Preço das casas subiu mais 32% do que os salários nos últimos cinco anos
O preço das casas em Portugal cresceu, entre 2013 e 2018, a um ritmo médio acumulado 32% superior ao rendimento de uma família média composta por dois adultos (com o salário médio) e dois filhos a cargo. Os cálculos foram feitos pelo economista Eric Dor da Escola de Negócios IÉSEG da Universidade Católica de Lille, em França. O exercício permite perceber a evolução do poder de compra imobiliário dos habitantes de um país. "Para avaliar se a aquisição de uma habitação se tornou demasiado onerosa num determinado país, tendo em conta o orçamento dos agregados familiares, convém comparar o aumento dos preços face ao dos rendimentos", começa por explicar o estudo do IÉSEG.
No caso de Portugal as contas são pouco favoráveis aos potenciais proprietários. Pior do que o nosso país só a Irlanda, onde a diferença entre a taxa de crescimento dos preços das casas e a taxa de crescimento dos rendimentos líquidos de uma família típica ultrapassa os 60%. Os cálculos do economista francês foram feitos tendo em conta dois períodos: 2008 e 2018 e 2013 e 2018. O DN/Dinheiro Vivo optou pelo segundo, uma vez que foi a partir de 2013 que os preços das casas começaram a recuperar de forma consistente depois da crise económica e financeira que causou grande erosão no valor das casas.
"Na Irlanda e em Portugal, os preços das casas caíram acentuadamente durante a crise financeira, mas depois recuperaram", sublinha o estudo da escola francesa de negócios. "Como resultado, nos últimos cinco anos, o crescimento acumulado do preço da habitação ultrapassou o crescimento do rendimento líquido de uma família típica em 60,04% na Irlanda e 32,03% em Portugal."
Mesmo considerando o crescimento médio anual dos preços das casas e dos rendimentos de uma família típica, a situação mantém-se desfavorável para Portugal, comparando com os 26 países analisados para os quais existem dados. A análise revela que a diferença entre os dois indicadores foi de 5,46%. A Irlanda surge de novo em primeiro lugar com um hiato de 9,25%.
Mas nem todos os países tiveram este comportamento. Por exemplo, em França, a diferença entre a taxa de crescimento acumulada do preço das casas foi de -3,02%, o que significa que os franceses ganharam poder de compra no mercado imobiliário. Mais significativo é o caso de Itália (-13,65%).
O estudo da escola de negócios analisou também a taxa de crescimento do preço das casas nos países com dados disponíveis. E Portugal surge como um dos que registaram maior aumento. Entre 2013 e 2018, a taxa acumulada de crescimento anual foi de 38,6%, correspondendo a um aumento anual médio de 6,72%.
Comparando com o resto da Europa, Portugal é apenas ultrapassado pela Irlanda, Hungria, Estónia e Suécia com taxas de crescimento anual entre os 11% e os 7%. Do lado oposto da lista, aparece a Itália com uma desvalorização média anual dos preços das casas a rondar os 2%.
O estudo do IÉSEG permite ainda perceber quais as casas que registaram o maior crescimento. Ao longo dos cinco anos mais recentes, o crescimento acumulado dos preços médios foi mais acentuado nas casas usadas do que nas novas construções.
Para uma casa sem anterior proprietário, a taxa de crescimento acumulado entre 2013 e 2018 foi de 24%, correspondendo a um aumento anual médio de 4,4%. Nas casas usadas, a taxa de crescimento foi de 44,5% nos últimos cinco anos, quase o dobro do valor das habitações a estrear. Em termos de taxa média anual, o crescimento nas casas usadas foi de 7,6%.
jornalista do Dinheiro Vivo