A eurodeputada letã Sandra Kalniete viu recusada a sua entrada na Rússia, onde pretendia assistir ao funeral de Boris Nemtsov, assassinado na sexta-feira em Moscovo, sem receber uma explicação aceitável, declarou à AFP..No aeroporto de Sheremetyevo, em Moscovo, a eleita pelo Partido Popular Europeu ficou duas horas à espera de uma justificação, após o que lhe foi dito que a recusa tinha por base o ponto 1 do parágrafo 27 de um código das autoridades, mas, quando questionou o que este dizia ao certo, ninguém soube explicar-lhe, contou por telefone à AFP a partir do aeroporto, onde terá de passar a noite.."Uma vez que sempre tive uma linguagem clara e explícita sobre o papel da Rússia na Ucrânia, suspeitava de que isso podia acontecer", declarou a eurodeputada, classificando a recusa da sua entrada como um "insulto" para a Letónia e para o Grupo do Partido Popular Europeu, mas afirmando-se "muito orgulhosa" em ser rotulada como inimiga da Rússia..Também um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco declarou que o presidente do Senado, Bogdan Borusewicz, não teve autorização para entrar na capital russa para assistir ao funeral de Nemtsov - que se realiza terça-feira para o cemitério de Troekurovskoye, em Moscovo - em retaliação por sanções da União Europeia contra a câmara alta russa..O dissidente da era comunista e membro fundador do movimento Solidariedade afirmou-se "chocado" com a proibição, tendo o chefe de Estado polaco, Bronislaw Komorowski, também membro destacado do Solidariedade, dito que recusar a entrada no país a Borusewicz, "um ícone da luta da Polónia pela democracia", era "difícil de entender e de aceitar"..O presidente da Polónia adiantou que o vice-chanceler Konrad Pawlik estará presente nas cerimónias fúnebres em representação do governo de Varsóvia, e que ele, Komorowski, será representado pelo antigo conselheiro Jan Litynski, para quem se perdeu "um grande homem, um grande democrata e um amigo da Polónia", sendo igualmente esperada a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Linas Linkevicius..A Letónia, a Polónia e a Lituânia, atualmente membros da União Europeia e da NATO, têm estado entre os mais expressivos críticos da anexação da península ucraniana da Crimeia à Rússia em 2014, a que se seguiu a insurgência pró-russa no leste do país..Boris Nemtsov, de 55 anos, copresidente do Partido Republicano da Rússia, foi atingido nas costas por vários tiros na noite de sexta-feira, quando atravessava a pé uma ponte frente à catedral de S. Basílio, em Moscovo, na companhia da namorada, a modelo ucraniana de 23 anos Anna Duritskaya, que associa ao homicídio apenas um "automóvel de cor clara" que passou no local..A jovem foi, entretanto, impedida de sair do país pelas autoridades russas, e a sua mãe, Inna Duritska, que vive em Kiev, afirmou à AFP temer que a filha seja acusada do assassinato de Nemtsov por a Rússia ter interesse em encontrar uma pista que conduza à Ucrânia..Entre os vários cargos políticos ocupados por Nemtsov estão o de governador da região de Nizhny Novgorod, no centro da Federação Russa, deputado e vice-primeiro-ministro no final dos anos 1990, sob a presidência de Boris Yeltsin, sendo que, após sair do parlamento, em 2003, ajudou a criar e liderou vários partidos e grupos da oposição..Um dos maiores críticos de Vladimir Putin e da ingerência da Rússia nos assuntos internos da Ucrânia, era também um cruzado anticorrupção, e estava a trabalhar num relatório que, segundo ele, continha a prova do secreto envolvimento militar russo na revolta das milícias pró-russas no leste da Ucrânia.