Pedro Lapa sobre Helena Almeida: "umas das maiores artistas portugueses do século XX"

A artista plástica Helena Almeida, que morreu hoje aos 84 anos, é, para o curador Pedro Lapa, "umas das maiores artistas portugueses do século XX", responsável por um "trabalho ímpar" nas chamadas neovanguardas.
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"É sem dúvida uma das maiores artistas portuguesas do século XX", afirmou Pedro Lapa, em declarações à Lusa, destacando o "trabalho ímpar" de Helena Almeida, "num contexto da situação daquilo que hoje se designa de neovanguardas - um conjunto de artistas que nas décadas e 1960/70/80 reviram muito do legado das vanguardas artísticas das vanguardas históricas, e procuraram redefinir os caminhos dessa mesma vanguarda".

Helena Almeida morreu hoje, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da galeria que a representava, a Galeria Filomena Soares. Nascida em Lisboa, em 1934, Helena Almeida criou, a partir dos anos 1960, uma obra multifacetada, sobretudo na área da fotografia, tornando-se uma figura destacada no panorama artístico português contemporâneo.

Pedro Lapa recordou que o trabalho de Helena Almeida era, "curiosamente, sobre pintura": "A própria Helena o disse, [era um trabalho] em que a fotografia tinha o papel aparentemente determinante".

"É exatamente sobre os limites da pintura, aquilo que a pintura não mostra, que é o gesto que a produz, a relação do corpo com o próprio ato de pintar, do corpo com a sua projeção, como imagem, como signo, que o trabalho dela interroga de uma forma absolutamente ímpar no contexto de toda a arte nacional e internacional", referiu.

O antigo diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea -- Museu do Chiado e do Museu Berardo lembrou que Helena Almeida, "aquando da sua emergência, não beneficiou de um contexto que hoje já existe, de uma maior internacionalização da arte portuguesa" e que, se tivesse surgido anos mais tarde "teria sido seguramente muito mais catapultada para um reconhecimento internacional imediato".

Esse reconhecimento "só veio a acontecer mais recentemente" e "é mais do que devido, pela obra fantástica que deixa".

As fotografias de Helena Almeida, com formação em pintura, foram sempre registadas pelo marido, o arquiteto e escultor Artur Rosa, também nascido em Lisboa, em 1926.

Sobre o facto de Artur Rosa ter fotografado praticamente todos os seus trabalhos, Helena Almeida explicou, um dia, numa entrevista à curadora Isabel Carlos: "É sempre ele. Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projetei".

"E como tal, tem que ser alguém próximo de mim. Mas antes faço sempre desenhos das situações que quero fotografar. Aliás, a partir da década de 80 passo a usar o vídeo para experimentar, porque um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa. Então, ensaio primeiro com a câmara [...]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma ação", acrescenta.

O lugar físico de que fala, o ateliê, é o espaço onde cresceu, e já era o ateliê do pai, o escultor Leopoldo de Almeida, autor, entre outras obras, do conjunto escultórico do Padrão dos Descobrimentos, e uma das figuras mais proeminentes da estatuária das décadas de 1940 e 1950 em Portugal.

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