Caixotes e secretárias queimados: Ala B da prisão de Lisboa destruída

Anúncio de que esta quarta-feira não haverá visitas devido a plenário dos guardas prisionais fez com que reclusos se revoltassem. Desacatos começaram pelas 19.00 e terminaram às 20.15, segundo a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais
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Caixotes do lixo e colchões queimados, mesas e cadeiras partidas. E reclusos que só foram fechados nas celas depois das 20.00 quando o normal é serem-no pelas 19.00. É este o estado da Ala B do Estabelecimento Prisional de Lisboa, segundo contou esta noite ao DN Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional.

O dirigente está esta terça-feira junto do EPL na sequência de um motim dos presos que estão na Ala B daquele estabelecimento - cerca de 170. Os reclusos iniciaram este protesto depois de saberem que esta quarta-feira não deverão ter visitas devido a um plenário dos guarda prisionais agendado pelo SNCGP.

O protesto desta terça-feira motivou mesmo a passagem pelo EPL do Presidente da República após um jantar com a comitiva chinesa liderada pelo presidente Xi Jinping, no Palácio da Ajuda. De acordo com a TSF que cita fontes do Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa foi ver as luzes de Natal e quis passar pelo EPL, para se certificar se estava tudo bem. Ao parar num semáforo o Presidente abriu uma das janelas do veículo e questionou quem ali estava sobre a situação ocorrida horas antes na prisão.

Num comunicado a direção-geral adianta "um grupo de reclusos da Ala B do Estabelecimento Prisional de Lisboa recusou-se, ao final da tarde, a ser encerrado, tendo destruído algumas das celas e queimado colchões e caixotes do lixo". Protesto que levou a que fosse "necessário determinar a intervenção dos guardas do Estabelecimento Prisional de Lisboa que tiveram de usar os meios previstos para estas situações de reposição da ordem. O grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP) foi colocado de prevenção, não tendo, contudo, sido necessária a sua intervenção".

Nesta última parte do documento a versão do sindicato é diferente. Segundo Jorge Alves uma primeira equipa do GIPS entrou na ala onde já os guardas - incluindo alguns que estavam de folga e foram chamados - estavam a tentar controlar a situação. Pelas 20.15 conseguiram colocar todos os reclusos nas respetivas celas e a tranquilidade regressou à ala, ficando, de acordo com os guardas que foram saindo, a destruição à vista.

Facto confirmado pela DGRSP que no comunicado explica que "os reclusos foram encerrados nas celas cerca das 20 horas e 15 minutos, não havendo, neste momento, registo de feridos quer entre os guardas prisionais, quer entre os reclusos".

Com a notícia do motim alguns familiares dos presos foram chegando junto ao EPL, mas os agentes da PSP foram conseguindo manter a calma, afastando-os do local.

Os desacatos ocorrem numa altura em que decorre o último de quatro dias de greve dos Guardas Prisionais e que rondou uma adesão de cerca de 80%. Esta greve de quatro dias foi marcada para exigir a revisão do estatuto profissional e a progressão na carreira, além de os guardas também contestarem contestarem o novo horário de trabalho. O universo de guardas prisionais ronda os 4350 para uma população prisional perto dos 13 000 reclusos.

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