De que forma os médicos dentistas estão a preparar-se para uma eventual segunda vaga de covid-19? Estamos a acompanhar todas as medidas e recomendações emanadas pelas entidades competentes, nomeadamente do Ministério da Saúde e da Direção-Geral da Saúde (DGS). A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) tem participado nas reuniões preparatórias do período outono-inverno, organizadas pela tutela e, internamente, temos realizado inquéritos aos médicos dentistas para aferir o impacto da pandemia desde o período de retoma da atividade, e perceber as maiores dificuldades sentidas. Estamos também a dinamizar um grupo de trabalho de "reflexão e acompanhamento da covid-19", fazendo um acompanhamento das recomendações e medidas de saúde pública e dando-as a conhecer ao universo dos médicos dentistas..Pode avançar medidas concretas? Temos avançado com várias medidas, como a manutenção e o reforço das medidas emanadas pela DGS, nomeadamente da orientação 022/2020, sobre os Procedimentos para a covid-19 em clínicas, consultórios ou serviços de saúde oral dos cuidados de saúde primários, setor social e privado; aprovisionamento das reservas de equipamento de proteção individual (EPI); recomendação da vacinação da gripe sazonal; estamos a estimular a utilização da aplicação StayAway Covid; estamos a facilitar o estabelecimento de parcerias com laboratórios de análises clínicas para testagem da infeção pelo vírus SARS-Cov-2, com protocolo para membros da OMD (enquanto aguardamos possibilidade de incluir os médicos dentistas em grupo prioritário para a testagem). E ainda a adequação das recomendações no contexto covid para a escovagem dentária nos estabelecimentos de ensino..No caso de uma segunda vaga da pandemia é expectável que as clínicas dentárias voltem a encerrar? Num cenário de grande imprevisibilidade, não há certezas absolutas. Contudo, e após seis meses de vivência nesta crise pandémica, podemos afirmar que estamos mais preparados e que o encerramento não tem razão para se repetir. Os resultados de um inquérito feito a nível nacional demonstram que 99,5% dos médicos dentistas não foram infetados por este novo vírus, o que prova a eficácia das medidas preventivas implementadas e a capacidade por parte dos médicos dentistas e das equipas dos consultórios de medicina dentária em lidar com as adversidades resultantes da exposição a este vírus..Citaçãocitacao"A criação de serviços de urgência em saúde oral são necessários e fundamentais no Serviço Nacional de Saúde.".Sendo os problemas dentários das enfermidades mais comuns em todo o mundo, considera importante a criação de um serviço de emergência da saúde oral? Os problemas e patologias dentárias e orais, quer pela sua prevalência quer pelo seu forte impacto de saúde geral e bem-estar para os indivíduos, demonstram que a saúde oral não é uma área supérflua e é uma necessidade premente da saúde. Razão pela qual, mesmo no período crítico desta pandemia, não se suspenderam tratamentos urgentes ou inadiáveis. A criação de serviços de urgência em saúde oral é necessária e fundamental no Serviço Nacional de Saúde, até porque os atendimentos que existem atualmente ao nível hospitalar não garantem uma resposta adequada..Já alertou para a necessidade de reforçar as linhas de financiamento para a adaptação dos consultórios para se preparem para uma eventual segunda vaga de covid-19. Que respostas tem do governo? As nossas propostas foram apresentadas e sugeridas ao governo. Não temos respostas até à data, mas existem reuniões agendadas com o Ministério da Saúde e esperamos que possa existir evolução nestas pretensões dos médicos dentistas..Disse, a este propósito, que os dentistas não querem "ser apanhados desarmados e impreparados". O que é que isto significa? Os dentistas não estão atualmente preparados? Não é absolutamente seguro ir ao dentista? Há décadas que a medicina dentária está habituada a lidar com o controlo da infeção cruzada perante doenças infetocontagiosas e a covid-19 é mais uma. Sendo verdade que este coronavírus tem características que ainda não são completamente conhecidas, sabe-se já que tem uma virulência particular, constituindo risco para os profissionais de saúde, pelo que os médicos dentistas são obrigados a usar equipamentos especiais, mas que, na prática, são um reforço do que já era utilizado. Os médicos dentistas têm prática do controlo de infeção cruzada e têm prática do controlo da sua proteção e do seu staff e, portanto, são ambientes seguros para os pacientes.."Fomos marginalizados". Metade dos dentistas veem menos seis pacientes por dia.O estudo realizado pela OMD refere que há uma redução de consultas diárias em 70% dos consultórios. A que se deve: à falta de confiança ou a questões económicas por parte dos utentes? A diminuição deve-se exclusivamente a duas razões: por um lado, pela necessidade de aumentar os tempos de consulta, o que levou a uma inerente redução do número de consultas diárias, e, por outro lado, por questões económicas e de redução de investimento..Concorda com o pagamento do equipamento de proteção pelos utentes? É possível estabelecer um preço regulamentar? É mais que compreensível que existam custos inerentes à pandemia. Os EPI representam uma parte desse custo. Sendo a medicina dentária uma profissão liberal, e não tendo os médicos dentistas qualquer apoio para este fim pelo Estado, têm de ser os utentes a suportar estes custos. Todavia, é fundamental que os doentes sejam avisados previamente sobre os custos em questão. Haveria fundamento para uma regulamentação ou indexação de limites máximos a cobrar pelos EPI, caso o Estado tivesse uma participação direta em linhas de apoio para este fim..A quebra na procura dos serviços de medicina oral levou ao encerramento de clínicas? Tem ideia de quantas encerraram e quantos profissionais são abrangidos? Não temos informações do número exato de clínicas que encerraram, mas sabemos que existe cerca de 7% de despedimentos de profissionais na atividade. Este número vai ao encontro do relatório publicado pela Entidade Reguladora da Saúde..Em todo este período pandémico, qual foi a principal dificuldade com que os dentistas se depararam? O período longo de dois meses de suspensão da atividade (com exceção de situações urgentes ou inadiáveis) foi certamente a fase mais difícil e que mais angústia provocou. Mas a escassez de equipamentos de proteção individual e a especulação que se fez sentir nos materiais médicos de proteção foram dificuldades que têm vindo a diminuir com o passar do tempo..Embora seja uma área da medicina muito específica, os médicos dentistas podem participar no combate à pandemia, nomeadamente nos rastreios e acompanhamento de contactos de risco? Podem, certamente, e a OMD já demonstrou essa disponibilidade ao Ministério da Saúde, nomeadamente para as linhas de apoio de informação (SNS 24), para os rastreios, e ainda na vertente burocrática, com a introdução de dados no SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica). Existe ainda o fator de proximidade, com a intervenção do médico dentista na comunidade com um papel de transmissão de conhecimento e informação em benefício das populações. A OMD e os médicos dentistas estão disponíveis, como sempre estiveram, para colaborar no sentido de vencermos esta pandemia.