A investigação da Polícia Judiciária à origem do incêndio de Pedrógão Grande, que matou 64 pessoas, estará quase a terminar e mantém o foco na trovoada seca, ou seja, na origem acidental apontada logo na altura, segundo apurou o DN. Isto apesar de ter sido divulgado neste fim de semana o relatório do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que afirma ser baixa a probabilidade de ter havido raios a atingir o solo na hora a que deflagraram as chamas em Pedrógão Grande no dia 17..Na carta que acompanha o relatório de 120 páginas entregue ao governo, o presidente do IPMA, Jorge Miranda, fala numa "probabilidade baixa (mas não nula) da ocorrência de uma descarga nuvem-solo na proximidade do local de deflagração do incêndio". Isto tendo em conta que "a análise da rede de descargas elétricas mostra que as primeiras dez descargas na região ocorreram entre as 14.38 e 14.48, sendo oito descargas intranuvem, cinco das quais validadas pelo sistema, e duas descargas nuvem-solo não validadas". Ou seja, nas horas próximas do incêndio - o primeiro alerta foi dado às 14.43 - o sistema, que tem uma "eficiência" de "cerca de 95%", não regista queda de raios no solo, logo não teria sido esta a causa. Só há registos de descargas a atingir o solo às 17.37, 18.53 e 20.54..A Polícia Judiciária (PJ) não quis comentar as mais recentes conclusões do IPMA, alegando que o inquérito está a decorrer e em segredo de justiça. No entanto, o Expresso adiantou que a investigação aponta agora para que o raio que causou o incêndio não tenha caído diretamente em cima de um castanheiro, mas atingido primeiro cabos de média tensão, com 15 mil volts..As conclusões à origem do incêndio não devem tardar, soube o DN, embora depois fique ainda a faltar a investigação a todo o incêndio, que por causa das mortes será mais demorada. As diligências feitas até agora parecem reforçar os primeiros indícios apontados pelo diretor nacional da PJ logo no dia a seguir ao início do fogo, de que a causa estaria na trovoada seca registada no dia 17 de junho. "A PJ, em perfeita articulação com a GNR, conseguiu determinar a origem do incêndio e tudo aponta muito claramente para que sejam causas naturais. Inclusivamente encontrámos a árvore que foi atingida por um raio", disse, então, Almeida Rodrigues..Embora afastando quase a hipótese de trovoadas, o IPMA reconhece que "o incêndio de Pedrógão deflagrou e desenvolveu--se num quadro meteorológico caracterizado por uma situação de calor e secura extrema, instabilidade atmosférica com ocorrência de trovoadas, sem precipitação na região e rajadas intensas de vento"..Bloco admite que Estado falhou.Os líderes do PCP e do Bloco de Esquerda (BE) voltaram ontem a comentar o incêndio. Catarina Martins admitiu que o Estado falhou. "Temos de ser claros na afirmação de que o Estado falhou para sabermos que temos de fazer melhor. E o Estado falhou porque não fez a prevenção, e porque ainda não são imperativas as ações de defesa da floresta", referiu a coordenadora do Bloco em Salvaterra de Magos. Catarina Martins apontou ainda o dedo à Proteção Civil, que falhou "seguramente" nas comunicações e na coordenação..Também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, voltou a defender uma "averiguação de fundo" com "a máxima urgência" às possíveis falhas durante o combate ao fogo. Lembrando ainda que não se devem esquecer as populações. "Acudir aos que perderam familiares e bens, aqueles que hoje precisam de solidariedade" é outro ponto de atuação que Jerónimo de Sousa considerou "fundamental". "São necessárias medidas urgentes, independentemente dessa investigação e de tudo o que possa ser esclarecido", disse no final de uma visita ao Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu..As populações afetadas pelo incêndio continuam a pedir mais psicólogos, 15 dias depois da tragédia. A angariação de bens continua e neste momento as autoridades locais pedem alimentos não perecíveis e sementes de hortícolas. Ontem, a Marinha deu início à terceira fase da intervenção para passar as responsabilidade às entidades civis e locais.