Ondas gravitacionais de Einstein dão Nobel da Física a três cientistas
Einstein estava certo de que as ondas gravitacionais existiam, mas nem o próprio acreditava que fosse possível registá-las. "Este é um testemunho de tecnologia moderna e ciência. Acho que isto não poderia ter sido feito há 50, 20 ou 30 anos", disse Barry C. Barish, de 81 anos, um dos galardoados com o prémio Nobel da Física, em entrevista telefónica ao comité, minutos depois de ter recebido a notícia. A par do americano, o Comité Nobel sueco distinguiu o alemão Rainer Weiss, de 85 anos, e o americano Kip S. Thorne, de 77, pelo estudo e "observação das ondas gravitacionais".
"As grandes descobertas são realmente o resultado de colaborações gigantes", destacou Kip S. Thorne, que assumiu já estar à espera de que a descoberta ganhasse um Nobel, mas destacou a importância de, no futuro, o comité arranjar uma maneira de premiar essas grandes colaborações e não apenas as pessoas que estiveram na origem dos projetos.
Cem anos depois da descrição das ondas gravitacionais por Albert Einstein, estas foram registadas em 2015 pelo Observatório de Ondas Gravitacionais de Laser Interferómetro (LIGO), do qual fazem parte mais de mil investigadores de mais de 20 países, entre os quais os premiados e Ron Drever, um cientista sueco que faleceu em 2016.
A 14 de setembro de 2015, as ondas gravitacionais foram observadas pela primeira vez, resultado de uma colisão de dois buracos negros a mil milhões de anos-luz - a primeira evidência direta da sua existência. Mas só no ano seguinte, em fevereiro, foi anunciada a descoberta. "Está-se perante algo totalmente novo e diferente, que abre mundos até agora insuspeitos", destacou o Comité Nobel.
No texto em que justifica a atribuição do prémio, o comité sublinha que "um sem-fim de descobertas estão agora ao nosso alcance" após terem sido, finalmente, "capturadas as ondas e entendidas as suas mensagens".
Foi preciso um século para conseguir tecnologia capaz de medir estas ondas gravitacionais. Como descreve o comité, o sinal que chegou à Terra era fraco, mas prometia uma "revolução na astrofísica". "As ondas gravitacionais são uma maneira totalmente nova de observar os eventos mais violentos no espaço e de testar os limites do nosso conhecimento." Espalham-se "à velocidade da luz, enchendo o universo, tal como Albert Einstein descreveu na sua teoria geral da relatividade", mas o próprio "estava convencido de que nunca seria possível medi-las". A sua interpretação, dizem os responsáveis pela atribuição do Nobel, abre portas a inúmeras descobertas.
"Este é um daqueles prémios Nobel que ninguém contesta, que a descoberta merece. É algo fascinante", destacou ao DN Carlos Herdeiro, professor no Departamento de Física da Universidade de Aveiro. Para o coordenador do grupo de gravitação daquele departamento, a descoberta destes cientistas foi "o culminar de cem anos de trabalho", "algo revolucionário, extremamente difícil". Com as deteções feitas nos últimos anos, "criou-se um novo campo: a astronomia de ondas gravitacionais". Na opinião do investigador, "não há dúvidas de que daqui a cem anos vai ser uma das principais áreas da astronomia".
Depois de três deteções pelo LIGO, as ondas gravitacionais foram registadas pela quarta vez, na semana passada, pelo Observatório Europeu de Gravidade (EGO), em Cascina, Itália.