Procura-se A Víbora. Assaltante é chave para decifrar roubo de arte milionário feito há 30 anos
Trinta anos após um roubo de arte excecional em Boston - Vermeer, Rembrandt, Degas e Manet, entre outros pintores - a BBC decidiu fazer um documentário sobre o assalto. E conseguiu seguir pistas que permitem deslindar parte do que terá acontecido aos quadros, estando marcado para o próximo dia 19 (21.00) a sua exibição no canal britânico.
Mas não foi tarefa fácil para os responsáveis do documentário A Caça a Mil Milhões de Arte (The Billion Dollar Art Hunt), porque a principal fonte de informações, um assaltante irlandês, desapareceu do mapa segundo relata o jornal inglês The Guardian num artigo publicado este domingo.
O golpe efetuado num museu de Boston, o Isabella Stewart Gardner, foi audacioso e resultou no desaparecimento de 13 obras de arte de valor incalculável - no mínimo meio milhão de dólares - e só o trabalho de um detetive inglês três décadas depois foi capaz de esclarecer o que se terá passado, ao encontrar indícios que fazem supor que a "mercadoria" do roubo continua escondida.
As provas que o detetive obteve provinham do informador Martin "A Víbora" Foley, de 66 anos, que tinha prometido fazer reaparecer em público os quadros, no entanto com o passar do tempo aquele perdeu de vista o ladrão no ano passado. E assim fugiu a esperança de se rever fisicamente um dos quadros roubados mais valiosos de sempre, como três do pintor Rembrandt ou O Concerto de Vermeer.
A promessa de A Víbora era dar a um especialista de arte, Charles Hill, a oportunidade de negociar com os autores sobreviventes do assalto, processo que estava a correr bem até que neste verão Foley desapareceu e não mais respondeu aos contactos.
Entre as possíveis razões para o seu desaparecimento estão os rumores sobre as negociações em curso, que foram conhecidas das autoridades e estas começaram por pôr os responsáveis das finanças irlandeses atrás dele para a entidade se ressarcir de impostos por pagar no valor superior a 738 mil euros.
Ou seja, do verão de 2019 para o de 2020, ao tornar-se do conhecimento público os contactos entre Charles Hill e Martin Foley, este desapareceu da face da Terra e perdeu-se a ligação aos restantes assaltantes da galeria de Boston. A última coisa que se sabe de A Víbora data de fevereiro, momento em que sumiu por alegadamente considerar que o bando estava em perigo devido à perseguição que polícia irlandesa lhes estava a mover.
Em conversa com o responsável pelo documentário, a autora do artigo do The Guardian, Vanessa Thope, repete a sua opinião: "As obras de arte estão escondidas na Irlanda e a negociação para serem recuperadas mantém-se como uma possibilidade". Da mesma opinião é o especialista de arte, baseado num testemunho - anónimo no documentário - que assegura que as pinturas foram embarcadas num navio a partir de Boston e enviadas para a Irlanda. Uma tese que, no entanto, a polícia de Boston e o FBI recusam.
Apesar destas peripécias, o jornalista da BBC, John Wilson, conseguiu terminar o documentário que reconstitui o assalto realizado a 18 de março de 1990, quando dois homens vestindo uniformes da polícia entraram no museu e, após dominarem os seguranças, estiveram durante uma hora no interior a escolher as obras de arte que iriam levar consigo.
Wilson usa o testemunho do especialista de arte Charles Hill, que fez parte da equipa que recuperou o quadro de Edward Munch O Grito em 1994, que esteve em Dublim no outono passado durante a sua tentativa de localizar os quadros roubados. Uma situação perigosa, pois crê-se que os terroristas irlandeses do IRA possam ter estado implicados no roubo.
Enquanto A Víbora não der sinais de vida, as pinturas vão manter-se desaparecidas. A única possibilidade de ter um vislumbre dos quadros é visitar o museu em Boston e ver as molduras vazias que a instituição manteve penduradas no mesmo local de exibição.
Este não é o primeiro documentário sobre o assalto ao Museu Isabella Stewart Gardner, que está posicionado no topo dos roubos de arte que se mantêm por resolver.