Quarentena generalizada faz cair a pique a poluição na Europa (e em Portugal)
É uma boa notícia, mas pelas piores razões. A quarentena forçada em que mais de 700 milhões de europeus vivem nesta altura, para tentar conter a pandemia de covid-19, originou uma significativa redução da poluição atmosférica no Velho Continente, incluindo em Portugal
É isso que mostram as imagens captadas pelo satélite europeu Copernicus Sentinel-5P, e divulgadas esta sexta-feira pela ESA, a agência espacial europeia.
A partir de medições feitas entre os dias 14 e 25 de março pelo satélite europeu, os cientistas Instituto Meteorológico Real da Holanda (KNMI,) trabalharam os dados para a Península Ibérica, França, Itália e Alemanha e compararam-nos com os da média mensal da poluição em 2019 para as mesmas regiões.
Nas imagens agora divulgadas observa-se a diminuição progressiva das concentrações de dióxido de azoto sobre várias cidades europeias, como Paris, Milão, Madrid ou Lisboa, além de várias regiões na Alemanha.
As medições ao longo dos 10 dias incidiram sobre o dióxido de azoto e o número de dias não foi escolhido ao acaso, já que uma ou dois apenas não bastariam para tirar conclusões, com o explica o coordenador da equipa.
"As concentrações de dióxido de azoto variam de dia para dia devido a mudanças no clima. Não é possível tirar conclusões com base apenas num dia de dados", explica Henk Eskes, do KNMI, citado num comunicado da ESA. E sublinha: "Ao combinar dados por um período específico de tempo, 10 dias neste caso, a variabilidade meteorológica é parcialmente média e começamos a ver o impacto das mudanças devido à atividade humana".
Face à situação criada pelo combate à pandemia, em que os países estão praticamente parados, com os cidadãos fechados em casa e apenas as atividades essenciais a decorrer, e na total incerteza de quando as coisas poderão voltar ao normal, a equipa do Henk Eskes vai continuar a fazer este estudo de monitorização da poluição atmosférica.
Para se poderem fazer agora "estimativas quantitativas das mudanças nas emissões devido ao transporte e à indústria, precisamos de combinar os dados do satélite Copernicus Sentinel-5P com modelos de química atmosférica", adianta o investigador. "Estes estudos começaram, mas levarão algum tempo até estarem terminados", conclui.