Os tempos em que a torneira de crédito fechou já parecem distantes. A disponibilidade dos bancos para emprestar dinheiro para a compra de casa está a traduzir-se em juros mais baixos. Na zona euro, apenas na Finlândia foi mais barato contratar um crédito à habitação do que em Portugal, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central Europeu (BCE)..A taxa média das novas operações de crédito à habitação foi de 1,35% em Portugal, a mais baixa de sempre. O juro é inferior à média de 1,82% verificada na zona euro e fica bem abaixo dos 1,88% praticados em Espanha e na Alemanha. Os bancos portugueses têm sido menos restritivos na concessão de crédito; e isso reflete-se nos spreads praticados, que têm sido alvo de sucessivos cortes devido à forte concorrência entre os bancos.."Nos últimos anos tem-se assistido a uma compressão dos spreads nas novas operações de crédito ao setor privado não financeiro. No caso dos novos empréstimos à habitação, os spreads têm vindo a diminuir nos últimos anos, apesar de ainda se manterem acima da média anterior à crise financeira", observava o Banco de Portugal no último Relatório de Estabilidade Financeira. O supervisor explicava que as atuais condições monetárias "criam incentivos a uma menor restritividade dos critérios de concessão de crédito, num contexto de maior concorrência entre as instituições de crédito"..Além da descida dos spreads, há um outro fator que pode ajudar a explicar o motivo para Portugal ter dos juros mais baixos no crédito à habitação: no mercado nacional, contrariamente à maioria dos países europeus, a taxa variável é predominante. No ano passado, mais de 80% do crédito concedido tinha sido com aquele tipo de taxas. E como as Euribor continuam em níveis historicamente baixos, com valores negativos, isso leva a que o custo do novo crédito seja mais baixo..No primeiro semestre, os bancos portugueses deram 4774 milhões de euros em crédito à habitação, mais 950 milhões que no mesmo período de 2017. Na primeira metade de 2012, ano em que a torneira do crédito mais esteve fechada, os novos empréstimos à habitação não superaram os mil milhões. Apesar do acelerar do crédito à habitação neste ano, o ritmo dos reembolsos que vão sendo feitos ainda é superior ao dos novos empréstimos, o que resulta numa diminuição do stock..Ainda assim, a evolução no crédito levou o Banco de Portugal a recomendar ao setor financeiro que seguisse regras mais restritas, a partir do passado mês de julho, de forma a impedir problemas no futuro. Isto porque o supervisor notou que, "além da redução dos spreads praticados nas novas operações de crédito à habitação, existe evidência de outras práticas menos restritivas na concessão de crédito a particulares, que se podem acentuar no atual contexto"..O Banco de Portugal apontava para os prazos longos a que o crédito estava a ser concedido, para financiamentos elevados face ao valor da casa a ser comprada e para se estar a dar crédito a famílias que ficariam com uma taxa de esforço alta. E foi nesses indicadores que colocou travões para impedir excessos no mercado de crédito.