Polícia basca alerta para Apps de encontros após violação em grupo em Bilbau

Dois dos seis homens acusados de violação de uma jovem de 18 anos em Bilbau ficam em prisão preventiva
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Dois dos seis homens que foram detidos em Bilbau pela violação coletiva de uma jovem de 18 anos vão ficar em prisão preventiva, depois de terem sido presentes ao juiz, ficando os restantes quatro obrigados a apresentações diárias, informou a Ertzaintza, polícia autonómica do País Basco, através da sua conta oficial de Twitter.

Os seis homens, de origem magrebina e com idades entre os 18 e os 36 anos, foram detidos pela polícia basca, acusados da violação em grupo da jovem, na passada quinta-feira à noite, no Parque Etxebarria, em Bilbau.

Tudo aconteceu, a 1 de agosto, por volta das 23.30, (22.30, em Lisboa). De acordo com fontes do Departamento de Segurança, citadas pela agência espanhola Europa Press, a jovem tinha marcado através das redes sociais um encontro com apenas um dos homens e, quando viu que se tratava de um grupo, tentou fugir.

Sentindo-se exposta, relata por sua vez o Diario de Navarra, a rapariga começou a correr, mas um dos indivíduos correu atrás dela e obrigou-a a ir com ele até ao sítio onde estava o resto do grupo.

Ameaçada com uma pistola, refere o mesmo jornal, que cita relatos posteriormente feitos pela jovem, a vítima foi arrastada para um lugar ermo onde os magrebinos sem abrigo tinham montado uma espécie de acampamento. Em seguida, foi violada pelos seis e, quando terminaram, atiraram-lhe 17 euros e fugiram. Apesar dos ferimentos que sofreu, a jovem conseguiu chegar até a casa e, depois de contar à mãe o sucedido, ambas foram ao hospital.

À Ertzaintza a jovem de 18 anos disse não conseguir reconhecer nenhum dos atacantes, mas através de uma tatuagem conseguiu identificar um deles. E foi quanto bastou para a polícia. Em menos de cinco horas, as forças de segurança localizaram e detiveram os seis, colocando-os, posteriormente, à disposição da justiça.

Polícia basca alerta para o perigo de 'apps' de encontros

A polícia basca indicou que vai distribuir, nas festas de verão, folhetos com conselhos e medidas para tentar evitar agressões sexistas, mas também furtos e assaltos a domicílios, noticiou a agência Europa Press, precisando que os primeiros serão distribuídos nas festas de La Blanca, que decorrem até dia 9 de agosto, em homenagem à Nossa Senhora das Neves. Mas também nas festas Aste Nagusia (Semana Grande) em Donostia e Bilbau. Estas são festas em honras da Assunção de Nossa Senhora. Realizam-se durante nove dias a partir do sábado a seguir ao 15 de agosto.

Entre os conselhos contidos nos folhetos, refere a notícia, citada pelo Diário de Notícias de Biscaia e o La Vanguardia, estão: ter cuidado com os seus pertences, cuidado com o que consome, não caminhar sozinho à noite, nem por ruas estreitas ou pouco iluminadas, alertar amigos para pessoas que se apresentem com um comportamento pouco respeitador, não combinar encontros às cegas com desconhecidos através das redes sociais e, se combinar encontros com alguém, fazê-lo em lugares públicos e movimentados e avisar alguém amigo sobre isso.

No folheto que vai ser entregue a polícia basca disponibiliza números de telefone a usar em caso de emergência e recomenda ainda que as pessoas descarreguem a App da Ertzaintza para os seus telemóveis. Esta permite, entre outras coisas, aceder a mais informações e localizar, através de geolocalização, uma pessoa que acione pedido de assistência policial.

Além das iniciativas da polícia basca, também a sociedade civil se está a mobilizar. A associação Clara Campoamor vai constituir-se assistente do processo contra os seis agressores da jovem de 18 anos em Bilbau. Nessa cidade, através de várias associações de residentes, estão a ser organizados pontos fixos de informação à Polícia Municipal sobre coisas estranhas ou preocupantes que se tenha visto durante o dia, refere o El País.

O mesmo jornal refere que os residentes estão revoltados e criticam que, muitas vezes, os suspeitas entrem por uma porta do tribunal e saiam por outra, apesar de já terem no seu registo criminal vários crimes. Três dos seis detidos em Bilbau, sublinha, tinham já antecedentes por roubos, tumultos e agressões.

"A violência machista que nunca mais acaba"

Espanha tem um grave problema de violência de género, constata o El Periódico, num editorial publicado sexta-feira. "A Ertzaintza prendeu seis homens com idades entre os 18 e os 26 anos por presumível autoria de uma violação coletiva em Bilbau: com esta são já 42 as agressões de cariz sexual em grupo denunciadas este ano, quando em todo o ano passado de 2018 só houve conhecimento de 60, números muito superiores aos dos anos passados. Ao mesmo tempo, o mês de julho terminou com nove mulheres assassinadas por violência machista, uma a cada três dias. Os dois fenómenos partilham a mesma raiz, um machismo enquistado, agressivo e incapaz de ver a mulher como igual", lê-se no editorial daquele jornal, intitulado "A violência machista que nunca mais acaba".

O texto nota que foi mais rápida a justiça do que os partidos espanhóis que se comprometeram a legislar e a fazer um pacto de Estado. "Algumas associações feministas confiaram que as últimas sentenças, além de terem tentado fazer justiça para com as vítimas, serviriam de exemplo. Lamentavelmente é de temer que não seja assim. De facto, nem a aprovação da lei integral de 2004 serviu para impedir que há apenas dois meses se tenham alcançado um milhar de assassinatos desde que há registos, nem a reação exemplar da sociedade espanhola serviram para travar uma modalidade de agressão em grupo sobre a qual temos, com uma frequência arrepiante, notícias".

O incidente de Bilbau foi mais um dos vários casos de violação coletiva em Espanha depois do da chamada Manada em 2016. Nesse ano, durante as Festas de São Firmino, em Pamplona, uma jovem foi violada por um grupo de cinco homens. A violação foi filmada e partilhada por um dos agressores. Os atacantes foram identificados também graças a uma tatuagem que tinha um deles. Após muita polémica judicial, muitas notícias e manifestações de protesto nas ruas, o Supremo Tribunal considerou em junho já deste ano que houve violação coletiva e condenou os cinco homens a 15 anos de prisão.

Relativo a 2016 também é o caso da chamada Manada de Manresa, onde em outubro desse ano seis homens foram acusados de violar uma menor de 14 anos de idade numa festa numa fábrica abandonada. Segundo a acusação, os seis homens violaram a jovem em turnos de 15 minutos, ao passo que um sétimo apenas presenciou a cena, masturbando-se. Os atacantes tinham, segundo o El Mundo, entre 19 e 39 anos de idade e, segundo o El País, a procuradoria pede penas de prisão entre os 10 e os 12 anos por delito de abusos sexuais.

Na mesma localidade de Manresa, já este ano, em julho, os Mossos d'Esquadra (polícia autonómica da Catalunha) detiveram quatro homens com idades entre os 18 e os 25 anos acusados de violação por uma jovem de 17 anos. O incidente ocorreu durante a madrugada numa casa no centro histórico daquele município da província de Barcelona. Segundo relatos feitos pela vítima à polícia, citados pelo El País, a jovem e um dos agressores conheceram-se na noite e depois foram para uma casa onde tomaram álcool e estupefacientes. Em seguida foi abusada sexualmente.

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