Perdidos no espaço com Hugh Laurie ao comando

Do mesmo criador de <em>Veep</em>, chega nesta segunda-feira à HBO <em>Avenue 5</em>, uma série cómica de ficção científica que ensaia um negócio do futuro: o turismo espacial.
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Aulas de ioga, buffets coloridos, salas de massagem com pedras quentes, lições de astronomia. Um pouco de tudo isto pode ver-se a bordo da gigantesca e sofisticada nave espacial Avenue 5, que se encontra na sua viagem turística inaugural de oito semanas em torno de Saturno. O capitão, um carismático Hugh Laurie (completamente "curado" da misantropia de Dr. House), espalha simpatia entre a tripulação e os passageiros, enquanto a sua própria imagem surge nos ecrãs publicitários da embarcação, que sublinham a mensagem de segurança e conforto garantidos por uma equipa de topo.

Tudo parece correr lindamente no interior deste cruzeiro de luxo que tem como proprietário um excêntrico milionário interpretado por Josh Gad - versão rechonchuda e loira oxigenada de Elon Musk? - qual criança mimada a viver o sucesso do seu transporte interplanetário, ao mesmo tempo que desafia as verdades científicas com afirmações hilariantes baseadas na sua superioridade intelectual... Sim, não há muito, ou quase nada, para se levar a sério neste Avenue 5, a nova série original da HBO escrita por Armando Iannucci, o nome por detrás da cortante sátira política Veep, que aqui transforma o registo vistoso da ficção científica numa comédia malcriada e com oscilações de gravidade.

Precisamente, será uma "falha" de gravidade, causada por um erro humano, que vai operar um pequeno desastre nesta viagem tão bem orquestrada, pondo à prova a suposta extrema competência da tripulação (com um responsável pelos serviços dos passageiros niilista...). Mantendo a aparência de profissionalismo, esta terá de lidar com a súbita hipótese de ficarem a fazer turismo no espaço durante muito mais tempo do que o previsto: de oito semanas, a perspetiva passa para anos, e com isso vem a gestão dos ânimos dos clientes abastados, cada um com as suas manias.

Entre eles, salta à vista uma líder natural (Rebecca Front), porta-voz da indignação de todos os passageiros e especialista em manipular as atenções, que acaba por se converter numa excelente ajuda para o capitão, que se sente secretamente em apuros. Porquê? Talvez porque o empreendimento aparatoso não seja tão fiável como o discurso publicitário fazia crer. E sarilhos é, sem dúvida, o que se quer.

Apesar de este arranque não ter grandes efeitos secundários - em comparação com a energia das anteriores produções do criador da série -, Avenue 5 começa a ganhar algum ritmo de comédia-sem-freio ao longo dos seus ligeiros episódios de meia hora, explorando o absurdo da circunstância e observando a fauna endinheirada que gera humor fácil a todo o instante. O argumento cáustico de Iannucci tem um olhar particularmente incisivo sobre a dinâmica nervosa dos "irresponsáveis no comando", corroendo o mais possível a ideia e a fantasia do lazer futurista no sistema solar. Aqui, o conceito está apenas ao serviço de uma sátira em movimento, e a parte gloriosa da ficção científica tem qualquer coisa de divertida fachada.

Uma coisa é certa: Hugh Laurie, de farda e barba, é o homem certo para gerir um impasse interplanetário... mesmo que na verdade não seja.

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