Philadelphia 76ers: o mal-amado Process começa a dar frutos
"Trust the process" ouviram vezes sem conta os adeptos dos Philadelphia 76ers. E, finalmente, após anos e anos de derrotas e recordes negativos, o afamado e mal-amado Process (de reconstrução da equipa) começa a dar frutos: pela primeira vez desde 2012, os Sixers estão apurados para os playoffs da NBA (liga norte-americana de basquetebol).
Nos últimos anos, muito se escreveu sobre as infames estratégias de tanking - processo de autodestruição de uma equipa, para ganhar uma boa posição no draft do ano seguinte (os últimos da tabela têm direito às primeiras escolhas dos jogadores vindos das universidades) e para reduzir a folha salarial e ficar com orçamento livre para contratar estrelas no futuro. E os Philadelphia 76ers tornaram-se a face mais visível desse esquema, que se tornou tão comum na NBA como noutras ligas.
No entanto, agora, os Sixers parecem já ter entrado no caminho da redenção. Ao fim de anos e anos de recordes negativos - 17 desaires no arranque de 2014-15, 28 derrotas consecutivas em 2015-16, 10-72 de registo no final dessa temporada -, ameaçando ou batendo as piores estatísticas da história das ligas profissionais dos EUA, a equipa de Filadélfia iniciou o processo de retoma, celebrando o apuramento para os playoffs. A qualificação foi garantida no domingo à noite (madrugada de ontem em Portugal), após a vitória dos Indiana Pacers sobre os Miami Heat (113-107).
O resultado serviu em simultâneo os interesses de Sixers e Pacers, que se juntaram a Toronto Raptors, Boston Celtics e Cleveland Cavaliers (Este), Houston Rockets e Golden State Warriors (Oeste), na lista de apurados para a fase final da NBA. Mas se a passagem da equipa de Indiana à fase a eliminar já é natural (é a sexta nos últimos sete playoffs), a qualificação da de Filadélfia - 4.ª da conferência, com um registo de 42--30 -, a dez jogos do final da regular season, é muito mais significativa.
Afinal, após muita contestação dos fãs, o lema "Trust the process" (confia no processo), tantas vezes repetido por Sam Hinkie, começou a dar frutos - mesmo que o antigo diretor-geral dos Philadelphia 76ers já lá não esteja para gozar os louros pela reconstrução à base de derrotas que iniciou (deixou o cargo em 2016). Joel Embiid e Ben Simmons, principais produtos do Processo (escolhas dos Sixers nas primeiras rondas do draft de 2014 e 2016, respetivamente), foram os timoneiros nesta fase de redenção.
Na verdade, os frutos tardaram a surgir, devido à praga de lesões que foi abalando o Process. O camaronês Embiid perdeu os dois primeiros anos, devido a uma fratura no pé direito. O australiano Simmons teve o mesmo azar (magoado no pé direito) na temporada de estreia. E, nesta época, Markelle Fultz, primeira escolha do draft de 2017, tem falhado a maior parte dos jogos devido a uma mazela no ombros.
Ainda assim, agora, a juventude de Filadélfia - há ainda Dario Saric (23 anos), Robert Covington (27), T. J. McConnell (26) e Luwawu-Cabarrot (22), apenas com J. J. Redick (33) a destoar da média de idades - vai despontando, sob o comando de Embiid e Simmons. O primeiro, poste de 24 anos, distingue-se com médias de 23,3 pontos e 11,0 ressaltos por jogo. E o extremo, de 21 anos, leva 16,0 pontos, 7,9 ressaltos e 8,0 assistências por partida.
Agora, Brett Brown, o treinador que acompanhou toda a caminhada (77 jogadores e 283 derrotas, desde o início da época 2013-14), já não se contenta com pouco. "Dizer "oh! chegámos aos playoffs" não interessa. Todos queremos mais", afirma o ex-adjunto de Greg Popovich (San Antonio Spurs). Afinal, após anos de reconstrução à base de derrotas, só vitórias (muitas vitórias) podem provar a validade do Process.