PSD vence sem maioria absoluta. Porta aberta para coligação de direita. BE desaparece

O PSD venceu as eleições legislativas regionais da Madeira, mas sem maioria absoluta, o que acontecia há 43 anos. Precisa do CDS para formar governo. O PS sozinho mais mais do que triplicou os votos que teve em coligação em 2015. A CDU deu um tombo e perdeu um deputado regional e o BE desaparece do mapa parlamentar madeirense.
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O partido liderado por Miguel Albuquerque conseguiu vencer as eleições regionais com 39,42% dos votos, com 21 mandatos no Parlamento Regional, contra um PS que atingiu os 35,76% e 19 mandatos. A lista dos socialistas, encabeçada pelo independente Paulo Cafôfo, triplicou os votos em relação a 2015 quando concorreu em coligação com outras forças. Os sociais-democratas precisam agora de se coligar com os centristas, que deram uma queda brutal nestas eleições, ao passar de sete mandatos para três, para formar governo.

Outras forças que também deram um tombo nestas regionais da Madeira foi a Coligação Juntos pelo Povo (JPP) que passou de 5 deputados eleitos para apenas três e a CDU, que elegeu um único deputado, Edgar silva, quando tinha dois. Mas em pior estado ficou o Bloco de Esquerda que passou de dois para nenhum representante no parlamento madeirense.

Estas eleições mostraram que houve uma bipolarização forte entre o PSD e o PS. Se se analisarem os resultados, vê-se que os sociais-democratas liderados por Miguel Albuquerque não perderam em termos absolutos muitos votos - passaram de 56 569 em 2015 para 56448 nestas eleições. É o PS, cuja a lista foi liderada pelo ex-presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, que sorveu os votos aos outros partidos. Os socialistas passaram dos 14 574 votos (e em coligação com o PAN, PTP e MPT) há quatro anos para os 51 207 votos.

Outras forças que tinham esperança de eleger representantes, como o PAN, a Iniciativa Liberal ou a Aliança, ficaram muito longe desse objetivo.

À hora de fecho das urnas a projeção da RTP/Católica dava um "empate" entre PSD e PS nas eleições regionais da Madeira. O acabou por se confirmar e os sociais-democratas perderam a maioria absoluta que detêm na região autónoma há 23 anos. A televisão pública foi a única a avançar com as projeções dos resultados eleitorais nas legislativas regionais da Madeira. O PSD aparecia entre os 37 e os 41% e o PS entre os 34 e os 38%.

PS. "Acabou hoje o poder absoluto do PSD"

Nas primeiras reações à projeção da RTP, O secretário-geral do PS Madeira disse que o partido acredita que, no final da noite, estarão reunidas condições para o PS e Paulo Cafôfo liderarem o próximo governo. João Pedro Vieira disse que esta projecção aponta para a maior votação de sempre no PS e que triplica o alcançado em 2015. "É o início de um novo ciclo na Madeira com novas políticas e novos protagonistas", afirmou.

O PS foi mesmo o primeiro partido a reagir a nível nacional pela voz da secretária-geral adjunta. Sempre sublinhado que "a confirmarem-se as projeções", Ana Catarina Mendes cantou vitória. "Acabou hoje o poder absoluto do PSD, que não voltará a ter maioria absoluta". A dirigente socialista sublinhou, do Largo do Rato, em Lisboa, que "este é o melhor resultado de sempre do PS" na região autónoma, triplicando a sua representação parlamentar regional. Ana Catarina Mendes aproveitou o embalo para dizer que o partido está mobilizado para o próximo dia 6, o das legislativas nacionais. "É um excelente resultado para o PS".

Pelo PSD falou, por enquanto, Tranquada Gomes, candidato do partido, que preferiu sublinhar que esta será "mais uma vitória do PSD" e explica o crescimento do PS com a transferência de votos da esquerda (BE e CDU), o que acentua a bipolarização.

Gonçalo Pimenta, candidato do CDS, centrou-se no "fim do ciclo das maiorias absolutas" e afirmou que o seu partido "está disponível para dialogar", num quadro em que é "preciso colaborar de maneira positiva". O centrista passou ao lado da projeção da RTP apontar para uma redução de 7 para dois ou três deputados para o seu partido.

Mas pouco depois o secretário-geral do CDS/Madeira Teófilo Cunha admitia que os primeiros resultados das eleições legislativas da Madeira ficavam aquém do esperado. "Os primeiros dados não são os que esperávamos, os que tínhamos projetado para estas eleições", disse aos jornalistas.

Parlamento fragmentado

Nas regionais madeirenses de 2015, as primeiras pós jardinismo, o PSD liderado por Miguel Albuquerque conseguiu manter a maioria absoluta que o partido tinha nas mãos há 43 anos, mas apenas por um deputado. Dos 47 deputados regionais, os sociais-democratas ficaram com uma bancada de 24.

A segunda maior força que das eleições há quatro anos foi o CDS, com sete eleitos; e depois, com seis deputados regionais, uma coligação PS-PTP-PAN-MPT. A fragmentação política foi uma das realidades dessas eleições, já que o parlamento regional ficou dividido em sete forças: a quarta maior foi o Juntos pelo Povo (JPP), com cinco deputados, seguida da CDU e do BE (dois deputados cada) e do PND (um).

As sondagens apontaram sempre para uma maior fragmentação da Assembleia da Madeira, até porque partidos que nunca foram nacionalmente a votos - o Chega ou o RIR - fizeram-no pela primeira vez. nesta corrida regional. Ao todo concorreram 16 partidos e uma coligação, que disputam os 47 lugares no parlamento regional. No caso, o PDR, CHEGA, PNR, BE, PS, PAN, Aliança, Partido da Terra-MPT, PCTP/MRPP, PSD, Iniciativa Liberal, PTP, PURP, CDS, CDU, JPP e RIR.

O PSD reconduziu Miguel Albuquerque, mas o PS, desta vez sem coligações, apostou em Paulo Cafôfo - o independente que, encabeçando coligações lideradas pelos socialistas, conquistou a Câmara Municipal do Funchal em 2013 (renovando o mandato em 2017).

Cafôfo é, aliás, há muito, mais do que uma aposta do PS madeirense, é uma aposta do PS nacional: em 2013, teve todo o apoio de António José Seguro (então líder do PS) para ser o candidato do partido ao Funchal, apoio que, a partir de 2014, António Costa manteria. As estruturas regionais do PS não ficaram muito entusiasmadas, mas, em nome da possibilidade de crescimento eleitoral do partido, acabaram por aceitar Cafôfo como candidato do PS a presidente do governo regional. E António Costa foi à Madeira dar-lhe o maior apoio nesta corrida contra Miguel Albuquerque, que também teve Rui Rio a seu lado.

Nestas eleições regionais podiam votar mais de 257 mil eleitores. Segundo dados publicados no 'site' da Secretaria-Geral do Ministério Administração Interna, 252.606 na ilha da Madeira e 5.152 na ilha do Porto Santo. Relativamente a 2015, quando se realizaram as últimas regionais na Madeira, estavam inscritos mais 526 eleitores.

A projeção da RTP também aponta para uma descida da taxa de abstenção de 50,42% para 41 a 46%.

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