PSD pede "reflexão", mas Malheiro avança com apoio a Montenegro
Dois dias apenas após a derrota eleitoral do PSD, um dos homens fortes de Rui Rio já apontou quem as tropas e os apoiantes do líder do partido devem apoiar na sucessão. Salvador Malheiro, vice-presidente social-democrata e líder da distrital de Aveiro do partido, diz que a solução é Luís Montenegro, já que considera que "poucos reúnem as condições" como ele para vir a liderar o partido.
Salvador Malheiro, que diz estar a falar a "título pessoal", afirmou no Fórum TSF que "naturalmente que Luís Montenegro, neste momento, é das figuras que reúne melhores condições para o fazer. Vamos aguardar, se for um outro, também estarei disponível para ajudar. Acho que poucos reúnem as condições que neste momento Luís Montenegro reúne", salientou, afirmando que não gostaria que existisse "disputa interna" neste período difícil do partido.
Montenegro, antigo líder parlamentar do PSD, fez uma reaproximação a Rui Rio nesta campanha eleitoral quando apareceu ao seu lado em Espinho. Mas já antes alguns apoiantes de Paulo Rangel tinham atribuído parte da vitória de Rio nas últimas diretas a uma reviravolta nos apoios dos montenegristas ao atual presidente do partido.
Recorde-se que foi Luís Montenegro quem desencadeou a tentativa de derrube da direção de Rio em 2019, ao perfilar-se como candidato à liderança. O que aconteceu mesmo nas diretas de 2020, em que também entrou Miguel Pinto Luz, e das quais Rio saiu vencedor.
Este apoio de Salvador Malheiro surge também na mesma altura em que o vice-presidente considerou que é preciso um processo de transição de liderança "sem precipitações".
"Não devem existir precipitações, teremos que analisar os resultados, perceber o que aconteceu. Sabendo que o presidente do PSD, como deixou muito claro, entende que a sua missão dentro do partido terá ficado com uma ação muito limitada, creio que com calma deverão surgir passos óbvios para, com muita prudência, espoletar todo o processo que vise trazer um novo projeto para o partido", afirmou Salvador Malheiro.
O vice-presidente do PSD, que com a saída de Rio disse que voltará à condição de militante de base, afirmou que a reunião da Comissão Política Nacional irá analisar uma forma de a atual direção "sair bem", considerando que merece essa deferência, e depois da reflexão sobre os resultados poderão então ser definidos calendários, que terão de passar pela convocação de um Conselho Nacional que possa marcar diretas e novo Congresso. "A Comissão Política vai reunir, vai decidir, vai anunciar, nós não somos pessoas de reagir a quente, gostamos de refletir um bocadinho, e é isso que vai acontecer", adiantou.
No partido, que "está a ferro e fogo", como disseram ao DN vários destacados militantes, há já quem esteja a criticar o apoio a Montenegro. Uma dessas vozes é do líder da distrital do Faro, Cristóvão Norte, um dos que foi afastado por Rui Rio das listas de candidatos às legislativas depois de ter apoiado Paulo Rangel nas diretas. "A derrota que o PSD registou foi de tal forma clamorosa que é inconcebível que os responsáveis por essa estratégia estejam num afã de lançar candidatos, ao invés de assumirem as suas responsabilidades e não condicionarem o futuro", escreveu ontem no Twitter.
"O partido pode mesmo cair no colo de Montenegro, pode não aparecer agora mais ninguém", diz uma fonte do PSD que foi apoiante de Paulo Rangel. O eurodeputado deverá manter-se afastado da nova corrida à liderança, mas "nunca se sabe o que poderá acontecer e se haverá apelos para que volte a tentar conquistar a presidência", acrescentou a mesma fonte.
Miguel Pinto Luz veio publicamente defender que o partido precisa de uma "reflexão profunda" antes de discutir a liderança, depois de uma "derrota colossal", e rejeitou um desfile de "protocandidatos". Elogiou ainda Rui Rio por não se ter demitido logo e dar a possibilidade de o partido ter tempo para "respirar fundo".
"A mensagem não passou, o resultado foi uma derrota histórica, uma derrota colossal para o PSD", considerou, defendendo que "o divórcio do partido com o eleitorado de centro-direita terá de ser revertido".
O DN sabe, no entanto, que Miguel Pinto Luz tem falado com alguns dos seus apoiantes, que o têm incentivado a avançar caso o processo de convocação de diretas seja mais rápido do que o que desejaria. O antigo líder da distrital de Lisboa e vice-presidente da Câmara de Cascais terá também de ponderar se valerá a pena voltar a correr para a liderança caso Montenegro se perfilar para líder.
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