Ordem lança base de dados para grávidas procurarem médicos habilitados
Este ano, um bebé nascia em Setúbal com malformações graves que teriam sido detetadas ainda na gravidez, mas que não foram comunicadas à família. Ficaria conhecido como o "bebé sem rosto". O caso levantou dúvidas sobre a certificação do médico Artur Carvalho, o obstetra que acompanhou a gravidez, colocou em causa toda a classe profissional e levantou preocupações junto das mulheres grávidas. Desde então, têm chegado à Ordem dos Médicos pedidos de "alternativa" por parte de "várias grávidas que estavam a ser seguidas ou tinham exames marcados com o médico alvo de inquérito", conta o bastonário Miguel Guimarães. Agora, a Ordem vai lançar uma base de dados através da qual as mulheres em gestação podem aceder à lista de médicos que estão habilitados para fazer ecografias obstétricas, avança o jornal Expresso.
Ainda de acordo com o semanário, o sistema será lançado no site da Ordem dos Médicos até ao final do ano. Qualquer cidadão poderá aceder, escrevendo o nome do médico que quer verificar. Se esse mesmo nome gerar qualquer resultado, significará que o obstetra tem as competências necessárias para realizar ecografias.
De acordo com o Colégio de Ginecologia-Obstetrícia, apenas 160 a 180 especialistas da rede pública - num universo de 850 - estão aptos para as fazer. O médico Artur Carvalho, investigado pelo caso do "bebé sem rosto" não é um deles. E o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia admite mesmo que há vários médicos a realizar ecografias obstétricas sem a devida competência. "Infelizmente há muitos colegas meus a fazerem ecografia, nomeadamente morfológica - que diagnostica malformações - e que não têm competência para isso. Isso não é uma competência adquirida pelo facto de ter a especialidade, é pós-graduada em relação à especialidade", explicou.
Até que a base de dados seja lançada, a Ordem dos Médicos compromete-se a dar resposta a todos os pedidos que lhe sejam remetidos. Em entrevista ao Expresso, o bastonário, Miguel Guimarães, garante que das questões que lhes têm chegado sobre especialistas "a todas tem sido dada resposta".
Esta terça-feira, o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) anunciou haver indícios de irregularidades na clínica Ecosado, em Setúbal, a mesma onde foram realizadas as ecografias à mãe do bebé que nasceu com malformações graves. Segundo Luís Pisco, a clínica não tinha nem tem qualquer convenção com a Administração Regional de Saúde ou com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas aceitava credenciais de exames de utentes encaminhados pelos serviços públicos.
O médico que está a ser investigado neste caso tinha já várias outras queixas registadas na Ordem dos Médicos, algumas arquivadas. O clínico agora suspenso desempenhava o papel de chefe de serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital de Setúbal há 29 anos.