É uma voz inesperada aquela que veio louvar a resposta política encontrada em Portugal para responder aos anos da austeridade: o cantor, músico e compositor americano de origem escocesa, David Byrne, antigo vocalista dos Talking Heads, escreveu um texto em que apresenta o exemplo português como uma resposta contrária aos que anunciaram a austeridade como a "única alternativa" à crise financeira provocada pela banca em 2008..Num site onde alimenta opiniões políticas e partilha ideias nestes tempos em que parece que o mundo caminha para o Inferno, como o próprio descreve, David Byrne organiza desde há um ano em Reasons To Be Cheerful ("Razões para estar contente", numa tradução livre e que pode ter outras declinações - como satisfeito, grato...) uma coleção de notícias que o lembram que "na verdade, há coisas boas a acontecer!"..Para o americano, a austeridade não foi a única resposta possível para a dívida que atingiu muitos países após a confusão económica global após 2008. "A resposta, se olharmos para Portugal e alguns outros lugares, é NÃO. Depois da confusão bancária e creditícia de 2008, a 'austeridade' foi muitas vezes elogiada por muitos políticos e economistas como a ÚNICA saída do buraco escavado pelos banqueiros. Os bens públicos eram frequentemente vendidos a empresas privadas para se ter dinheiro rápido", escreve Byrne na newsletter do seu site..Para o americano, "por outras palavras, o que nos deram a comer - que a austeridade era inevitável e necessária - era uma mentira. Houve e há outro caminho", escreveu. No artigo que disponibiliza, David traça o retrato do que se passou, com recurso a notícias da imprensa internacional, para depois explicar qual foi a resposta política do país e concluir que há razões para olhar para Portugal como uma "alternativa bem-sucedida"..Com a troika, recorda, "a saúde, as infraestruturas e a educação (entre muitas outras coisas) sofreram, e um número cada vez maior de pessoas ficou para trás". Acrescentando: "O resultado foi uma quantidade razoável de ressentimento, que se expressa politicamente nas divisões e no populismo que vemos crescendo em toda parte. Economicamente, essas políticas também não funcionaram muito bem.".A rematar o texto, Byrne socorre-se de uma citação do primeiro-ministro português, António Costa, em entrevista ao New York Times, em julho de 2018, para admitir que ainda há muito por fazer. "Nós não fomos do lado negro para o lado brilhante da lua. Ainda há muito a fazer. Mas quando começámos esse processo, muitas pessoas disseram que o que queríamos alcançar era impossível." E concluiu: "Nós mostrámos que existe uma alternativa.".David Byrne atuou no ano passado em Cascais, depois de ter apresentado um novo álbum de originais em nome próprio em 14 anos, American Utopia. A sua passagem por cá é recuperada. "Isto é tudo muito encorajador. Estive lá na minha digressão mundial e as coisas pareciam estar a explodir... Uma das coisas que notámos é que as pessoas se estão a mudar para Portugal. Espalhou-se o rumor de que é um bom sítio para viver. Especialmente entre brasileiros, cujo país está a atravessar uma crise. O clima é otimista, o que tem o efeito de estimular o investimento e a inovação.".No álbum, estes tempos de crise são dissecados pela pena brilhante de um dos nomes mais estimulantes da música pop atual. Em Every Day Is A Miracle. Byrne canta: "Every day is miracle/ Every day is an unpaid bill/ You've got to sing for your supper/ Love one another".