Os deputados querem que a qualidade do ar que se respira na Aldeia de Paio Pires (Seixal) e o impacto que a atividade da Siderurgia Nacional tem na saúde da população sejam estudados e os resultados desse trabalho divulgados..A recomendação ao governo foi publicada em Diário da República na semana passada e inclui ainda o conselho para que o executivo estude a "possibilidade de instalação de uma outra estação de monitorização da qualidade de ar no concelho do Seixal, junto à Aldeia de Paio Pires"..A decisão surge após visitas dos deputados efetuadas à localidade e à Siderurgia na sequência das queixas apresentadas pelos moradores que há vários meses vinham relatando o lançamento para a atmosfera, por parte daquela indústria, de partículas potencialmente nocivas para o ambiente e para a saúde pública. Estas denúncias levaram à audição em comissão parlamentar dos responsáveis da autarquia e da fábrica, além dos representantes de uma associação denominada Os Contaminados que foi mostrando na sua página na rede social Facebook várias imagens do pó que encontravam nas suas casas..Partículas inofensivas, diz estudo.A decisão dos deputados acaba por surgir numa altura em que já é conhecido o resultado de um estudo encomendado pela Câmara Municipal do Seixal - que aprovou a 30 de janeiro um documento em que exige uma "Melhor Qualidade de Vida - Tolerância Zero à Poluição Industrial"- ao Instituto Superior Técnico com o objetivo de se analisar "amostras de partículas recolhidas na Aldeia de Paio Pires" na zona do cemitério da localidade onde foram recolhidas por uma equipa do Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares do Instituto Superior Técnico sete amostras e depois enviadas para o Institute for Nuclear Research da Hungarian Academy of Sciences. Os resultados deste trabalho foram divulgados numa sessão pública promovida pela autarquia e apontam para a ausência de motivos de preocupação.."As partículas amostradas não representam perigosidade para a saúde pública por apresentarem um diâmetro muito elevado", explicam os autores do relatório. Quanto à origem do pó negro que as pessoas encontraram durante meses em casa e que, em alguns momentos, as impedia de abrir janelas, estender roupa e obrigava a lavar constantemente os carros e as varandas, os investigadores reconhecem que a "composição química das partículas recolhidas [...] aproxima-se da composição de partículas amostradas em zonas industriais com siderurgia. Estes resultados indicam poder existir uma ligação entre o Parque Industrial da SN e os episódios de aumento dos níveis de partículas no ar ambiente", ou seja, foram encontradas grandes concentrações de ferro, cálcio, alumínio, magnésio e manganês..No entanto, o trabalho do IST vai continuar pois novos estudos vão tentar "melhor identificar a origem do pó amostrado através da recolha e caracterização química de materiais armazenados na SN e noutras empresas do parque empresarial"..Moradores com menos problemas.As denúncias públicas da população, a visita dos deputados e a entrega de um pequeno saco com limalhas recolhidas pelos habitantes estarão a dar resultado, pois atualmente as situações de poluição registadas pela associação são praticamente inexistentes.."Em fevereiro a Megasa [empresa proprietária da SN] colocou dez estações de medição da qualidade do ar, começaram a molhar os resíduos, plantar árvores, barreiras acústicas e a aciaria está a ser revestida", conta ao DN João Carlos Pereira, um dos elementos da associação que desde o início do ano tem divulgado o lançamento para a atmosfera de partículas, alegadamente, originárias da SN..Medidas que terão sido tomadas após a denúncia pública do grupo e que ajudarão a diminuir o impacte da produção da Siderurgia. "A escória preta são as partículas lançadas para a atmosfera. Dentro do que mediaram dizem que não são inaláveis, mas não deixa de ser poluição e de entrar nos nossos corpos e há a contaminação dos solos", acrescenta..Neste momento, o grupo está a tentar reunir dados e testemunhos para perceber se a média de cancros no pulmão e de doença pulmonar obstrutiva crónica atinge valores acima da média, além de terem relatos de outros impactes para a saúde de quem fez parte da SN: "Há registos de que quem trabalhava junto do alto-forno e do forno elétrico sofre problemas da próstata.".Com a diminuição da acumulação de partículas e os primeiros dados das análises a indicar que essas poderão não constituir um perigo para a saúde pública, à associação resta esperar pelo resultado da investigação que o Ministério Público está a liderar depois da abertura de um processo devido à entrega de algumas dezenas de queixas, acompanhadas de pequenos sacos com limalhas recolhidas na povoação, na Guarda Nacional Republicana..Além disso, os moradores vão contratar uma empresa para fazer medições da qualidade do ar e preparam a entrega de uma ação popular contra a Megasa. Esta será a segunda queixa motivada pela alegada poluição atmosférica. A primeira foi entregue no Tribunal de Almada, em fevereiro, pela Associação Terra da Morte Lenta que pediu a suspensão da atividade da SN e uma indemnização de 500 milhões de euros..Do lado da Megasa, a empresa garantiu ao DN, no final de março, que tem "todas as certificações necessárias no domínio da segurança, ambiente, qualidade e sustentabilidade". Na altura declinou também responsabilidades na origem do pó branco encontrado pelos moradores, visto que este não terá origem na produção da empresa, pois não trabalha com material que provoque essa substância..Respondendo às acusações de estar a poluir o ambiente na zona da Aldeia de Paio Pires, a Megasa garantiu ao DN que já investiu 400 milhões de euros na modernização da fábrica e tem em execução até 2020 um plano para aplicar mais 80 milhões de euros em instalações relacionadas com o ambiente, como uma nova central de gases e um novo corte de sucata. Sublinhou igualmente que este ano vai construir uma cobertura de zona de arrefecimento de escória e a instalação de despoeiramento adicional para a nave de Aciaria.