PS quer "governar sem empecilhos"
Na hora de exaltar o trabalho do Governo e pedir uma maioria (sem o nomear), o socialista Carlos Pereira atacou de forma violenta os seus parceiros parlamentares nestes quatro anos de executivo. "Há quem hoje queira se colocar em bicos de pés para recolher dividendos eleitorais, mas esses, lembro aqui, eram os mesmos que sempre se colocaram à margem do cumprimento das metas do défice e da correção dos desequilíbrios", apontou.
Falando na reunião da Comissão Permanente - o órgão que funciona fora do período de funcionamento efetivo do Parlamento -, o deputado do PS afirmou que os socialistas querem "mesmo" poder "governar sem empecilhos". E enumerou: "Para impedir com todas as nossas forças o regresso da austeridade, do aumento colossal de impostos, dos mitos que o aumento de salários provoca desemprego, das previsões falhadas, dos velhos do Restelo que tratam o diabo por tu e que provocam ameaças da Europa contra os portugueses."
Os empecilhos enunciados referem-se ao PSD e CDS, mas Carlos Pereira já se tinha demorado num ataque aos partidos da esquerda parlamentar - nomeando explicitamente o BE e o PCP - noutro tipo de empecilhos: "No ruído da pré-campanha para outubro de 2019 até parece que a atual solução governativa foi desenhada a pensar no BE e no PCP, como se os portugueses ansiassem pela coletivização forçada dos meios de produção, com expropriações em massa e nacionalizações em catadupa." Ou ainda: "Que fique claro, fizemos o que fizemos a pensar nos portugueses, nunca a pensar no BE que continua a querer nacionalizar o que mexe e a romper com Europa mesmo que já o diga de forma muito tímida e até social-democrata."
"Cuspir no prato", atirou um deputado social-democrata à bancada socialista, no final da intervenção de Carlos Pereira, com muitos apartes de comunistas e bloquistas. Na sua intervenção, logo depois, o deputado do PSD Adão Silva saudou todos os deputados, afirmando que nenhum tinha sido "empecilho" para o trabalho realizado.
No período das declarações políticas, a 25 dias das eleições legislativas, PEV, PCP, CDS e PSD, como o PS, assumiram nos seus discursos uma avaliação destes quatro anos, com uma piscadela de olho ao eleitorado para melhor passar a sua mensagem que será a da campanha.
Para os ecologistas, os próximos quatro anos não podem ser de recuos "no que se conquistou de benéfico para o país".
O comunista João Oliveira alertou que "é preciso avançar no caminho de reposição e conquista de direitos e não andar para trás", sem "noção dos problemas que o país enfrenta e a certeza de que o caminho a prosseguir é esse de avançar".
Já o centrista Nuno Magalhães atirou-se ao "mandato poucochinho" dos socialistas, em que o "crescimento económico" foi "poucochinho" e as "exportações poucochinhas", as "reformas poucochinhas", a "redução da dívida pública poucochinha" e a "utilização dos fundos comunitários poucochinho".
E Adão Silva, do PSD, começou logo por lembrar José Sócrates para afirmar que, com o PS, "os portugueses sabem bem o que os espera: falência e bancarrota" - apontando baterias à "falência nos serviços públicos e a insegurança dos portugueses" com o Governo atual de António Costa.
A bloquista Mariana Mortágua fez notar que "a campanha eleitoral decorre lá fora", aproveitando antes para falar da composição da Comissão Europeia, anunciada na véspera pela nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Entre outras críticas, Mariana Mortágua criticou em particular a pasta "da Proteção do Nosso Modo de Vida Europeu", que é "um título errado" e "é preocupante", por ser também a "pasta do controlo migratório". O BE deixou um desafio ao PS, para saber se os socialistas mantêm o apoio à comissária alemã.
A deputada do PEV, Heloísa Apolónia, fez aquela que será provavelmente a sua última intervenção enquanto deputada no plenário do Parlamento - nesta reunião da Comissão Permanente. Nas eleições de 6 de outubro, Heloísa Apolónia será a cabeça-de-lista da CDU (a coligação que congrega PCP/PEV) pelo círculo eleitoral de Leiria, onde a coligação não elege ninguém desde 1985.
No final da sessão, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, saudou os deputados, em especial aqueles que deixarão o Parlamento. Como Carlos César, o líder parlamentar do PS, que se deixou ficar a tirar fotos com alguns dos deputados socialistas.