"Porque recebeu o Prémio Nobel?", pergunta Trump à ex-escrava do Estado Islâmico

Nadia Murad, da minoria yazidi, perdeu a família toda e foi escrava sexual dos terroristas islâmicos, escapou e contou a história a todo o mundo. Recebeu o Prémio Nobel da Paz, mas o presidente dos EUA desconhecia a sua história.
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Num encontro com sobreviventes de perseguição religiosa, na Sala Oval da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu mostras de não estar muito atento aos vencedores do Prémio Nobel -- exceção feita a Barack Obama, tendo em conta o número de referências no Twitter ao anterior presidente. Depois de ter agradecido a intervenção de Nadia Murad, lembrou-se de quando a apresentaram, dois minutos antes: "E recebeu o Prémio Nobel? É incrível. Pode explicar por que razão?"

Em 2014, a aldeia no norte do Iraque onde Nadia Murad vivia foi atacada pelo Estado Islâmico. Então com 21 anos, esta jovem da comunidade yazidi foi vendida e durante vários meses foi escrava sexual e serva de vários homens. A sua família foi morta.

Após ter conseguido escapar-se, denunciou o genocídio sofrido por aquela minoria. O seu papel foi reconhecido pelo Parlamento Europeu, ao distingui-la com o Prémio Sakharov em 2016 (em conjunto com outra ativista yazidi, Lamiya Aji Bashar), e pelo Comité Nobel Norueguês, ao agraciá-la com o Nobel da Paz em 2018 (em conjunto com o médico congolês Denis Mukwege). Tudo isto foi novidade para Donald Trump.

Murad disse que continuam desaparecidos três mil yazidis, e apelou à ação do presidente norte-americano, que disse conhecer "bem a área". A ativista explicou que a comunidade, composta por meio milhão de pessoas, continua sem garantias de viver em paz e de dignidade, porque os governos iraquiano e curdo lutam pelo controlo da região. Elogiou o papel do presidente francês Emmanuel Macron, que tem feito muita pressão a favor das minorias, ao que o chefe de Estado norte-americano disse: "Mas o Estado Islâmico já desapareceu. E agora [o território] é curdo e de quem?".

Depois de Murad ter explicado que a questão não é tanto o Estado Islâmico mas sim a da sua comunidade étnico-religiosa ter liberdade, esta lembrou o destino da mãe e dos seis irmãos, todos mortos. "O que é que aconteceu?", perguntou Trump. "Foram assassinados. Estão em valas comuns." Nadia Murad apelou para a ação do presidente.

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