Ordem dos Médicos alerta: Urgência do Garcia de Orta em risco de ficar sem pediatras em abril
Um pediatra deixou o Hospital Garcia de Orta, em Almada, em fevereiro. Outra médica da especialidade está de licença de maternidade. Uma terceira está grávida e há ainda outro pediatra que deve deixar a unidade hospitalar até ao final do mês de abril. Segundo a Ordem dos Médicos, estas ausências colocam em causa o serviço de urgência pediátrica que pode mesmo chegar a encerrar durante alguns períodos em abril.
"Não é possível ter uma urgência pediátrica aberta sem pediatras. Não é sério e, sobretudo, não é seguro para os mais de 130 doentes que ali acorrem todos os dias", diz Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, em comunicado.
A urgência funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, quase sempre com um único pediatra, muitas vezes o chefe de equipa, o que, no entender da Ordem, "compromete a qualidade e a segurança do serviço prestado", quando "deveria haver pelo menos dois médicos pediatras" (sem contar com o responsável pelo turno). Para além do trabalho da urgência, o pediatra de serviço tem ainda de dar assistência à unidade de internamento de curta duração e à urgência interna dos doentes da enfermaria de pediatria.
A unidade hospitalar assume a ausência de profissionais, dizendo que está a tomar medidas para colmatar a falta de pediatras, tais como apresentar propostas de contratação de dois novos profissionais no imediato (que a confirmar-se só poderá acontecer em maio), esclareceu, em resposta a questões do DN. Até lá, vai contar com o apoio de um médico pediatra através do Protocolo com o Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, de um médico interno de pediatria que iniciará funções dentro de poucos dias e de outro especialista de Medicina Geral e Familiar com experiência pediatria.
"Espera-se que estas medidas, com o ajustamento da escala de Abril em alguns dias, permita colmatar a falta de médicos em quatro ou cinco dias particularmente críticos", refere o Hospital.
A Ordem relembra que alertou para a situação há dois meses tal como o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), mas que o Ministério da Saúde não terá prestado a devida atenção ao caso. "Lamentamos a inação do conselho de administração e o desrespeito que isto demonstra pelos profissionais, pelos pais e pelas crianças", refere o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha.
Na altura, a ministra da Saúde, Marta Temido, reconheceu que o hospital perdeu no último ano "nove pediatras", mas colocou como "fora de questão" a hipótese das urgências encerrarem à noite, indicando que estaria a decorrer um concurso que deveria preencher três vagas no hospital. No entanto, nenhum médico ocupou as vagas "apesar de se terem identificado alguns candidatos interessados e que posteriormente não aceitaram", revela a unidade hospitalar.
Este mês, a ministra aprovou um despacho sobre a substituição de profissionais de saúde ausentes por doença ou licença de parentalidade, no entanto, os médicos não estão contemplados nesta diretiva.