Os jogos não estão feitos

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Esperava-se uma situação complexa como resultado das eleições para as Cortes Espanholas. Contudo, o novo panorama político espanhol não só é complexo como é complicado. Que governo poderemos esperar? Uma improvável coligação dos derrotados (PP e PSOE) implicaria que Mariano Rajoy ou Pedro Sánchez saíssem de cena. Uma coligação do PP com o Ciudadanos de Albert Rivera não é suficiente, pois o seu número conjugado de deputados no Congresso espanhol fica abaixo da fasquia da maioria absoluta (176). Uma "solução à portuguesa" (PSOE, Podemos e Ciudadanos) implicará negociações tortuosas e incertas. Uma coligação PSOE/Podemos, com apoio nas formações mais à esquerda e partidos nacionalistas bascos e catalães (como Felipe González e José María Aznar fizeram no passado) parece ainda tarefa mais penosa. Até porque no seio dos socialistas há muita gente a temer que o líder do Podemos, Pablo Iglésias, apesar de ter o mesmo nome do homem que em 1879 fundou o PSOE, parece querer apenas condená-lo à irrelevância...Para um observador português, todavia, há coisas que são seguras. Primeiro. Mesmo que o projeto europeu fracasse, a Espanha continuará no seu lugar. Será a nossa pequena Europa. Tudo o que aí ocorrer afeta a nossa própria existência. Segundo. O novo Congresso em Madrid permite repensar o futuro da Espanha num quadro mais abertamente federal, que atenue a crispação e afaste o risco de secessão. Sánchez, Rivera, Iglésias, são novos atores capazes de dialogar com um novo rei, que fala a linguagem da sua geração. Terceiro. A Espanha tem um problema idêntico a Portugal: queremos permanecer na zona euro, mas esta deve eliminar a pulsão de morte que a devora. Em tudo isto, e para tudo isto, Mariano Rajoy aparece como um ator que se equivocou no papel, mas que tudo fará para não sair de cena.

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