Acreditemos na sageza e na presciência do Presidente da República. "Ou há um documento escrito pelo senhor ministro das Finanças em que ele defende uma posição diferente da posição do primeiro-ministro ou não há. Se não há é porque ele tinha a mesma posição do primeiro-ministro, para mim é evidente." E se o senhor Presidente está descansado, ficamos nós também descansados? Não..Antes de mais, porque não precisamos de papéis assinados para concluir que: 1) houve negociação entre Domingues e Centeno (e Costa); 2) o governo cedeu em tudo o que lhe foi exigido porque queria ter uma equipa de luxo à frente da CGD; 3) António Domingues contratou um escritório de advogados que redigiu as alterações à lei necessárias à sua contratação; 4) o governo aprovou, sem mais, essas alterações à lei. Por outras palavras, temos todos os dados para saber que Mário Centeno não falou verdade quando enviou a resposta à CPI, dizendo que "inexistem" comunicações com Domingues, a acertar os detalhes da contratação. Existem. E-mails e cartas. Mas, aparentemente, nada com a assinatura do ministro a anuir às condições propostas por Domingues. Temos o cheiro a pólvora, a bala, o buraco e os estragos feitos por ela, mas falta-nos a arma fumegante. É quanto baste, em política, para que fique tudo na mesma..E podemos esperar deste novo episódio algo mais do que um tropeção político para Mário Centeno? Não, não creio. Primeiro porque não deverá existir o tal papel assinado (Marcelo dificilmente arriscaria dizer o que disse sem certezas), depois porque o ministro das Finanças é, a esta altura, um ativo demasiado importante para António Costa..Coisas verdadeiramente importantes: como é que um candidato a presidente da CGD contrata uma consultora para desenhar o plano de reestruturação, quando ainda está sentado na vice-presidência de um banco da concorrência? Ou como é que esse candidato consegue convencer o Estado de que o melhor mesmo é pôr o escritório de advogados que o representa a ele a redigir alterações à lei desenhadas à medida? Demos as voltas que dermos e, por estes dias, tudo aponta para um Estado frágil e para uma regulação inexistente.