Professora acusada quebra silêncio: "Ministério limitou-se a encontrar um bode expiatório"

Edviges Ferreira, acusada da fuga de informação sobre exame de Português fala pela primeira vez e diz "que o tempo do arbítrio terminou e chegou a hora da justiça"
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A professora acusada de ser a autora da fuga de informação sobre os conteúdos do exame nacional de Português quebrou, pela primeira vez, o silêncio: "Infelizmente o Ministério da Educação e a Inspeção-Geral de Educação e Ciência divulgaram uma série de informações incorretas sobre este processo e não fizeram uma verdadeira investigação, limitando-se a encontrar um bode expiatório", afirma numa declaração enviada por escrito ao DN nesta quinta-feira, dia em que se deveria ter realizado a primeira sessão do julgamento. É a segunda vez que é adiada.

Edviges Ferreira, que à data dos factos era presidente da Associação de Professores de Português, acrescenta: "Assim, entendo que o tempo do arbítrio terminou e chegou a hora da justiça, pelo que não quero fazer qualquer declaração, uma vez que cabe ao tribunal fazer o julgamento."

Em junho de 2017, em plena época de exames, o Expresso noticiava que estava a correr uma gravação audio nas redes sociais sobre o conteúdo da prova de português: "Malta, falei com uma amiga minha cuja explicadora é presidente do sindicato de professores, uma comuna, e diz que ela precisa mesmo, mesmo, mesmo só de estudar Alberto Caeiro e contos e poesia do século XX. Ela sabe todos os anos o que sai e este ano inclusive. Pediu para ela treinar também uma composição sobre a importância da memória e outra sobre a importância dos vizinhos no combate à solidão."

Edviges Ferreira, no âmbito das suas funções na Associação de Professores de Português, auditou a prova junto do IAVE (Instituto de Avaliação Educativa).

O caso foi denunciado ao Ministério da Educação por Miguel Barroso, então professor na Escola Secundária Luísa de Gusmão, em Lisboa. Terá sabido da gravação através de um aluno a quem dava explicações de Português.

Em maio do ano passado, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PDGL) divulgou um comunicado em que dava conta de que a professora era acusada dos crimes de violação de segredo por funcionário e de abuso de poder, puníveis com pena até três anos de prisão.

Já em março deste ano, o Ministério da Educação demitiu Edviges Ferreira da Função Pública. "O ministro da Educação determinou a aplicação da sanção disciplinar de demissão à docente que, em violação do dever de confidencialidade a que estava vinculada, deu a conhecer informação relativa a conteúdos do exame de Português 639, realizado em 19 de junho de 2017."

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