Podem ter sido as operações de resgate a matar Julen, diz advogado

Advogado do dono do poço onde morreu Julen argumenta que "é impossível que a criança tivesse batido com a cabeça, porque caiu de pé". Relatório da defesa aponta para ferramentas usadas no resgate.
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Um mês depois de ter sido retirado sem vida de um poço em Málaga, ainda surgem dúvidas sobre as causas da morte de Julen. Se a autópsia ao corpo da criança de dois anos apontou para "múltiplas contusões e um traumatismo cranioencefálico grave", que os investigadores consideraram coincidentes com o impacto provocado pela queda no túnel, os advogados do dono do terreno vêm agora argumentar que terão sido as operações de resgate a causar a morte da criança.

Os argumentos resultam de um estudo conduzido por um arquiteto espanhol - Jesús María Flores Vila -, que pretende demonstrar que Julen não morreu da queda de cerca de 70 metros, mas sim do impacto das ferramentas usadas pelas equipas de resgate para eliminar o tampão de terra que se formou sobre a criança.

O relatório recorre a sumários de operações e às gravações de vídeo efetuadas nas primeiras horas após a queda de Julen no furo de prospeção de água, a 13 de janeiro. A defesa argumenta que a primeira câmara, introduzida no poço logo às 16.50 desse dia, permite concluir que o tampão de terra era "composto principalmente por material desintegrado e não compactado, terra e pequenos pedaços de entre um e dois centímetros de longitude, com a mesma cor do material que constitui as paredes do poço, o que praticamente confirma que o material que constitui o tampão não só provém das mesmas paredes do poço como a sua presença naquele lugar era recente".

Os desprendimentos de materiais, continua o especialista, eram constantes, o que segundo a defesa do dono do terreno onde estava o furo reforçam a ideia que a formação do tampão era recente e causada pelos trabalhos iniciais de resgate. Mais, acrescenta o relatório a que o El Mundo teve acesso, uma segunda câmara que acompanhou os trabalhos de uma espécie de picareta de aço com um metro de cumprimento atada a uma corda, usada para furar o tampão situado a 73 metros de profundidade, mostra "a queda constante de pequenas partículas de material que se desprendiam do próprio poço".

O advogado António Flores argumenta mesmo que terá sido essa picareta que provocou o traumatismo cranioencefálico em Julen. Isto porque "os pais ainda o ouviram a chorar durante 30 segundos e é impossível que a criança tivesse batido com a cabeça, porque caiu de pé".

A criança de dois anos caiu num furo de prospeção de água de cerca de 100 metros de profundidade e 25 centímetros de largura na tarde de dia 13 de janeiro. A família dava um passeio pela serra de Totalán, junto da propriedade de familiares, quando o acidente aconteceu. O corpo da criança só foi retirado quase duas semanas depois, após uma complexa operação de resgate que envolveu mais de 300 pessoas.

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