PS-Porto. Costa desata nó nas guerras locais escolhendo governante desconhecido
Foi ao próprio secretário-geral do PS que coube a escolha do candidato do partido à Câmara Municipal do Porto. Um discreto tecnocrata do partido atualmente no Governo como secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, 42 anos, licenciado em Sociologia e pós-graduado em Gestão de Entidades Públicas e Autárquicas pelo ISCTE.
Trata-se de uma escolha surpreendente na medida em que tudo apontava para que o candidato fosse o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, antigo presidente da câmara de Baião (arredores do Porto). A surpresa residiu, por outro lado, no facto de Eduardo Pinheiro enfrentar um evidente problema de falta de notoriedade pública tanto junto da população do Porto como, logo à cabeça, junto dos militantes do PS.
Costa - que sabe que a recandidatura do independente Rui Moreira é francamente favorita no Porto - decidiu assim para desatar o nó em que estavam envolvidas as três personalidades socialistas portuenses que disputavam entre si o lugar de candidato à câmara da Invicta. Por um lado, como já se disse, José Luís Carneiro; por outro, o presidente da distrital (e eurodeputado) Manuel Pizarro (que já conta no currículo com duas candidaturas derrotadas ao Porto, em 2013 e em 2017). E o jovem deputado na AR Tiago Barbosa Ribeiro, presidente da concelhia portuense dos socialistas.
Carneiro queria ser o candidato - nem que seja para marcar o lugar para daqui a quatro anos, quando Rui Moreira já não se puder candidatar. Só que sabia que enfrentava grandes dificuldades dentro do aparelho do PS no Porto, dominado por Pizarro e Barbosa Ribeiro, que se opunham a essa candidatura.
Pizarro, pelo seu lado, também admitia essa possibilidade, mas sabia que arriscava fortemente uma terceira derrota sucessiva, e até, eventualmente por valores maiores aos de 2013 e 2017.
Já quanto a Tiago Barbosa Ribeiro, um jovem turco da ala esquerdista do PS, alinhado com o projeto de poder interno do ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos, não colhia o apoio do próprio secretário-geral.
Assim, Costa escolheu ele próprio uma quarta via e impô-la às estruturas locais dos socialistas.
Uma fonte do PS/Porto confirmou à Lusa que Eduardo Pinheiro havia sido convidado para encabeçar a candidatura socialista à presidência da Câmara Municipal do Porto após uma reunião realizada ontem de manhã em que participaram os três principais barões do poder socialista portuense: José Luís Carneiro, Manuel Pizarro e Tiago Barbosa Ribeiro. A candidatura terá agora de ser sancionada pelos órgãos locais do partido.
Eduardo Pinheiro é um dos cinco secretários de Estado que o Governo nomeou, em abril de 2020, ao abrigo do estado de emergência, para cumprirem a missão de coordenação regional do combate à pandemia causada pela covid-19.
Em tempos, foi vice-presidente da câmara de Matosinhos, eleito pelo PS, quando a autarquia era liderada por Guilherme Pinto.
Quando este, após doença prolongada, faleceu (2017), Eduardo Pinheiro assumiu interinamente a presidência da autarquia. Mas depois, quando se tratou de escolher a solução para suceder a Pinto como candidato do PS à autarquia, nas autárquicas de outubro desse ano, o atual secretário de Estado não foi tido nem achado. A escolha recaiu sobre Luísa Salgueiro.
Os apoiantes de Rui Moreira já repararam neste aspeto do currículo do candidato do PS ao Porto e preparam-se por o usar em seu favor. Perguntando, simplesmente: "Se não serviu para o PS em Matosinhos como é que agora ser para o Porto?"
Em dezembro de 2018, o agora candidato do PS foi eleito vice-presidente do Conselho de Administração da Agência de Energia do Porto.
A biografia oficial que consta no site do Governo diz que em janeiro de 2017 tinha também assumido a presidência da Assembleia Geral da Casa da Arquitetura - Centro Português de Arquitetura.
Desde 2013 que integrava a Assembleia Intermunicipal LIPOR - Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto. Entre janeiro de 2017 e maio de 2019, exerceu o cargo de Presidente da Assembleia Geral do Metro do Porto. Ao assumir em outubro de 2017 o cargo de vice-presidente da Câmara Municipal de Matosinhos assumiu também responsabilidade nos pelouros do Planeamento e Ordenamento do Território, da Reabilitação Urbana, da Gestão e Fiscalização Urbanística e das Finanças e Património. Em dezembro de 2018 foi eleito vice-presidente do Conselho de Administração da Agência de Energia do Porto (AdEPorto).
Assumiu o cargo de secretário de Estado da Mobilidade quando o atual Governo iniciou funções (outubro de 2019).