O impacto da pandemia na vida laboral das pessoas foi mais severo do que o previsto pela Organização Internacional do Trabalho e traduz-se na perda de horas de trabalho e de emprego. De acordo com a 5ª edição da ILO Monitor: COVID-19 e o mundo do trabalho, verificou-se uma queda de 14% no horário global de trabalho durante o segundo trimestre de 2020 (abril, maio e junho), o equivalente à perda de 400 milhões de empregos a tempo completo. Este valor constitui um aumento acentuado em relação às previsões de 27 de maio, que previa uma queda de 10,7% (305 milhões de empregos). Os novos números refletem o agravamento da situação em muitas regiões nas últimas semanas, especialmente nas economias em desenvolvimento. Por regiões, as perdas de tempo de trabalho no segundo trimestre foram as seguintes: Américas (18,3%), Europa e Ásia Central (13,9%), Ásia e Pacífico (13,5%), Estados Árabes (13,2%) e África (12,1%). .A perda de horas de trabalho em todo o mundo torna assim a recuperação altamente incerta no segundo semestre do ano e não será suficiente para voltar aos níveis pré-pandemia. A OIT alerta mesmo que "existe um risco de continuar a perda de empregos em larga escala"..O resultado a longo prazo dependerá da trajetória futura da pandemia e das opções e políticas governamentais, mas os especialistas da OIT traçaram três cenários possíveis até ao final do ano. O primeiro pressupõe uma recuperação da atividade económica de acordo com as previsões existentes, o levantamento das restrições do local de trabalho e a recuperação do consumo e do investimento. Este cenário projeta uma redução nas horas de trabalho de 4,9%, equivalente a 140 milhões de empregos a tempo completo, por comparação com o quarto trimestre de 2019..Já o cenário pessimista pressupõe uma segunda vaga da pandemia e o retorno de restrições que retardariam significativamente a recuperação. A consequência seria a perda de 340 milhões de empregos a tempo completo. Mas nem tudo é mau nas projeções da OIT. O cenário otimista pressupõe que as atividades dos trabalhadores sejam retomadas rapidamente, aumentando a criação de empregos e a perda de emprego fique nos 34 milhões..Desigualdades de género no trabalho exacerbadas.O painel constatou ainda que as mulheres trabalhadoras foram mais afetadas pela pandemia. Os "modestos progressos alcançados na igualdade de género realizados nas últimas décadas" podem assim ter sido perdidos. A desigualdades de género no trabalho foram exacerbadas por culpa da sobre representação das mulheres em alguns dos setores económicos mais afetados pela crise, como o alojamento, a restauração, o comércio e a produção. Globalmente, quase 510 milhões - 40% de todas as mulheres empregadas - trabalham nos quatro setores mais afetados, em comparação com 36,6% dos homens. As mulheres também dominam nos setores de trabalho doméstico e de assistência social e de saúde, onde correm maior risco de perder o seu rendimento e de infeção e transmissão, e também são menos propensas a ter proteção social. A distribuição desigual do trabalho não remunerado também piorou durante a crise, exacerbada pelo encerramento de escolas e serviços de apoio. Ou seja as mulheres trabalharam ainda mais em casa. Para minimizar o impacto da luta contra o coronavírus na vida laboral, a OIT recomenda que "o justo equilíbrio entre as intervenções da saúde e económicas e entre as intervenções sociais e políticas". Proteger e promover as condições dos grupos vulneráveis, desfavorecidos e mais afetados e garantir a solidariedade e o apoio internacionais, especialmente para os países emergentes e em desenvolvimento, são algumas das recomendações. "As decisões que adotamos agora terão eco nos próximos anos e para além de 2030. Embora os países estejam em diferentes estágios da pandemia e já muito tenha sido feito, precisamos de redobrar os nossos esforços, se quisermos sair desta crise em melhor forma do que quando ela começou", afirmou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.