O novo parlamento egípcio reuniu ontem pela primeira vez, a dois dias do aniversário da revolta que levou à queda do regime de Hosni Mubarak. A assembleia conta com 508 deputados (498 deles eleitos) e é dominada pelos partidos islamitas. As eleições prolongaram-se por mais de dois meses, em várias fases de votação, e os resultados deste complexo processo só foram conhecidos no fim-de-semana..O vencedor foi o Partido da Liberdade e Justiça (PLJ), braço político do influente movimento dos Irmãos Muçulmanos. Contando com pequenas formações aliadas, o bloco do PLJ conta com 235 deputados, 47% dos lugares, e já escolheu o futuro presidente do parlamento, Saad al-Katatni.Em segundo ficou o Al-Nour, formação salafista, ultra-conservadora, com 25% dos eleitos. Juntos, os dois blocos islamitas têm mais de 70% do parlamento. Só depois surgem as formações liberais, Novo Wafd e Bloco Egípcio, este último secular e apoiado pela minoria cristã copta..Os dois blocos fundamentalistas deviam ter concorrido na mesma coligação a estas eleições legislativas, mas separaram-se semanas antes de começar a votação. A sua proximidade ideológica implica que serão os dois a dominar o grupo de 100 deputados que irá redigir a nova Constituição egípcia. Em teoria, podem obter a totalidade dos lugares..A vitória esmagadora dos islamitas está a inquietar os meios mais liberais, sobretudo a minoria religiosa cristã, que conta pelo menos 10 milhões de pessoas, numa população de 80 milhões. Os militares no poder têm tentado diminuir o peso político desta assembleia. A democratização egípcia continua a partir de dia 29, com a eleição da câmara alta, a Chura, cuja votação se prolonga até 11 de Março. As presidenciais, provavelmente o momento decisivo, jogam-se em meados de 2012.