Depois do anúncio, a confirmação: o PS Madeira oficializou esta quarta-feira o pedido para a constituição de uma comissão de inquérito na Assembleia regional, fundamentando que "os inquéritos parlamentares podem ter por objeto qualquer matéria de interesse público relevante para o exercício das atribuições da Assembleia Legislativa"..Este pedido surge na sequência de uma notícia do DN em que fontes ligadas aos governos regionais - do PSD -, confirmaram ter existido trocas de favores entre construtoras / empresários e o executivo madeirense, algumas resultando no afastamento de governantes..Baseando-se em declarações - "muito graves" - de Sérgio Marques (como por exemplo: "A dada altura começou a inventar-se obras, quis-se continuar no mesmo esquema de governo, a mesma linha. Obras sem necessidade"), os socialistas consideram assim que se pode estar perante a "prática de vários crimes", recorrendo a alguma legislação, como a lei n.º34/87, de 16 de julho, que estabelece os "crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos". Sérgio Marques renunciou entretanto ao cargo de deputado na Assembleia da República..Nas 48 páginas que compõem o texto do requerimento entregue à Assembleia Regional, os deputados do PS Madeira elencam oito objetivos para a comissão de inquérito pedida: "Esclarecer as relações existentes entre as empresas e / ou agrupamentos de empresas e o governo regional e / ou os seus membros"; "apurar situações que possam configurar risco de corrupção, infrações conexas e conflitos de interesses" e "a veracidade das declarações proferidas por membros e ex-membros do governo regional e presidente do Conselho de Administração de empresas e / ou agrupamentos com grande peso na região"; "esclarecer se e que empresas e / ou grupos controlam os media regionais"; "apurar a existência de "obras inventadas" e de "obras desnecessárias""; "apurar a totalidade de acordos extrajudiciais alcançados entre a Região Autónoma da Madeira ou secretarias regionais, pela mão do governo regional, e empresas ou agrupamentos de empresas, desde 2015 [ano da entrada de Miguel Albuquerque no governo] até à atualidade"; e "apurar a totalidade de concessões existentes entre a Região Autónoma da Madeira ou secretarias regionais, pela mão do governo regional, e empresas ou agrupamentos de empresas, desde 2015 até à atualidade.".No requerimento, os socialistas apontam ainda alguns exemplos de "documentos oficiais que nos apontam para uma frequência de relações travadas entre o governo regional e entidades em particular" que não devem ser ignoradas..Perante todos estes casos, o ex-presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, pronunciou-se publicamente sobre o assunto..Na sua conta do Twitter, Jardim refere que ao longo de quatro décadas, os seus executivos fizeram perto de 4900 inaugurações e deixou o desafio à oposição: "Para não perder tempo com "gajos importantes (?!...)", de uma vez por todas indiquem à população aí beneficiada, um a um, qual o investimento que não devia ter sido feito!".O ex-presidente do governo regional (abandonou o cargo em 2015, sucedendo-lhe Miguel Albuquerque) vai mais longe e diz que as "4890 inaugurações foram feitas pelo governo", não por si, e que "os governos Albuquerque prosseguiram" com o trabalho..Já depois da notícia do DN em que era visado, Sérgio Marques renunciou ao mandato de deputado na Assembleia da República e deixou também a comissão política regional do PSD..Na primeira reação ao afastamento, o atual presidente do governo regional, Miguel Albuquerque, confirmou a renúncia de Sérgio Marques. "Sim, confirmo. E, neste momento, está tudo pronto para o Dinis Ramos assumir as funções já a partir de quinta-feira", afirmou..Em declarações feitas à margem de uma cerimónia de entrega de divisas a polícias florestais, o presidente do governo regional da Madeira sublinhou de seguida que achou a renúncia "normal". "Pediu a renúncia, alegou as razões e está tudo resolvido", rematou, considerando ainda que a imagem do partido na região não fica manchada - Sérgio Marques, recorde-se, foi secretário regional dos Assuntos Europeus entre 2015 e 2017 e afirmou ter sido afastado do cargo por influências de grupos económicos na região..Grupo Pestana (Casino da Madeira) O contrato de concessão de exploração do casino da Madeira é uma das denúncias feitas pelos socialistas. Segundo o requerimento, a sociedade a quem está adjudicado o contrato de exploração (ITI - Sociedade de Investimentos Turísticos na Madeira) tem como presidente Paulo Jardim Mendonça Prada, que foi eleito como presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Desenvolvimento da Madeira (SDM), que tem a concessão do Centro Internacional de Negócios. Paulo Jardim Mendonça Parda é irmão de José Jardim Mendonça Prada, secretário-geral do PSD Madeira..Grupo Sousa Os socialistas denunciam também o contrato de concessão do serviço público de transporte regular de passageiros e mercadorias por via marítima entre o Funchal e o Porto Santo, celebrado com a Porto Santo Line - Transportes Marítimos. O presidente do Conselho de Gerência é Luís Miguel da Silva Sousa, também presidente da OPM - Sociedade de Operações Portuárias da Madeira, que celebrou um acordo extrajudicial com o governo regional para o exercício da atividade de operador portuário geral do porto do Funchal e do Porto Santo.