As instituições do ensino superior estão cada vez mais atentas à imagem que transmitem para o exterior, fundamental para a sua capacidade de atrair alunos estrangeiros. Mas um estudo realizado no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, no âmbito de uma tese de mestrado, mostra que provavelmente estão a concentrar esforços em fazer boa figura nos grandes rankings internacionais, como os que são produzidos pelo Financial Times e pela Universidade de Xangai, e a prestar menos atenção a plataformas mais informais, como redes sociais e sites dedicados. Nestes são partilhadas opiniões e avaliações sobre aspetos que muitas vezes não constam dessas listagens mas que se revelam tão ou mais decisivos na escolha dos estudantes..Num típico ranking internacional, os estudantes têm acesso a informações como indicadores de empregabilidade e salários médios dos diplomados, internacionalização do corpo docente, artigos científicos produzidos e citados e até número de professores e antigos alunos que ganharam prémios Nobel..Mas Carolina Santos, autora desta análise, descobriu - ou confirmou - que essas não são exatamente as informações que mais interessam a quem procura fazer o programa Erasmus ou mesmo uma pós-graduação internacional. Apesar de o universo analisado ter incidido sobre 65 escolas de negócios europeias, incluindo portuguesas (Nova e Católica), os aspetos mais valorizados passam muito mais pelas experiências que os alunos podem esperar viver no local de destino, e na qualidade do acompanhamento que terão, do que pelo mero prestígio académico e científico da instituição.."No estudo, o que se concluiu foi que embora os alunos também tivessem em conta os rankings não era essa a prioridade deles na escolha", conta Carolina Santos. "O ranking é importante, porque a reputação da faculdade e do país já era por si só algo que os influenciava, mas o que tinha mais peso era terem uma experiência multicultural, com alunos de vários países.".A este desejo juntam-se outras preocupações práticas, como "a existência de residências" ou "um campus onde pudessem interagir com várias pessoas". Características que não são exatamente o ponto forte das instituições portuguesas, apesar de as críticas ao país serem em geral "positivas"..A analista de dados acredita que as instituições nacionais e estrangeiras têm consciência da crescente importância destas mais-valias, e até que têm vindo a procurar corresponder. Mas defende também que estas devem divulgar mais esses esforços através dos canais utilizados pelos estudantes: "É importante que as universidades, mais do que saberem o que os alunos procuram, lhes transmitam isto: que têm acomodações, que organizam eventos para estudantes internacionais, que dão aulas em inglês - outra questão muito importante. O que concluímos é que precisam de apostar mais nisso", diz.."Como os estudantes internacionais não têm possibilidade de conhecer pessoalmente as universidades antes de tomarem uma decisão, tendem a confiar nas opiniões online dos ex-alunos para formar a sua própria opinião", reforça João Guerreiro, professor e investigador do ISCTE e orientador desta tese. "As reviews são relevantes para as universidades, não só para estas perceberem a reputação da instituição que os ex-alunos transmitem, mas também para identificar o que é necessário melhorar, tendo em conta as expectativas dos estudantes.".O estudo foi realizado a partir da análise de cerca de duas mil críticas e avaliações deixadas por alunos no iAgora, uma plataforma online que combina informações sobre empregabilidade, carreiras académicas e ofertas formativas no estrangeiro. No site estão reunidas mais de 90 mil críticas a instituições do ensino superior. E uma avaliação negativa, tal como sucede num portal de alugueres de curta duração ou de reserva de hotéis e restaurantes, pode ter efeitos nefastos..Nova formação em Ciência de Dados.O trabalho, segundo Carolina Santos, cujo mestrado incidiu em Sistemas Integrados de Apoio à Decisão, foi realizado recorrendo a uma série de ferramentas de análise estatística e a um algoritmo que "permitiu extrair os tópicos referidos com mais ênfase nas opiniões online e agregá-los em grupos, percebendo quais eram os assuntos mais mencionados pelos alunos"..Este tipo de análise tem vindo a ganhar relevância como fonte de informação para as instituições. E preparar mais analistas qualificados é o objetivo de uma nova pós-graduação em Ciência de Dados Aplicada que o ISCTE vai lançar em setembro e cujas inscrições já começaram.."Com a velocidade e a dimensão com que se recolhem e armazenam dados atualmente, é necessário saber como interpretá-los e compreendê-los para que seja possível extrair conhecimento com valor e utilidade prática para as organizações", defende João Guerreiro. "O ISCTE-IUL irá formar profissionais para produzir resultados que sem a ciência de dados dificilmente seriam alcançados", diz, revelando que a pós-graduação irá combinar "programação e estatística".