Orelha Negra: "Não demos a cara para a música falar mais alto"

Hoje no CCB e no dia 30 no Hard Club no Porto, os Orelha Negra apresentam o terceiro disco. Falámos com Sam The Kid
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Sam the Kid, Fred Ferreira, DJ Cruzfader, Francisco Rebelo e João Gomes tardaram em dar a cara pelos Orelha Negra. Em 2010, de cara tapada, lançaram o disco homónimo e em 2012 para o segundo já tiveram direito a subir ao palco do Centro Cultural de Belém (CCB). A nenhum deram título. Agora, o terceiro disco está previsto para abril e quem o quiser ouvir terá mesmo de ir até ao Porto - no CCB já esgotou. Também não será batizado. "Matamo-nos todos para dar títulos às músicas, se pudéssemos também não tinham", diz Sam the Kid.

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O que pode um fã dos Orelha Negra esperar deste disco? Vai ser muito diferente dos dois anteriores?

Não vamos inventar a roda, não vai ser um grande choque sónico ou uma surpresa sem sentido. Vai ser diferente porque tem mais boa música. Queremos fontes e ritmos novos, mas a sensibilidade é a mesma. Ainda ontem estávamos a ensaiar as músicas mais antigas e apercebemo-nos de que eram mais simples. Para quem não é da música o objetivo é que goste e não pense mais nisso, mas malta que sabe um pouco mais vai notar que há construções mais complexas.

As bases das músicas são quase sempre escolhas tuas. Sentes-te o capitão de equipa dos Orelha Negra?

Não, nem pensar. Isso pode ser verdade na função de estar na génese das ideias, mas isso é para facilitar e poupar tempo. Quando trago um sample serve de ponto de partida, concreto e mais eficaz. Se estivermos a ensaiar com instrumentos, a improvisar à procura de uma ideia, perde-se muito mais tempo. Há exceções, A Cura e A Memória não nasceram de samples. Capitão de equipa? O Fred é capitão de equipa no que toca a marcar datas, o Chico é no aspeto sónico e na parte estética do projeto. Todos somos capitães em alguma situação.

Os Orelha Negra não têm o obstáculo de ter letras em português. Isso torna o projeto mais fácil de internacionalizar ou nem pensam nisso?

Da minha parte não ambiciono muito isso. Como trabalhamos com samples, a verdade é que se tiveres um sucesso mundial com um beat do James Brown vão querer dinheiro porque percebem que estás a faturar bem. Por isso, fico satisfeito por estar neste cantinho onde ninguém nos chateia. Temos mais liberdade.

Como se juntaram?

Foi uma consequência da banda que eu, como rapper, levei para a estrada no meu último disco. Começámos a tocar nos meus concertos e nos check sounds já fazíamos muitas destas brincadeiras. Depois foi o Fred que disse: "Marquei um concerto para este dia no Musicbox, agora desenrasquem-se e vamos arranjar um reportório." A função do Fred também é essa. Agora disse que gostava desta data, por ser quase capicua - 16/1/16 - e pronto, vamos ter de fazer um álbum. É assim que trabalhamos, de forma natural, sem vedetas, sem líderes. Sinto-me grato por estar rodeado por estes músicos. Não trocaria ninguém, nem ao nível da amizade nem ao nível do talento.

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Sentem-se melhor em palco ou em estúdio?

Seja em que função for, a minha resposta é estúdio. Mas há uma adrenalina especial em palco. Não me preocupo por as pessoas não saberem bem o que estou ali a fazer, mas requer grande concentração e memória para saber o que faz cada botão e onde está cada sample. A cantar sinto-me mais confortável, não estou tão focado. Quando rimo não tenho de pensar, só preciso de saber como começar, e é quase automático.

No primeiro disco começaram por nem dar a cara, agora vão apresentar o disco ao vivo, mas ainda nem há data de lançamento. É tudo para aguçar a curiosidade aos fãs?

É para fugir às regras, mas hoje até é normal a Beyoncé lançar um disco sem avisar ninguém. Isto pode aguçar o apetite, mas também acho que não faria diferença lançar uma amostra antes. O concerto esgotou e não estava à espera de que acontecesse tão rapidamente. Não quisemos dar a cara para a música falar mais alto e já o conseguimos. Somos contra o star system, o produto é que tem de falar. Depois de saberem quem somos há um carimbo de qualidade e não precisam de ouvir música nova porque sabem que não somos um one hit wonder.

E quando se vai poder ouvir o disco?

Se calhar, daqui a dois meses. Se estivesse pronto, podia ser daqui a duas semanas, mas não está. Ainda não temos prazo-limite, a composição está feita, faltam as misturas e gravar.

Vai ter título ou será como os dois primeiros?

Não vai ter título, vamos manter a cena. Matamo-nos para ter títulos nas músicas e se pudéssemos também não o tinham. Somos cinco, e um título tem de agradar a todos. Por acaso o nome do grupo fui eu que sugeri, mas era uma coisa que tinha anotada há muitos anos como eventual nome para um projeto.

O teu último disco a solo já tem dez anos. Continuas a ser pressionado para fazer outro?

Sim, mas fico contente porque é sinal de que o querem. Não gosto de desculpas, já o podia ter feito mas não fiz. Estou a acabar um álbum com o Mundo Segundo (Dealema) que será uma coisa nova para mim porque nunca fiz um disco com outra pessoa a rimar. Além disso, sei a confiança com que estava no meu último disco a solo e sem essa não vale a pena avançar. Por exemplo, estou há anos a fazer um álbum de beats que está feito, refeito e sempre a ser reestruturado, mas sou muito perfecionista. Quando sair terá de ser intemporal e acho que o Pratica(mente) o é. Esse é o desafio. O objetivo não é fazer um álbum todos os anos para estar na estrada, mas fazer um álbum que dê para andar dez anos na estrada.

Orelha Negra

Hoje, CCB, 21.00 (esgotado)

30 de Janeiro, Hard Club (Porto)

Preço: 15 euros

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