A Base das Lajes, nos Açores, poderá acolher a partir do próximo ano um centro de lançamento espacial, para enviar satélites de baixo custo para o espaço. Este é um dos eixos do futuro centro de investigação internacional Air Center (de Azores International Research Center), que se centrará também em estudos oceânicos, da atmosfera e das alterações climáticas. O arranque está previsto para 2017, e os seus contornos e a agenda científica estão neste momento a ser negociados entre Portugal e os Estados Unidos, mas também com entidades portuguesas, europeias e internacionais, incluindo a ESA, as universidades e empresas de tecnologia aeroespacial e da computação..Este é um dos temas que vão estar hoje em debate no primeiro dia do Ciência 2016 - Encontro com a Ciência e Tecnologia em Portugal, no Centro de Congressos de Lisboa, no qual o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, vai anunciar também uma novidade: a de que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) vai ter em 2017 um orçamento participativo. "A ideia é dar aos cidadãos a possibilidade de escolherem, sempre com base em critérios científicos, os temas que gostariam de ver estudados e investigados no país, com o objetivo de fomentar uma maior confiança entre a sociedade civil e os cientistas", adiantou Manuel Heitor ao DN. E sublinhou: "Gostaria de vir a ter no futuro como orçamento participativo 1% da verba da FCT para a investigação científica.".Quanto ao Air Center, o seu processo de criação, iniciado formalmente a 10 de junho, "está a decorrer até ao fim deste ano, para poder arrancar em 2017", explicou o ministro..Além da componente espacial, "aproveitando a Base das Lajes e o facto de o acesso ao espaço ter hoje menos custos, até pela menor dimensão dos satélites", está previsto que o futuro centro de investigação internacional a instalar nos Açores terá igualmente as componentes de pesquisa e inovação tecnológica nas áreas do oceano e da atmosfera, essenciais para o melhor conhecimento das alterações climáticas, e de uma área designada big data, com a instalação de um grande centro de computação para tratamento de dados..Por isso integram as negociações para a criação deste centro múltiplas entidades transatlânticas, como a NASA e a ESA para o espaço e os estudos oceânicos, além de empresas e universidades portuguesas, europeias e americanas, incluindo as que têm programas específicos com Portugal, como o MIT, a universidade de Carnegie--Mellon e a do Texas, em Austin..Eric Lindstrom, da NASA, um dos coordenadores do programa de observação oceânica daquela agência espacial, que tem estado envolvido na elaboração da agenda científica do Air Center, é um dos participantes do encontro de hoje, em Lisboa, e deverá apontar na sua conferência desta tarde as potencialidades dos Açores, nomeadamente a geográfica, em pleno Atlântico, e a disponibilidade de algumas infraestruturas no território, para a instalação de um grande centro deste tipo..O Atlântico, como admitem os promotores do Air Center, "está ainda muito pouco estudado", quer do ponto de vista dos recursos naturais, da dinâmica dos ecossistemas ou das interações oceano-atmosfera, pelo que "a aposta num centro deste tipo permitirá gerar novos conhecimentos, nomeadamente no que diz respeito à ciência das alterações climáticas", sublinha Manuel Heitor, explicando que "já há quem se refira ao Air Center como o CERN do Atlântico, dada a dimensão e o número de parceiros internacionais, entre entidades públicas e privadas, que estão envolvidos neste processo". As negociações sobre o futuro centro e a sua agenda científica prosseguem em Bruxelas, em meados de setembro, e haverá até final do ano pelo menos mais dois encontros para acertar detalhes..Outras infraestruturas instaladas, ou a instalar, nos Açores que poderão potenciar a colaboração internacional do futuro centro, além da Base das Lajes, é uma grande radioantena para receber dados que vai ser instalada em São Miguel, no âmbito do futuro radiotelescópio SKA, em que Portugal também participa e que deverá começar a funcionar nos primeiros anos da próxima década..Na investigação oceânica, os laboratórios para o estudo do ambiente e dos organismos do oceano profundo, incluindo as fontes hidrotermais, do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, os Lab--Horta@DOP & Cold Water Coral Lab, são também mencionados num documento da FCT, enquanto infraestruturas capazes de promover a colaboração internacional no âmbito do Air Center.