"Tenho estado a pensar se há um lugar especial no inferno para aqueles que promoveram o Brexit sem ter um plano para o executar de forma segura"..As palavras do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, foram mais uma acha para a fogueira do Brexit..Com o dia 29 de março cada vez mais perto, sem um acordo à vista, há várias figuras - eis aqui algumas - em quem o polaco poderia estar a pensar quando fez estas declarações.Boris Johnson O eurocético que conhece a UE.Correspondente do The Telegraph em Bruxelas, entre 1989 e 1994, Boris Johnson fazia sempre furor na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia com as suas perguntas eurocéticas. Depois de deixar o jornalismo, foi deputado na Câmara dos Comuns, presidente da Câmara de Londres e ministro dos Negócios Estrangeiros. Brexiteer máximo, disse antes do referendo do Brexit que, no futuro, com a adesão da Turquia à UE, "77 milhões de pessoas turcas ou de origem turca podem chegar [ao Reino Unido] sem qualquer tipo de controlo". Recentemente negou, tendo sublinhado: "Eu não disse nada sobre a Turquia durante o referendo." Mas os media rapidamente recuperaram aquelas declarações de abril de 2016 (o referendo foi a 23 de junho). Já depois de o Brexit vencer, por 52% contra 48%, Johnson assinou um artigo no The Telegraph, a 15 de setembro de 2017, reafirmando um dos argumentos da campanha: "Uma vez feito o acerto de contas, voltaremos a ter controlo de 350 milhões de libras por semana. Será uma boa coisa. Como muitos de nós sublinharam. Se muito desse dinheiro for para o NHS [Serviço Nacional de Saúde britânico]." Johnson referia-se ao dinheiro com que o Reino Unido contribui para o Orçamento da UE. Conhecedor da forma como se negoceia na UE (muitas vezes nos bastidores), Johnson afirmou em outubro de 2018: "Na UE sempre que um referendo vai contra o objetivo federalista arranjam forma de o país fazer o que eles querem.".Nigel Farage Ex-líder do UKIP e os referendos.O Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), então liderado por Nigel Farage, passou a campanha para o referendo do Brexit a martelar num ponto: dizia que com o Brexit 350 milhões de libras seriam libertados e passariam a ser utilizados no NHS. Logo no dia a seguir a ser conhecido o resultado do referendo, Farage foi de manhã ao programa Good Morning Britain, da ITV News, tendo admitido que essa mensagem "foi um dos erros da campanha pela saída". Questionado pela jornalista sobre se haveria mais coisas que as pessoas acordariam e descobririam que não iriam acontecer, Farage contornou a questão, dizendo que há dinheiro que não será enviado para a UE e poderá ser aplicado no país. Apesar de altos e baixos, com disputas internas dentro do próprio UKIP e acusações de uso indevido de fundos europeus para campanhas eleitorais, Farage mantém-se até hoje no Parlamento Europeu. A 16 de janeiro, em entrevista ao DN, declarou-se disposto a voltar a fazer campanha pelo Leave se o governo e a UE insistirem em repetir o referendo do Brexit. "Este velho lugar não quer que o Reino Unido saia. Somos uma economia enorme. A nossa economia tem a dimensão das 20 menores economias do mercado único europeu. Por isso eles querem mesmo é um segundo referendo. Será um insulto se forçarem um novo referendo, mas digo-lhe: se querem lutar comigo outra vez, vou combatê-los", disse, em Estrasburgo. Nesta sexta-feira ficou a saber-se que foi legalizado no Reino Unido o Partido Brexit, que conta com o apoio de Farage. Ironicamente, o partido pretende concorrer às europeias de 23 de maio, se, por esta altura, ainda não tiver havido Brexit. Nesta sexta-feira, dia 8, ficou a saber-se que foi legalizado no Reino Unido o Partido Brexit, que conta com o apoio de Farage. Ironicamente, o partido pretende concorrer às europeias de 23 de maio, se, por esta altura, ainda não tiver havido Brexit..Jacob Rees-Mogg O lobista e a batalha sangrenta.Deputado na Câmara dos Comuns, o atual líder dos rebeldes conservadores eurocéticos que tentam fazer curto-circuito entre Theresa May e a UE é um brexiteer por excelência. Jacob Rees-Mogg, líder do European Research Group, think tank que faz lóbi contra a UE, escreveu no final de maio de 2016, no Mail & Sunday, um artigo em que desejava para o Brexit uma vitória como a que a Companhia Britânica das Índias Orientais teve sobre o Nababo de Bengala e os seus aliados franceses a 23 de junho de 1757. Foi a chamada Batalha de Plassey..Daniel Hannan O eurodeputado cérebro do Brexit.Um dos fundadores do Vote Leave, Daniel Hannan é um dos 73 eurodeputados britânicos que vão ficar sem assento no Parlamento Europeu, por causa da saída do Reino Unido da UE. Em dezembro do ano passado, já depois de Theresa May ter fechado com a UE27 o acordo do Brexit, Hannan foi citado a dizer que começava a duvidar que o Brexit alguma vez acontecesse. Descrito pelo The Guardian como "o cérebro do Brexit", David Hannan chegou a dizer antes do referendo que "ninguém estava a falar de perder o lugar no mercado único". Num artigo publicado a 6 de junho de 2016, no Daily Express, o eurodeputado conservador enumerou sete razões para que os britânicos votassem no Brexit. Uma delas é que com o dinheiro que os britânicos iriam deixar de mandar para o Orçamento da UE "é possível dar a toda a gente um desconto de dois terços nos impostos municipais"..Michael Gove O homem do divórcio rápido.Ministro de Estado de Theresa May, ex-ministro de David Cameron, foi aliado e amigo do ex-primeiro-ministro britânico que convocou o referendo, até ao dia em que se passou para o lado do Leave. A amizade acabou e, dizem os media, Cameron chegou a chamar-lhe lunático. O conservador que recentemente admitiu a hipótese de um No Deal assegurou aos eleitores britânicos a 9 de abril de 2016: "No dia a seguir a votarmos para sair, teremos na mão as cartas para escolher o caminho que queremos." Mais tarde, em novembro desse ano, declarou: "Estou pronto para o embate económico para assegurar os benefícios económicos de não estar no mercado único e fora da união aduaneira. O que quero simplesmente é um divórcio rápido." Quando foi a moção de censura interna a May, Gove foi rápido a esclarecer que não era candidato a ficar no lugar dela..David Davis O crente nos acordos bilaterais.Ex-ministro para o Brexit de May, Davis sempre foi um dos rostos mais representativos do euroceticismo nos Tories. Campeão da campanha do Brexit, afirmou um mês antes do referendo que o Reino Unido, depois de sair da UE, podia negociar, de forma bilateral, acordos comerciais com Alemanha, França, Itália e Polónia. O que não está correto. Pois a UE negoceia de forma coletiva nessa área. Davis chegou também a afirmar que, no espaço de alguns anos, "antes de que alguma coisa se possa materializar, podemos negociar uma zona de comércio livre muito maior do que a UE".