Presidente do Instituto Brasil África diz que Bolsonaro "não pode esquecer África"
"É evidente que a cooperação Sul-Sul não pode sair da agenda. O Governo brasileiro que se apresenta sinaliza uma mudança de rota, talvez saindo do multilateralismo, mas acredito que a sua campanha política tenha de ser colocada sob outra ótica, e que a agenda efetiva, em janeiro, seja outra", declarou o presidente do Ibraf, João Bosco Monte, no 6.º Fórum Brasil África, salientando ter esperança de que Bolsonaro mude de estratégia e inclua África nos seus planos de cooperação e parceria internacional.
João Bosco Monte disse ainda que "África não pode ser esquecida", tendo estabelecido um termo de comparação com outros países que veem no continente africano uma potência, mais concretamente no que ao setor privado diz respeito.
"O mundo todo olha para África. A Turquia, a China, os Estados Unidos, ainda que o Presidente Trump não a coloque na sua agenda, olham para África, porque tem uma agenda importante, que é a agenda do setor privado. As companhias mundiais já viram o tremendo potencial que é o continente africano. (...) São 54 países com necessidades de infraestruturas e investimentos muito grandes e o Brasil não pode ficar em contramão", considerou.
Durante a campanha eleitoral, o futuro Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, mostrou vontade de se afastar de grupos com ligações a países africanos, como o Mercosul ou o BRICS (grupo de países de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tendo levantado a preocupação de líderes, como o do Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
"Se ele [Bolsonaro] atuar contra o que defendem os países do BRICS, isso será em detrimento do Brasil e dos brasileiros. (...) Se começar a empurrar numa direção diferente, acabará por prejudicar o interesse do Brasil", advertiu o chefe de Estado sul-africano no início do mês.
Também Jorge Chediek, diretor das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul, declarou estar confiante na continuidade de uma cooperação, que considera "histórica" entre o Brasil e os países do Sul.
"Confio que ele [Bolsonaro] vai continuar, porque acho que é uma política de ganho puro para todas as partes. Então, a lógica indica que essas parcerias devam continuar. (...) A política brasileira tem uma continuidade histórica de envolvimento com os países do Sul e acho que vai continuar", afirmou Chediek em entrevista à Lusa no fórum Brasil África.
O fórum, que decorre até sexta-feira na cidade brasileira de Salvador da Bahia, tem como tema "Empoderamento juvenil: transformação para alcançar o desenvolvimento sustentável".
O evento conta com a participação de oradores ligados à economia, investimento, educação, saúde, agricultura e comércio, em África e no Brasil, e, através de uma troca de experiências, pretende gerar oportunidades para as entidades envolvidas.
No último dia estarão representantes do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, Organização das Nações Unidas e Banco Africano de Desenvolvimento.