiar camiões e ambulâncias. No Dia da Vitória dos aliados contra a Alemanha nazi, ao lado da irmã, Margaret, foi saudar as tropas. Foi a primeira mulher da família real britânica a cumprir o serviço militar..YouTubeyoutubeEZpbrjQd3OI