O aumento da incidência do número de cancros da pele não é um exclusivo de Portugal, é uma tendência mundial que o dermatologista Osvaldo Correia explica com o facto de ter vindo a crescer nas últimas décadas o número de horas e de dias em que as pessoas passam expostas ao sol em atividades recreativas, lúdicas, desportivas ou profissionais.."Muitas vezes, nas horas proibidas e sem a adequada proteção. Mesmo em dias com temperaturas amenas, a partir de maio, o índice ultravioleta é normalmente elevado ou muito elevado e o risco de queimadura solar é maior, sobretudo neste ano, em que as pessoas estiveram mais confinadas e a exposição súbita será um fator de risco adicional", alerta o presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC), que explica que a pele tem memória e grava todas as agressões às suas células, que podem favorecer os vários tipos de cancro da pele: carcinomas basocelular e espinocelular e melanoma.."A pele é como um conta-quilómetros e cada um tem uma capacidade de quilometragem diferente. Uma pele clara, sardenta, mais reativa tem uma quilometragem menor do que uma pele morena", diz o médico, esclarecendo que se a primeira é mais vulnerável e precisa de proteção mais elevada, a segunda não está livre de perigo. "Pode ter maior quilometragem, mas tem de se proteger senão também terá problemas.".Para sensibilizar as populações para os riscos que correm e a forma de os prevenir foi criado o Dia do Euromelanoma, Dia dos Cancros de Pele, que é assinalado desde há 21 anos no mês de maio, com campanhas de informação e rastreios gratuitos em todo país..Neste ano, a pandemia de covid-19, e as medidas de contenção e proteção a que obriga, levou a APCC reformular a estratégia, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV) e com o apoio da Direção-Geral da Saúde, apelando ao autoexame, no sentido de identificar lesões suspeitas de cancros da pele. Em caso de dúvida, a pessoa deve recorrer ao médico assistente que terá possibilidade de efetuar o adequado rastreio e, se necessário, pedido de teleconsulta com imagens aos Serviços de Dermatologia de todo o país..O site da APCC explica pormenorizadamente como deve ser feito o autoexame e o pedido de rastreio e disponibiliza toda a informação necessária não só para identificar os vários tipos de cancro da pele como para os prevenir.."A luz e o sol são muito importantes para a saúde física e mental, mas têm que ser usufruídos de forma saudável, e o site a APCC tem vários folhetos informativos e uma nova edição do livro do Zé Pintas, para as crianças, que explicam tudo. Mas fundamental é que o diagnóstico precoce do cancro cutâneo seja feito porque facilita o tratamento e torna possível a cura", diz Osvaldo Correia, congratulando-se com o número cada vez mais elevado de diagnósticos precoces. ."As pessoas estão mais atentas e é mesmo preciso estar atento porque o cancro da pele avançado ainda mata, apesar das novidades terapêuticas. Quinze por cento dos melanomas são fatais", diz..A pandemia de covid-19 parece ter feito esquecer a existência de outras doenças e essa é uma das preocupações da APCC neste ano, daí a insistência para que façam o autoexame, todos, mas particularmente aqueles que "têm antecedentes pessoais ou familiares de cancro de pele, que têm a pele mais clara ou que já apanharam escaldões ao longo da vida, que não deviam, mas utilizaram solários [comprovadamente indutores das várias formas de cancros da pele], que têm profissões ao ar livre ou praticam atividades desportivas de exterior".."O que queremos é que, neste dia 20 de maio, as pessoas se lembrem de que é o mês de fazer o autoexame. Ainda por cima, estes tempos de confinamento permitiram que estivessem mais em família e com a ajuda de um familiar é mais fácil. Tiram fotografia dos sinais suspeitos com o telemóvel, se têm dúvida enviam para o médico assistente, que encaminhará para o dermatologista, se existir suspeita. Nós, em dermatologia, sobretudo nas lesões dúbias, temos o recurso da dermatoscopia, que é um sistema de ampliação que pode tornar a imagem de 10 a 80 vezes maior e isso permite identificar lesões que justificam extração ou não", explica o dermatologista Osvaldo Correia, que lembra a regra do ABCDE (ver abaixo), com especial atenção ao E, de evolução.."Dois terços dos casos de melanoma começam com uma lesão pequena que cresce e se torna assimétrica e irregular. É preciso estar atento à evolução, àquela escama ou ferida que não cicatriza, por exemplo, sobretudo em zonas que estão muito tempo expostas ao sol, como o couro cabeludo, as orelhas, o nariz, o rosto ou o dorso das mãos. Isto é particularmente importante para os trabalhadores ao ar livre", diz.."Não queria deixar de partilhar uma nota de esperança para quem tem cancro cutâneo avançado. Existem hoje novos fármacos e terapêuticas que atuam diretamente em moléculas que estão relacionadas com a progressão do cancro, nomeadamente na sua metastização, e a bloqueiam. Mas isso não nos deve fazer baixar a guarda, porque não são eficazes em todos os casos nem estão acessíveis a todos. A aposta tem de continuar a ser na prevenção e no diagnóstico precoce. Estes é que salvam vidas", termina Osvaldo Correia..Os três principais tipos de cancro da pele.Melanoma É o tipo menos frequente de cancro da pele, mas também o mais perigoso. Pode afetar pessoas de qualquer idade, ao contrário dos outros tipos, que são mais comuns nos idosos..Apresenta-se como um "sinal" muito escuro, que desenvolveu bordos irregulares ou cores diferentes ao longo do tempo, ou como uma protuberância de crescimento rápido, rosa ou avermelhada..Pode surgir de um "nevo" atípico que se modificou ou como uma lesão "de novo" sobretudo em pele com muitos "nevos" ou "lentigos" (manchas solares parecidas com sardas) ou em pele com antecedentes de queimaduras solares..Pode difundir-se rapidamente sob a forma de metástases, pelo que é necessário o tratamento cirúrgico imediato..Se encontrar dois ou mais destes sinais de alerta, não perca tempo. Consulte o seu médico imediatamente, e se houver dúvida consulte o seu dermatologista..Carcinoma basocelular Este é tipo mais comum de cancro da pele, mas também o menos perigoso..Apresenta-se tipicamente como um nódulo elevado, da cor da pele, com bordos brilhantes e aspeto perolado, uma mancha ou ferida que não cicatriza ou uma protuberância ligeiramente dura e rugosa que cresce lentamente ao longo do tempo..Se deixado sem tratamento, pode ulcerar e invadir os tecidos mais profundos..Carcinoma espinocelular É o segundo tipo de cancro da pele mais comum..Ocorre em áreas de pele que tenham tido uma acentuada exposição ao sol, tais como a face, couro cabeludo e dorso das mãos..Apresenta-se como um nódulo duro que pode crescer rapidamente e tornar-se ulcerado e exsudativo..Pode difundir-se rapidamente para os gânglios e internamente (metástases), sobretudo em lesões mais avançadas localizadas nos lábios, orelhas, mãos e pés, ou em indivíduos imunodeprimidos..O tratamento cirúrgico atempado para remover as lesões é essencial..Cuidados a ter na exposição solar.» Saiba que se expõe aos raios ultravioleta (UV) não só quando apanha sol na praia, mas também praticando um desporto ao ar livre, fazendo jardinagem ou simplesmente caminhando ao sol..» A exposição solar deve ser cuidadosa, evitando as horas de maior intensidade..» Reduza ao máximo as suas atividades exteriores entre as 12h e as 16h (antes e depois do "meio dia solar")..» Use um chapéu, uma camisa ou t-shirt de cor escura e óculos quando estiver ao sol..» Se estiver muito tempo exposto ao sol, por razões profissionais ou lúdicas, utilize manga comprida que cubra os antebraços..» Exponha-se gradualmente ao sol, pois a pele necessita de tempo para se adaptar..» Uma t-shirt molhada no corpo pode deixar passar os raios ultravioleta..» 30 minutos antes de ir para a praia ou piscina aplique um creme protetor com um fator de proteção igual ou superior a 30. Renove as aplicações de 2 em 2 horas e após o banho, mesmo que o protetor seja à prova de água..» Verifique se o protetor que usa tem um fator de proteção elevado tanto contra os raios UVA como UVB. Tenha cuidado com os protetores muito fluidos, "transparentes" ou "em espuma"; podem dar uma falsa sensação de segurança, sobretudo se não forem utilizadas sucessivamente várias camadas na mesma zona de pele..» Conheça a sua pele, efetue um autoexame da pele de 2 em 2 meses. Vigie o contorno, a cor e o tamanho dos seus nevos [sinais]..» Tenha em atenção o reflexo dos raios solares na neve (85%), na praia (20%), na água e na relva (5%). Estar à sombra de um chapéu-de-sol ou toldo não é suficiente para evitar os escaldões..» Com templo nublado não se esqueça do protetor solar, uma vez que os raios são quase tão perigosos como com sol..» Mantenha os bebés longe do sol e ensine a proteção solar às crianças desde muito cedo. No 1º ano de idade, as crianças não devem ser expostas diretamente ao sol. Uma queimadura solar na infância duplica o risco de mais tarde se desenvolver um cancro de pele..» Evite salas de bronzeamento, ou solários, pois os UV aumentam o risco de cancro cutâneo e aceleram o envelhecimento da pele..» Evite queimaduras solares e escaldões..» As pessoas ruivas, as loiras, com sardas e muitos sinais devem proteger-se com maior rigor..» Programe as atividades, ao ar livre para a manhã ou fim da tarde..» É necessário utilizar óculos de proteção, particularmente as crianças e pessoas de olhos claros..» Consumir fruta, legumes e beber muita água é importante para a proteção da pele e o equilíbrio orgânico..» Sinal que modifica, ferida que não cicatriza, é tempo de ser vista..» Estima-se que cerca de 80% da dose de radiação tolerada pela pele se atinge pelos 18 anos..» Proteja a sua pele, os lábios e os olhos do excesso de sol..Que sinais procurar?.• Que sofreram alguma alteração de tamanho, cor e/ou forma.• Têm aspeto diferente dos restantes (conhecido como o sinal "patinho feio").• São assimétricos ou têm bordos irregulares.• São ásperos ou escamosos (às vezes pode sentir-se as lesões antes que elas sejam visíveis).• Têm várias cores.• Dão vontade de coçar.• Sangram ou libertam líquido.• Têm aspeto rosado.• Parecem uma ferida, mas não cicatrizam.ABCDE - sinais de melanoma.Uma vez que o melanoma é particularmente grave, deve estar familiarizado com os sinais a procurar. O ABCDE do melanoma pode ajudá-lo a detetar o melanoma mais cedo:.Assimetria: divida mentalmente o sinal e verifique se os dois lados são iguais. Em caso negativo, procure um médico..Bordos irregulares: verifique se o bordo do seu sinal está irregular..Cor: se a cor do sinal não for uniforme. Pode haver diferentes tonalidades de castanho, preto e por vezes de vermelho, azul e branco..Diâmetro: verifique se o sinal ou mancha está a crescer de forma progressiva. Os melanomas geralmente possuem um diâmetro equivalente a 6 mm..Evolução: verifique alterações recentes de aspeto..Folhetos informativos disponibilizados no site da APCC:.» Como fazer o autoexame?.» Como distinguir lesões benignas, sem risco, de lesões malignas?.» Como suspeitar de lesões pré-malignas, nomeadamente das Queratoses actínicas?.» Como suspeitar da presença dos cancros da pele mais frequentes (carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma?).» Cuidados de proteção solar no desportista.» Cuidados de proteção solar nos trabalhadores ao ar livre.» Livro Educativo sol, pele, cuidados a ter. Nova edição do Livro Zé Pintas: com novas personagens, informação para melhor escolher o protetor solar, a roupa de proteção mais adequada e até como fazer o autoexame em Família. Edição em português e em inglês.