PCP critica greve motivada por "obscuros objetivos políticos"
O PCP afirma-se solidário com as "justas reivindicações" dos motoristas de mercadorias, mas isso não significa um apoio à greve que deve iniciar-se na próxima segunda-feira, por tempo indeterminado. Pelo contrário. Para o partido liderado por Jerónimo de Sousa, esta greve é convocada com "uma argumentação que, instrumentalizando reais problemas e descontentamento dos motoristas, é impulsionada por exercícios de protagonismo e por obscuros objetivos políticos e procura atingir mais a população que o patronato". Os promotores desta ação, prossegue o PCP, dispõem-se a que a greve seja "instrumentalizada para a limitação do direito à greve".
A acusação do PCP surge no mesmo dia em que o DN avança que o porta-voz e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) vai ser o cabeça de lista por Lisboa do Partido Democrático Republicano (PDR), liderado por Marinho e Pinto, às próximas eleições legislativas.
E foi precisamente pelo caminho da limitação do direito à greve que seguiu o Governo, prossegue o comunicado do partido, que atira diretamente ao executivo liderado por António Costa.
"A decisão anunciada pelo Governo quanto aos serviços mínimos e outros desenvolvimentos aproveita estes factos, e a condução que tem sido imprimida, para introduzir limitações no direito à greve, suscetíveis de serem invocadas de uma forma mais ampla", criticam os comunistas, que acusam também o Governo de não ter agido em defesa dos direitos dos trabalhadores "face ao comportamento ilegal do patronato". É "lamentável que não o tenha feito e que mantenha a Autoridade para as Condições Trabalho inativa e mesmo cúmplice".
Recorde-se que o Governo decretou serviços mínimos entre os 50% e os 100%. Neste último caso estará o abastecimento destinado à REPA - Rede de Emergência de Postos de Abastecimento, portos, aeroportos e aeródromos que sirvam de base a serviços prioritários, o abastecimento para instalações militares, serviços de proteção civil, bombeiros e forças de segurança. Igualmente abrangido fica o transporte de medicamentos e todos os bens essenciais destinados ao funcionamento dos hospitais e centros de saúde.
Para o PCP - que nunca se refere em específico aos motoristas de matérias perigosas - "o que se impõe é o cumprimento do Contrato Coletivo de Trabalho em vigor, o prosseguimento das negociações este ano, melhorando os salários e os direitos dos motoristas, para a sua entrada em vigor em Janeiro de 2020, sem prejuízo da negociação a prosseguir para os anos seguintes"
E alerta os motoristas para que se unam na defesa dos seus interesses, "não se deixando arrastar para situações que os podem conduzir à derrota num momento em que estão garantidos progressos e podem ser assegurados novos avanços". "Impõe-se combater os propósitos daqueles que pretendem aproveitar a convocação desta ação para limitar o direito à greve", conclui o comunicado.