Quando entra para trabalhar no Oceanário de Lisboa, Teresa Pina também mergulha no silêncio dos aquários, agora que a pandemia obrigou a que se encerrassem as portas. "Faz falta a admiração das pessoas quando veem os aquários. Faz falta o "uau!" dos visitantes quando veem os tubarões, as raias... O burburinho da felicidade.".Há 13 anos que a bióloga trabalha no Oceanário, sempre ligada ao departamento de educação, área de onde vem uma fatia significativa dos visitantes. Agora os habitantes não têm a sua tranquilidade perturbada - se é que alguma vez se perturbam - com a presença humana. Até podem sentir falta, como Teresa. "Faltam as pessoas, fazem falta as suas reações a esta experiência especial que é uma visita ao Oceanário.".Agora os peixes nadam entre 7 500 000 litros de água salgada sem terem quem os aprecie, quem encoste os lábios aos vidros para os beijar, quem lá espalme as mãos na ilusão de os tocar... Em suma, quem viva o espanto e a sensação de estar no turbilhão de um oceano.."Falta-me, e falta a todos, as emoções dos outros"."Sempre que entro no Oceanário ouço alguém dizer 'ainda não tinha visto isto', ou 'olha o tubarão'. Falta-me, e falta a todos, as emoções dos outros. A arquitetura é muito envolvente, cria um ambiente muito forte. É essa envolvência que cria a magia.".Há duas espécies que podem sentir mais a falta dos visitantes, ou que pelo menos possam criar a expectativa de ver passar alguém, se assim se pode dizer: os pinguins e as lontras..Micas e Maré, as lontras filhas de Amália e Eusébio, têm a companhia de dois machos nascidos em 2017, que foram resgatados no Alasca, Kasi e Odi - os nomes são inspirados nos locais onde foram encontrados - região de Kasilof e lagoa de Odiak, respetivamente. "As pessoas identificam-se com elas, são mamíferos. E são engraçadas, atrevidas e dinâmicas." Certamente continuarão as suas brincadeiras, tão longe do que se passa no mundo dos humanos. Eles jovens, elas já adultas com cerca de 20 anos..Se o público se sente fascinado com as lontras, também não deixa de se encantar com os pinguins-de-Magalhães, com o seu olhar vivo, andar direito e rápido, como se fossem um boneco movido a pilhas. Mas agora esta espécie está focada na sua vida, os pinguins estão entretidos com o namoro - é época de reprodução e andam atarefadíssimos a escolher o local para os ninhos, a construí-los, a preparar as condições para receber os filhotes..Quando os dias difíceis da pandemia passarem, quando se voltar a ouvir exclamações de alegria e admiração no Oceanário de Lisboa, a colónia de pinguins estará a chocar os seus ovos... Ou, se demorar mais tempo, terão já os "miúdos" para apresentar..Rotinas mantém-se, há 500 espécies para tratar.As rotinas do Oceanário mantêm-se: as joias desta estrutura são seres vivos que precisam de ser alimentados e tratados. Não há evidências científicas sobre os efeitos do covid-19 neste tipo de fauna e os cuidados especiais são tomados em relação a quem os cuida, com equipamentos especiais, e com a alternância entre duas equipas - uma trabalha numa semana, outra na seguinte..Quando o Oceanário de Lisboa encerrou, a 16 de março, já tinha preparado e implementado o plano de contingência, assegurando a manutenção da operação dentro de portas. "Este plano previa a adaptação ao contexto atual e foi realizado um trabalho em conjunto com os vários parceiros e fornecedores, para assegurar o normal fornecimento de peixe/alimento para os animais, entre outras prestações de serviços - com o devido planeamento, a alimentação está completamente assegurada", explica fonte oficial. Todas as semanas, são consumidos 550 kg de alimentos por 500 espécies..A data de reabertura ainda está por definir mas o Oceanário assegura que mantém o mesmo rigor, qualidade e nível de exigência na gestão e manutenção do espaço..Novidade: uma espécie de visita de estudo virtual.Desde que foi inaugurado em 1998, por ocasião da exposição universal de Lisboa, o Oceanário viu aumentar o número de visitantes que já ultrapassa o milhão anual. Se dividirmos pelos dias do ano, dá uma média de 3000 entradas. Muitos são crianças, que ali se deslocam em visitas organizadas pelas escolas - os estabelecimentos de ensino estão encerrados em Portugal desde 16 de março e aquelas que ministram o ensino básico não vão reabrir este ano letivo..Como não se sabe quando o Oceanário de Lisboa poderá reabrir e com que limitações, para que as crianças e jovens - e o público em geral - possam manter a sua ligação emocional aos aquários, têm sido desenvolvidas várias iniciativas..A novidade - que deverá arrancar já na próxima semana - é o programa para os 1º, 2º e 3º ciclos e secundário. Uma espécie de visita de estudo virtual, através das plataformas usadas pelas escolas, que terá sempre um dos cerca de 30 educadores marinhos a interagir com os alunos e a responder às suas questões..Não dá para os alunos verem os aquários, mas é uma oferta adicional do departamento de educação do Oceanário aos professores. "Queremos apoiar os professores nesta tarefa hercúlea que é o ensino à distância. Para que esta situação que estamos a viver seja o menos complexa possível para eles e para os alunos. Uma janela que ajuda aliviar este fardo neste momento tão diferente", explica Teresa Pina..Para isso, basta que os professores se inscrevam na página do Oceanário, como se fossem marcar uma visita em tempos normais..Em casa, mas sempre a ver o mar.Desde que fechou portas devido à pandemia do novo coronavírus que o Oceanário de Lisboa reforçou a dinâmica nas redes sociais, nomeadamente no Facebook e no Instagram. Há quizz, vídeos, "A Hora de Recreio" com atividades simples, que não exigem grande esforço dos pais, informações sobre projetos de conservação, dicas quanto a séries sobre a temática ou ainda informações sobre "A espécie da Semana". Sugestões diárias para que todos possam estar "Em Casa a Ver o Mar"..E há ainda as visitas zen. Porque o isolamento também causa stresse, todas as segundas-feiras é colocado nas redes sociais um vídeo diferente para relaxar ou meditar - o objetivo é que se pare de pensar nos problemas e, durante alguns minutos, cada um possa perder-se a observar a fauna e a flora marítima. Com sons, com estética e sobretudo com imagens muito tranquilizadoras..No tão desejado regresso à normalidade, os visitantes vão poder regressar ao Oceanário e usufruir de uma exposição de excelência, com todas as medidas de segurança, e aproveitar para conhecer a nova exposição "ONE- o mar como nunca o sentiu", inaugurada no início deste ano. Até lá, podem usufruir de todas as atividades digitais e ficarem em casa... mas sempre a ver o mar..Números e curiosidades do Oceanário.• Total de exemplares: 8 000 organismos, entre animais e plantas, de mais de 500 espécies diferentes. • Espécies mais emblemáticas: pinguim-de-Magalhães, papagaio-do-mar, lontra-marinha, tubarão-touro, tubarão-leopardo, bacalhau, peixe-lua, dragão-marinho, caranguejo-gigante-do-Pacífico, polvo-gigante-do-Pacífico, peixe-palhaço, moreia, mantas, corais. • Total de litros de água salgada: 7 milhões e 500 mil, divididos por mais de 30 aquários. Só o aquário central tem 5 milhões de litros de água. • Habitats representados: Oceano Global, Atlântico Norte, Antártico, Pacífico Temperado, Índico Tropical. • Número total de visitantes desde a sua inauguração: mais de 25 milhões de 200 nacionalidades..• Média diária de visitantes: mais de 3 000. • Exposição "Florestas Submersas" foi visitada por mais de 4 milhões de pessoas. • Número de participantes nos programas de Educação entre 1999 e 2020: mais de 1,5 milhões. • Vaivém Oceanário já visitou 239 municípios e sensibilizou mais de 295 mil pessoas. • Número de espécies já reproduzidas: 40 espécies. • Todos os meses são produzidos cerca de 360 mil litros de água salgada. A quantidade de sal utilizada por mês é de 20 toneladas. • Número diário de análises feitas à qualidade da água dos aquários: mais de 200 • Semanalmente são consumidos cerca de 550 kg de comida. • Na decoração do aquário central e do habitat do oceano Índico foram utilizadas cerca de 75 000 peças de coral artificial. • A visão através do aquário central entre dois habitats, colocados em cantos diagonalmente opostos do edifício, atinge os 70 metros de comprimento..• A espessura máxima das janelas do aquário central é de 27 centímetros. • A colagem das janelas côncavas do aquário central obrigou à construção de estufas no local, para que a temperatura se mantivesse estável a 80ºC durante 10 dias. • Até 2021, 95% dos produtos da loja do Oceanário serão sustentáveis. • Inaugurado como um das principais atrações da Expo 98, a última exposição mundial do século XX - que decorreu sob o tema "Os Oceanos, um Património para o Futuro" - afirmou-se como o equipamento mais visitado em Portugal. •Entre as várias distinções que recebeu, destaca-se o facto de ter sido considerado por três vezes (2015, 2017 e 2018) como o "melhor aquário do mundo" pelo prémio Travellers Choice do Trip Advisor.