PSD. Só as diretas de candidato único foram menos participadas

A ideia de que o PSD estava a encarar com alguma indiferença a batalha pela liderança entre Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva confirmou-se nos números. Numa eleição com mais do que um candidato nunca tão poucos votaram
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Só nas eleições diretas do PSD em que se apresentou apenas um candidato - as que elegeram Marques Mendes em 2006 e as três de Pedro Passos Coelho (2012, 2014 e 2016) - é que o número de votantes foi menor do que nas eleições que, no sábado, escolheram Luís Montenegro para suceder a Rui Rio como presidente do partido. Dito de outra forma: no que toca a número absoluto de votantes, esta foi a menos participada de todas as eleições diretas no PSD em que houve confronto entre dois (ou mais) candidatos.

Obtendo 72,49% (19 246 votos), Luís Montenegro venceu com resultados melhores do que Rui Rio em duas das três eleições do presidente cessante do PSD. Os valores de Montenegro foram ligeiramente superiores aos de Rio nas diretas de 2020 e 2021, mas a abstenção foi muito maior. E isto pode significar que se Montenegro mobilizou tudo o que podia mobilizar, já Jorge Moreira da Silva - que obteve apenas 7304 votos (27,51 por cento) - ficou muito aquém do que ficaram noutras eleições diretas anteriores os candidatos derrotados.

Nunca nenhum segundo classificado nestas eleições - "inventadas" em 2006 por Luís Marques Mendes - teve um resultado tão mau (em percentagem e em valores absolutos) como Jorge Moreira da Silva. O pior tinha sido Pedro Passos Coelho, na primeira vez que tentou a liderança, em 2008, contra Manuela Ferreira Leite. Passos perderia as diretas (venceria dois anos depois) com cerca de 14 mil votos. E agora Jorge Moreira da Silva, o pior segundo classificado de sempre na história das eleições diretas no PSD, obteve apenas 7304.

Isto também é o mesmo que dizer que nunca ninguém venceu com tanta vantagem sobre o segundo classificado como agora Luís Montenegro venceu Jorge Moreira da Silva (44,98 pontos percentuais de diferença). Até agora - e estamos a falar apenas desde que há eleições diretas - o líder desse campeonato era Pedro Passos Coelho, quando, em 2010, conquistou a liderança batendo o segundo classificado, Paulo Rangel, por 26,76 pontos percentuais.

O mapa eleitoral nacional (ver em baixo) revela que há distritos onde Luís Montenegro fez o pleno absoluto, ganhando em todas as concelhias. Lisboa é exemplo disso, mas também Évora, Portalegre e ainda na Madeira. De resto, há vários distritos onde Moreira da Silva vence apenas uma concelhia, casos de Coimbra, Bragança, Zona Oeste de Lisboa e Leiria. Curiosamente, o distrito onde o candidato derrotado parece ter mais força é em Aveiro, distrito de Luís Montenegro. Aqui, Jorge Moreira da Silva venceu nas concelhias da Mealhada, Anadia, Águeda, Albergaria-a-Velha, Estarreja, Ovar e Arouca. Mesmo assim, no cômputo geral do distrito, Montenegro venceu folgadamente, com 64,73 por cento (1734 votos); Moreira da Silva ficou-se pelos 35,27 por cento (945 votos). A abstenção foi em linha com a nacional: 40,28 por cento.

Ontem, o primeiro-ministro desejou as "maiores felicidades" a Luís Montenegro no seu mandato como líder do PSD. Falando aos jornalistas na feira de Hannover, Alemanha, - que escolheu este ano Portugal como país parceiro -, Costa foi questionado sobre a eleição de Luís Montenegro para presidente do PSD. Interrogado ainda sobre qual é a oposição que espera com Luís Montenegro à frente do PSD, o chefe do executivo respondeu: "Isso é o dr. Luís Montenegro e o PSD que têm de decidir". No Twitter, o presidente da Assembleia da República, o socialista Augusto Santos Silva também já tinha saudado a vitória do antigo líder parlamentar do PSD no tempo de Pedro Passos Coelho: "Com uma bancada de 77 deputados, o PSD é um grande partido indispensável para a nossa democracia parlamentar", salientou o presidente da Assembleia da República.

Ao reagir à derrota, no sábado, Jorge Moreira da Silva deixou no ar a hipótese de um dia voltar a ser candidato. "Acabei de perder a eleição, não me está a pedir para dizer o que farei daqui a dois, quatro, oito ou dez anos [...]. Neste momento, sou militante de base, não me peça para dizer quando tenho 51 anos que nunca mais me vou apresentar a nenhuma eleição", afirmou aos jornalistas. Reforçando: "Nunca me peçam para abdicar da minha liberdade e da minha autonomia de pensamento."

Moreira da Silva salientou que, para já, o tempo é de unidade. "Os militantes do PSD podem continuar a contar comigo. Eu não tenho feito nada para andar na guerrilha, nem na beligerância, contribuirei agora para a unidade do PSD e, tanto eu como os meus apoiantes, daremos todas condições a Luís Montenegro para liderar o PSD com a sua moção e equipa."

Quem também reagiu foi o líder do Chega. "O repto que lhe quero deixar [a Montenegro], é que se junte ao Chega a fazer verdadeira oposição ao PS", disse André Ventura. "Acho que Luís Montenegro tem condições para fazer alguma liderança que Rui Rio não fez em matéria de oposição" e "este não é o tempo de dar a mão ao PS, é tempo de sermos oposição."

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