Portugal perde terreno: França já exporta sapatos mais caros

Itália lidera mas o preço médio do calçado português caiu 18,2% - está quase dois dólares abaixo do francês. Paris poderá estar a reexportar mais caros sapatos comprados a Portugal
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A indústria de calçado portuguesa parece afinal já não ser tão sexy como era - Portugal, com uma quebra de mais de 18% nos preços de exportação, acabou por perder o segundo lugar no pódio para a França e agravou ainda o fosso em relação à campeã Itália. Os industriais culpam o efeito cambial, mas Paris poderá estar, na verdade, a ganhar dinheiro à custa dos sapatos portugueses, que poderá estar a reexportar mais caros.

No ano passado, os fabricantes italianos exportaram os seus sapatos a um preço médio de 46,21 dólares (cerca de 41,64 euros, à taxa de câmbio médio do ano de 2015), contra 26,08 dólares (23,5 euros) do calçado português e 28,65 dólares (25,82 euros) dos chaussure de France. Os dados são do World Footwear Yearbook, publicação anual da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

"O segundo maior preço entre os grandes produtores de calçado é o português", garante a APICCAPS, até porque, diz, França não é um grande produtor mundial. Dos 110 milhões de pares de sapatos que Paris exportou no ano passado, só 23 milhões é que foram produzidos no país. França é o 42.º produtor mundial, mas o 9.º maior exportador em valor, com 3,149 mil milhões de dólares (2,838 mil milhões de euros). Portugal é o 18.º maior produtor, com 79 milhões de pares, mas é o 13.º maior exportador, com vendas de 2,069 mil milhões de dólares (1,865 mil milhões de euros). A Itália é o terceiro maior exportador, com um montante global de 8,648 mil milhões de euros, num mundo dominado pela China - detém 59,1% da produção.

A questão é que a França é também o principal mercado de destino do calçado português, valendo 22% das exportações. Qualquer coisa como 16 milhões de pares, no valor de 409 milhões de euros. Ou seja, Portugal está a exportar sapatos para França que, depois, poderão estar a ser reexportados a um preço mais elevado do que o nosso. Segundo a página da Federação Francesa de Calçado, Portugal é o quarto maior destino de origem das suas importações, depois da China, da Itália e do Vietname.

Esta conclusão "não é lícita", considera a associação dos industriais do calçado. João Maia, diretor executivo, argumenta que os principais clientes na França "são pequenos retalhistas ou marcas de menor dimensão e que esses não são reexportadores. A origem desses produtos só pode ser, na sua maioria, a China", defende.

E explica os mais de dois euros que separam os preços de França e de Portugal. "Os países que importam em dólares e reexportam foram obrigados a subir os preços por terem um aumento dos custos dos seus inputs", o que alterou, de "forma significativa", diz, os equilíbrios entre países produtores e exportadores. E entre países europeus e o resto do mundo. "Só por referência, o preço médio europeu caiu 9% em 2015, enquanto a nível mundial baixou apenas 0,2%."

Na realidade, o preço médio português caiu 18,2%, mais do dobro da queda do calçado italiano (- 9,2%), acentuando o fosso entre os dois países (ver infografia). A diferença, que era de 19,04 dólares, passou agora a ser de 20,13 dólares.

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