No CDS-PP, partido que desapareceu do Parlamento nas últimas legislativas, o desaire eleitoral teve logo uma imediata consequência: onze funcionários que trabalhavam para o partido no grupo parlamentar teriam de ser despedidos..Pedro Salgueiro, o assessor de imprensa, foi transferido do grupo parlamentar para a sede nacional, sendo agora um dos poucos sobreviventes da razia causada pela estrondosa derrota obtida sob a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos..Quanto aos restantes despedimentos, o secretário-geral do CDS-PP, Pedro Morais Soares, mostra-se parco nas palavras. Está a ser implementado um plano de reestruturação mas os seus contornos exatos não são revelados. O novo líder, Nuno Melo, dispensou ter um ordenado enquanto tal, bastando-lhe o vencimento de eurodeputado. E o partido mantém-se agarrado ao palacete do Largo do Caldas, em Lisboa, arrendado ao Patriarcado, onde está a sede nacional..Há muito que a Igreja dá sinais de querer reaver o edifício, com intenções de o vender, como fez, por vários milhões de euros, com a sede da Rádio Renascença no Chiado. Mas não está fácil. Entretanto, o Chega fez saber que estaria disposto a dar sete milhões pelo palacete (ou uma renda mensal de cinco mil euros)..Nuno Melo respondeu, irritado, que o partido não tenciona ir embora: aquela é uma sede "de que gostamos muito, com contrato válido e as rendas pagas, de que só sairemos um dia se quisermos, - e não queremos". E lançou suspeitas sobre as origens do dinheiro do partido de Ventura: "Todos conhecemos pessoas que apareceram de repente com maços de notas no bolso, sem que se percebesse sequer bem de onde veio o dinheiro.".Seja como for, o desastre, tendo sido politicamente absoluto, não o foi no capítulo financeiro. Mesmo sem deputados eleitos, o CDS continua a ter financiamento do Estado (porque obteve mais de 50 mil votos). Se na legislatura anterior recebia 646 mil euros/ano, agora receberá 264,4 mil. O corte nas despesas terá portanto de ser nesta proporção..Se a legislatura anterior tivesse sido completa (quatro anos), o Estado teria gasto ao todo em subvenções de funcionamento corrente aos partidos cerca de 55,8 milhões de euros. Porém agora, na atual legislatura (2022-2026), esse valor vai aumentar em 19 milhões de euros, para um total de 74,9 milhões..O que explica este aumento da despesa pública é o aumento do IAS (Indexante dos Apoios Sociais), em função do qual é atribuída a subvenção pública. Mas o que o explica também é o facto de o número total de votantes nas últimas legislativas ter aumentado face ao de 2019 (passou de 5,2 milhões para 5,5 milhões e cada partido recebe 1/135 avos do IAS por cada voto)..Entre os derrotados das eleições, há situações diferentes. No CDS foi o que se viu; o BE também vai perder bastante (recebia anualmente 1,4 milhões de euros e passa a receber 725 mil euros); já no PAN a quebra será de 508,8 mil euros/ano para 261,4 mil..Quanto ao PCP, a situação é diferente. Tirando o desaparecimento do PEV - que agora passa a funcionar dependendo exclusivamente dos donativos e da ajuda do PCP - os comunistas nem perderam muito (comparando com outros partidos)..Recebiam 809,4 mil euros/ano na legislatura 2019/2022 e passam a receber agora 708,5 mil. O grupo parlamentar da CDU (PCP+PEV foi reduzido a metade) mas, na verdade, isso não resultou de uma perda correspondente em número de votos (foi de um terço, de 332,4 mil para 238 mil). Assim, a quebra no financiamento público foi inferior à perda em representação parlamentar..O partido não fala sobre as consequências internas desta redução no financiamento mas sabe-se que o corpo de funcionários do grupo parlamentar (que passou de dez para seis deputados) encolheu. Além do mais, o partido tem sempre a Festa do "Avante!". E este ano, presumivelmente já liberta dos constrangimentos do covid em termos de lotação máxima permitida, é de esperar que a receita aumente bastante. O que se perde de um lado entra por outro..Já no Bloco de Esquerda, o plano passa por despedir funcionários e fechar sedes. Basicamente, o partido tem de reduzir para metade as despesas (porque perdeu metade dos votos, passando de 500 mil em 2019 para 244 mil nas legislativas do passado dia 30 de janeiro)..O corpo de funcionários ascendia no total a quase cem e agora o objetivo é que fique em metade. Mas, ao mesmo tempo, todas as estruturas orgânicas do partido - o Esquerda.net, a secção de propaganda, etc - serão mantidas em funcionamento..Como? Basicamente com menos funcionários mas com mais voluntariado militante. Um partido não é como uma empresa. Se uma empresa despede trabalhadores, não surgem em seu lugar voluntários que os substituam gratuitamente. Mas num partido pode não ser bem assim. O funcionamento ressente-se, a produtividade não é evidentemente a mesma - mas, à custa da militância, as perdas operacionais podem ser menores do que as financeiras. joao.p.henriques@dn.pt