A informação surgiu no Wall Street Journal. Segundo documentos classificados dos serviços secretos dos Estados Unidos, a China pretende criar a primeira base militar no Oceano Atlântico na Guiné Equatorial, controverso membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. O vice-presidente e filho do autocrata Teodoro Obiang, Teodoro Nguema, disse que não há acordo "por enquanto", enquanto o regime chinês desmentiu o projeto..Os Estados Unidos mostram-se preocupados ante o cenário de a China, país que conta com largos anos de investimentos no continente africano, estabelecer a sua segunda base fora do território, depois do Djibuti, em 2017. Ao que as fontes do Journal dizem, as primeiras informações de que Pequim estava a sondar o regime controlado pela família Obiang remontam a 2019 e então um enviado da administração Trump visitou o país, "mas a abordagem aparentemente deixou os Obiangs incertos sobre a seriedade com que os EUA levaram as aspirações militares da China"..DestaquedestaqueSegundo Pequim, Teodoro Obiang terá dito a Xi Jinping que a China é o "parceiro estratégico mais importante" da Guiné Equatorial..Em outubro último, foi a vez do vice-conselheiro da segurança nacional Jon Finer visitar Malabo e, desta vez, a mensagem não foi ambígua: "No âmbito da nossa diplomacia para abordar questões de segurança marítima, deixámos claro à Guiné Equatorial que certas medidas potenciais envolvendo a atividade [chinesa] no país levantariam preocupações de segurança nacional", disse um alto funcionário norte-americano.."Ter navios militares chineses no Atlântico representa uma nova fase de competição estratégica. Pode ser que a China simplesmente diga, "se os EUA enviarem os seus porta-aviões para o Pacífico Ocidental, a China pode enviar os seus navios para o Atlântico", comentou à TRT Ioannis Koskinas, investigador do think tank New America..Uma semana depois do encontro de Finer com Teodoro pai e Teodoro filho, o presidente chinês Xi Jinping manteve uma conversa com o seu homólogo, no poder desde 1979. Em resultado, o governo chinês disse que Obiang descreveu a China como "o parceiro estratégico mais importante" daquele país que se tornou independente de Espanha em 1968..40 anos de Obiang na presidência marcados por punho de ferro, corrupção e desigualdade.Em reação à notícia do Wall Street Journal, o vice-presidente Teodoro - notícia por ter sido condenado em França, em 2017, por desvio de fundos, e visto a sua frota de 25 carros de luxo apreendida e leiloada, em 2019, na Suíça - usou o Twitter para se mostrar recetivo à melhor oferta entre Pequim e Washington. "A China é um modelo de país amigo e um parceiro estratégico mas, por enquanto, não existe tal acordo. Recorde-se também que a Guiné Equatorial é um país soberano e independente e pode assinar acordos de cooperação com qualquer país amigo", escreveu o homem também conhecido como Teodorín..Além da justiça suíça e francesa, também a dos Estados Unidos - país cujas empresas exploram a principal riqueza equato-guineense, o petróleo - se atravessou à frente do herdeiro do presidente. Em 2014, chegou a acordo com o Departamento de Justiça e entregou 34 milhões de dólares às autoridades norte-americanas. Em setembro, o mesmo departamento anunciou que iria canalizar parte desse valor em ajuda médica e vacinas contra a covid, contornando o governo de Malabo..Através do Global Times, caixa de ressonância em inglês do Partido Comunista Chinês, o regime cita um perito militar, sob anonimato, que classifica o teor da notícia como "não verdade". Este afirma que os EUA têm repetido notícias similares sobre a construção de bases militares chinesas noutras localizações com o objetivo de propagar a teoria da "ameaça da China", quando Pequim tem uma base e os EUA "possuem quase 800 bases militares em mais de 80 países". Logo de seguida, uma mudança de tom: "É normal que a China construa algures uma base de apoio por razões humanitárias de salvamento", enquanto os EUA estão a "cercar a China em múltiplas frentes, sejam elas política, económica ou militar"..A materializar-se uma base na costa ocidental africana, o golfo da Guiné é uma escolha lógica, como escreve a Economist, porque "a ditadura familiar na Guiné Equatorial é do género com que a China é bem-sucedida em fazer negócios em África: brutal, corrupta e em desordem financeira", por um lado; por outro, porque naquela região a pirataria é um problema real tal como no golfo de Adém, não longe da base chinesa do Djibuti - ao lado de uma francesa e de outra norte-americana. E a Guiné Equatorial é uma escolha também lógica porque tem um porto de águas profundas na maior cidade continental do país, Bata, porto esse construído e financiado pelos chineses..cesar.avo@dn.pt
A informação surgiu no Wall Street Journal. Segundo documentos classificados dos serviços secretos dos Estados Unidos, a China pretende criar a primeira base militar no Oceano Atlântico na Guiné Equatorial, controverso membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. O vice-presidente e filho do autocrata Teodoro Obiang, Teodoro Nguema, disse que não há acordo "por enquanto", enquanto o regime chinês desmentiu o projeto..Os Estados Unidos mostram-se preocupados ante o cenário de a China, país que conta com largos anos de investimentos no continente africano, estabelecer a sua segunda base fora do território, depois do Djibuti, em 2017. Ao que as fontes do Journal dizem, as primeiras informações de que Pequim estava a sondar o regime controlado pela família Obiang remontam a 2019 e então um enviado da administração Trump visitou o país, "mas a abordagem aparentemente deixou os Obiangs incertos sobre a seriedade com que os EUA levaram as aspirações militares da China"..DestaquedestaqueSegundo Pequim, Teodoro Obiang terá dito a Xi Jinping que a China é o "parceiro estratégico mais importante" da Guiné Equatorial..Em outubro último, foi a vez do vice-conselheiro da segurança nacional Jon Finer visitar Malabo e, desta vez, a mensagem não foi ambígua: "No âmbito da nossa diplomacia para abordar questões de segurança marítima, deixámos claro à Guiné Equatorial que certas medidas potenciais envolvendo a atividade [chinesa] no país levantariam preocupações de segurança nacional", disse um alto funcionário norte-americano.."Ter navios militares chineses no Atlântico representa uma nova fase de competição estratégica. Pode ser que a China simplesmente diga, "se os EUA enviarem os seus porta-aviões para o Pacífico Ocidental, a China pode enviar os seus navios para o Atlântico", comentou à TRT Ioannis Koskinas, investigador do think tank New America..Uma semana depois do encontro de Finer com Teodoro pai e Teodoro filho, o presidente chinês Xi Jinping manteve uma conversa com o seu homólogo, no poder desde 1979. Em resultado, o governo chinês disse que Obiang descreveu a China como "o parceiro estratégico mais importante" daquele país que se tornou independente de Espanha em 1968..40 anos de Obiang na presidência marcados por punho de ferro, corrupção e desigualdade.Em reação à notícia do Wall Street Journal, o vice-presidente Teodoro - notícia por ter sido condenado em França, em 2017, por desvio de fundos, e visto a sua frota de 25 carros de luxo apreendida e leiloada, em 2019, na Suíça - usou o Twitter para se mostrar recetivo à melhor oferta entre Pequim e Washington. "A China é um modelo de país amigo e um parceiro estratégico mas, por enquanto, não existe tal acordo. Recorde-se também que a Guiné Equatorial é um país soberano e independente e pode assinar acordos de cooperação com qualquer país amigo", escreveu o homem também conhecido como Teodorín..Além da justiça suíça e francesa, também a dos Estados Unidos - país cujas empresas exploram a principal riqueza equato-guineense, o petróleo - se atravessou à frente do herdeiro do presidente. Em 2014, chegou a acordo com o Departamento de Justiça e entregou 34 milhões de dólares às autoridades norte-americanas. Em setembro, o mesmo departamento anunciou que iria canalizar parte desse valor em ajuda médica e vacinas contra a covid, contornando o governo de Malabo..Através do Global Times, caixa de ressonância em inglês do Partido Comunista Chinês, o regime cita um perito militar, sob anonimato, que classifica o teor da notícia como "não verdade". Este afirma que os EUA têm repetido notícias similares sobre a construção de bases militares chinesas noutras localizações com o objetivo de propagar a teoria da "ameaça da China", quando Pequim tem uma base e os EUA "possuem quase 800 bases militares em mais de 80 países". Logo de seguida, uma mudança de tom: "É normal que a China construa algures uma base de apoio por razões humanitárias de salvamento", enquanto os EUA estão a "cercar a China em múltiplas frentes, sejam elas política, económica ou militar"..A materializar-se uma base na costa ocidental africana, o golfo da Guiné é uma escolha lógica, como escreve a Economist, porque "a ditadura familiar na Guiné Equatorial é do género com que a China é bem-sucedida em fazer negócios em África: brutal, corrupta e em desordem financeira", por um lado; por outro, porque naquela região a pirataria é um problema real tal como no golfo de Adém, não longe da base chinesa do Djibuti - ao lado de uma francesa e de outra norte-americana. E a Guiné Equatorial é uma escolha também lógica porque tem um porto de águas profundas na maior cidade continental do país, Bata, porto esse construído e financiado pelos chineses..cesar.avo@dn.pt