PJ diz que recluso em Coimbra matou dois homens durante saída precária
Rui Mesquita Amorim, um homem de Viana de Castelo que já foi condenado a três penas de cadeia - 20 anos por um triplo homicídio em 1995, 12 anos e meio por evasão e rapto em 2002, e 11 anos por tráfico de droga em 2019., é agora apontado pela Polícia Judiciária como o autor de mais dois homicídios que terá cometido durante uma saída precária da cadeia. Uma das vítima foi Fernando Borges, conhecido como Trico e que era o alegado líder do Gangue de Valbom, e que Rui Mesquita Amorim conheceu na prisão de Coimbra. O outro assassinado é outro ex-recluso que teria conhecimento do primeiro homicídio. Negócios de droga estiveram na origem do homicídio de Trico. Os corpos das vítimas não foram encontrados.
"A Polícia Judiciária, através da Diretoria do Norte, concluiu e remeteu ao DIAP Regional do Porto um processo de inquérito que se iniciou com a comunicação do desaparecimento, na noite de 01.07.2018, de um cidadão de nacionalidade portuguesa, de 38 anos, residente em Gondomar, com histórico criminal e condenações por crimes contra a vida e tráfico de estupefacientes", refere um comunicado da PJ esta quarta-feira emitido.
"A investigação, de muito elevada complexidade, permitiu esclarecer que, para além daquele cidadão, dois dias depois, a 3 de julho de 2018, desapareceu um segundo indivíduo, igualmente de nacionalidade portuguesa, de 42 anos, também com residência no concelho de Gondomar e com condenações a elevadas penas de prisão pela prática de crimes contra a vida", acrescenta.
A PJ diz que foram levadas a cabo "múltiplas e persistentes diligências" durante dois anos que "permitiram concluir que ambos os desaparecidos foram mortos pela mesma pessoa, com a ocultação dos respetivos cadáveres, que não foram localizados".
Foi também possível estabelecer, esclarece a polícia, "um nexo causal entre os dois homicídios, havendo a convicção segura de que a segunda vítima foi morta por conhecer as circunstâncias do desaparecimento e morte da primeira".
Sobre o suspeito, a PJ aponta que "os crimes consumaram-se quando o arguido estava a cumprir pena de prisão no Estabelecimento Prisional de Coimbra, tendo aproveitado uma saída precária de 5 dias para cometer os homicídios dos dois indivíduos, seus conhecidos do ambiente prisional".
"Já na pendência do presente inquérito, o mesmo arguido foi mais uma vez condenado, agora a 11 anos de prisão, pela prática de um crime de tráfico de estupefacientes, consumado no meio prisional, factos com ligações aos dois homicídios agora desvendados por esta investigação", diz o comunicado policial.
Foi através da investigação ao súbito desaparecimento de Fernando Borges que a PJ chegou a este crime de tráfico de droga. Como contou o DN em 2019, a PJ suspeitava do envolvimento de Rui Mesquita Amorim e investigou-o. Acabou por descobrir que usava duas mulheres para colocar a droga no interior da cadeia, onde vendia. Na ordem dos milhares de euros em poucos meses. O recluso foi condenado a 11 anos de prisão, no Tribunal do Porto. Mas o desaparecimento, que a PJ diz ser homicídio, continuava por esclarecer, o que agora sucede.
Rui Mesquita Amorim é um profissional do crime, como o DN relatou em setembro de 2019. Natural de Portuzelo, concelho de Viana do Castelo, este ex-paraquedista de 49 anos que trabalhou depois como segurança na noite tem um longo historial de condenações.
Em 1996 foi condenado a 20 anos de prisão pelos crimes de homicídio de três familiares - os tios, homem e mulher, e um primo, em Vila Fria, Viana do Castelo. Em tribunal nunca explicou o motivo de tão brutal crime, cometido à facada em agosto de 1995, mas os investigadores policiais suspeitavam que existiria um negócio ilícito, provavelmente droga, como móbil. Na altura, os juízes realçaram "a perversidade, malvadez, ferocidade e crueldade".
Mais tarde, quando cumpria pena na cadeia de Vale de Judeus, no dia de Natal de 2001 aproveitou uma ida ao hospital de Vila Franca de Xira para se evadir. Terá partido um dedo propositadamente para seguir para o hospital sem estar algemado. A carrinha celular da Direção Geral dos Serviços Prisionais foi atacada a tiro por três indivíduos e Rui Mesquita Amorim escapou-se.
Em abril de 2002 regressou a Viana do Castelo e, com ajuda de outro homem a quem prometeu 25 mil euros, sequestrou uma família - do seu antigo patrão - com o objetivo de pedir resgate. Libertou-os após ter ficado convencido que iria receber 200 mil euros mas acabou por ser detido pela PJ em Lousada. Por estes factos foi condenado por rapto e extorsão e, em cúmulo jurídico com o crime de evasão e detenção de arma ilegal, apanhou uma pena de 12 anos e seis meses, a cumprir sucessivamente à de 20 anos pelo triplo homicídio.
Recentemente e com ligação a estes dois crimes agora investigados, Rui Mesquita Amorim foi então condenado a 11 anos por tráfico de droga e branqueamento de capitais. Ficou provado que comprava a heroína a Fernando Borges.
Este era conhecido como Trico e considerado o líder do Gangue de Valbom, um grupo de homens jovens originário deste bairro de Gondomar que se destacou há anos por crimes de tráfico de droga e por roubos à mão armada, além de uma tentativa de homicídio de um inspetor da PJ.
Trico tinha cumprido pena de prisão em Coimbra (foi libertado em abril de 2017) onde conheceu Rui Mesquita Amorim. De acordo com relatórios que constam do processo de tráfico de droga, os dois homens encontraram-se várias vezes na Póvoa de Varzim e Viana do Castelo, entre dezembro de 2017 e o início de julho de 2018, sendo a transação de droga o elo que os ligava.
Foi o desaparecimento de Trico que levou a PJ na peugada de Rui Mesquita Amorim. O homem do Gangue de Valbom saiu de casa no dia 1 de julho para se encontrar com Rui e nunca mais foi visto. O seu automóvel foi no dia seguinte encontrado abandonado em Vila do Conde. Nunca mais se soube do paradeiro de Trico.
O caso parece agora desvendado com as suspeitas iniciais da PJ a confirmarem-se. Rui Mesquita Amorim terá assassinado Trico e depois um outro ex-recluso na prisão de Coimbra, embora não se saiba o que fez aos corpos. O relatório foi entregue ao MP que agora deverá proceder a uma acusação contra Rui Mesquita Amorim.