Árbitro do combate de João Carvalho: "Estava cansado, mas manteve as mãos erguidas"
Já foram ouvidas algumas testemunhas no inquérito judicial em Dublin, que vai decidir hoje sobre a causa oficial da morte do praticante de Artes Marciais Mistas (MMA) português João Carvalho, em 2016, também conhecido pela alcunha de "Rafeiro".
De acordo com o jornal The Irish Times, a primeira pessoa a ser ouvida foi o irmão do atleta de 28 anos, que morreu em virtude de lesões cerebrais após o combate.
"Foi algo que ele sempre quis neste desporto, lutar num país diferente. É o que todos os lutadores querem", revelou. Alexandre de Carvalho contou ainda que viu os médicos desligarem a máquina de suporte de vida depois de ter sido declarada a morte cerebral ao irmão.
A médica legista, Marie Cassidy, que procedeu à autópsia do lutador, confirmou, perante o tribunal, que o lutador morreu em resultado de uma hemorragia subdural aguda devido a um trauma com inalação de conteúdo gástrico como fator contributivo - João Carvalho vomitou na sala de assistência médica do local onde decorreu o combate.
O oponente de "Rafeiro", Charlie Ward, que acabou por vencer a luta, também foi ouvido no inquérito. "Foi uma luta difícil, mas todas as lutas são difíceis", disse Ward, revelando que após o combate João Carvalho pediu para tirar uma foto com ele e com Conor McGregor.
O árbitro do último combate do português, Marius Domasat, disse ao Tribunal Coroner de Dublin que João Carvalho esteve sempre consciente e que parecia cansado e desapontado, após a luta, mas aparentemente "bem". Domasat também afirmou que não mudaria nada na forma como arbitrou o combate.
O árbitro disse que ambos os lutadores estavam a ficar cansados no terceiro round. "João pareceu mais cansado do que Charlie. Ele estava cansado, mas manteve as mãos erguidas ", revelou Domosat, que chegou a parar o combate na segunda parte do terceiro round, porque João Carvalho parecia cansado.
João Carvalho sentiu-me mal após a luta e morreu dois dias depois no hospital.
O inquérito judicial continua.
João Carvalho era natural de Almada, onde vivia, e morreu no Hospital Beaumont a 11 de abril de 2016.
O inquérito judicial continua durante o dia de hoje e é um procedimento normal aplicado a todas as mortes súbitas e sem causa natural, pode também determinar responsabilidade aos organizadores ou autoridades, abrindo caminho a uma ação civil para obter uma indemnização.
"O inquérito apenas vai estabelecer a causa da morte. Infelizmente, isto provavelmente não dará qualquer conforto à família para além de um esclarecimento. Após o inquérito, vamos considerar uma ação civil. Acreditamos que esta poderá ser a única opção disponível para a família neste momento", disse à agência Lusa o advogado, Tom O' Reagan.
Apesar de terem expressado manifestações de pesar e solidariedade, lembrou, os promotores do combate não deram qualquer apoio financeiro ou de outro tipo à família, nomeadamente para despesas funerárias.