Os presidentes da China e de Taiwan vão encontrar-se pela primeira desde o fim da guerra civil em 1949. Xi Jinping e Ma Ying-jeou vão estar reunidos a sós sábado durante 20 minutos, antes de um jantar que juntará os dirigentes com as respetivas delegações. O encontro irá decorrer em Singapura, a cidade-Estado do Sudeste Asiático cujo governo mantém uma relação de particular proximidade com Pequim e Taipé..A realização do encontro foi revelada ontem e ambas as partes indicaram que serão abordadas as relações entre a China continental e o governo da ilha onde se refugiou o líder nacionalista Chiang Kai-shek há 66 anos, derrotado pelos comunistas sob direção de Mao Tsé Tung. Desde então, Pequim considera Taiwan uma "província renegada", o que não impediu a realização em 1993 - também em Singapura - de um encontro entre os dois lados que abriu caminho ao desenvolvimento das relações bilaterais. Encontro precedido de uma primeira reunião, em 1992, da qual resultou o "princípio de uma só China". A discórdia essencial é sobre o modo de concretizar este conceito, já que nenhum dos dois regimes reconhece o outro. Para contornar esta realidade, nem Xi nem Ma se dirigirão ao seu interlocutor pelo título das funções que desempenham mas pelo neutral "senhor", explicou à agência Nova China o responsável pelas relações com Taiwan, Zhang Zhijun..No espaço das últimas décadas, as relações bilaterais adquiriram importância crucial para as respetivas economias. Desde a tomada de posse em 2008, Ma sempre advogou o estreitamento das relações neste plano, apesar das diferenças de natureza dos dois regimes. Em 2014, o valor das trocas bilaterais foi de 130 mil milhões de dólares..O encontro sucede num momento político sensível em Taiwan com a realização de eleições presidenciais em que Eric Chu, o candidato do partido de Ma, o histórico Kuomintang (KMT), surge nas sondagens como derrotado face à candidata do Partido Democrático Progressista (PDP), Tsai Ing-wen. O PDP tem advogado a declaração de independência formal de Taiwan e sempre que esteve no poder, subiram de nível as tensões com Pequim. O PDP já criticou o encontro, considerando em particular que Ma, nos meses finais da presidência, quer amarrar Taiwan à política do KMT no respeitante às relações com a China continental, de que este partido foi pioneiro em 2005. O então presidente Hu Jintao recebeu neste ano em Pequim o dirigente do KMT, Lien Chan, abrindo caminho a um novo patamar de relacionamento. E em maio deste ano, o candidato do KMT e no líder do partido, Eric Chu, foi recebido por Xi Jinping em Pequim..A reunião de Singapura - num hotel de luxo propriedade dos descendentes de uma família de emigrantes da província de Fujian no início do século XX - sucede praticamente um ano após Xi ter recusado um encontro com Ma durante a cimeira APEC, que decorreu em Pequim de 10 a 12 de novembro. A mudança de atitude da liderança em Pequim na questão do encontro entre os dois presidentes é vista pelo PDP e por alguns analistas regionais como uma "operação política para interferir com o resultado" das presidenciais de janeiro, disse ontem em Taipé o porta-voz daquele partido, Cheng Yun-peng. O objetivo seria mostrar aos cidadãos de Taiwan como uma mudança de orientação política poderia pôr em xeque o bom momento das relações bilaterais. Pelo contrário, para a diplomacia de Singapura, "este é um momento histórico nas relações entre os dois lados do Estreito" de Taiwan, refere nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros singapurense..Ciente das reticências em certos setores da sociedade de Taiwan face a uma aproximação a Pequim, o gabinete de Ma garantiu que não serão assinados quaisquer acordos ou comunicados conjuntos.