O Vitória entrou "em estado de emergência", mas "não vai acabar". Jogadores podem rescindir
"É um crime público e social o que estão a fazer ao Vitória." Foi assim que o presidente do clube sadino, Paulo Gomes, reagiu à decisão do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), que rejeitou a providência cautelar que pretendia travar a descida ao Campeonato de Portugal, decretado pela Liga Portugal, por incumprimento no processo de licenciamento nas competições profissionais.
O Vitória de Setúbal tinha garantido a manutenção na última jornada do campeonato 2019-20, mas desceu depois dois degraus na secretaria."É um dia muito triste para o Vitória e para a cidade [...] Este clube tem problemas graves, que estamos a tentar resolver, mas trabalhamos sempre com manta curta", desabafou o presidente do emblema do Bonfim.
Com 110 anos de história, três Taças de Portugal (1964-65, 1966-67, 2004-05), uma Taça da Liga (2007-08) e 77 presenças no escalão principal, o Vitória foi condenado ao terceiro escalão. Segundo o líder sadino, os prejuízos "rondarão sempre os dois milhões de euros por ano, porque são os compromissos que o Vitória tem com os credores". No total, a dívida da SAD vitoriana é de 24 milhões de euros.
"Apresentámos pressupostos à Liga e não podemos ser feridos numa decisão que ganhámos em campo. Não querem deixar o clube respirar", disse Paulo Gomes, olhando para o futuro: "O Vitória não vai acabar. Os sócios vão-se unir, talvez até duplicar o número de sócios, e mostrar a força deste clube e desta cidade. Nunca imaginei estar aqui, não estou agarrado a este lugar, mas vou estar na linha da frente para lutar."
Para já, é preciso "abrir o estado de emergência do clube" e "tomar decisões difíceis". Para já, o treino desta quinta-feira foi suspenso e os jogadores vão ser contactados um a um. Segundo a lei, os atletas podem rescindir livremente, mas neste caso também é interesse do clube libertar os atletas para diminuir encargos financeiros. "Os jogadores serão tratados caso a caso, sempre defendendo os interesses do Vitória, que é maior do que o seu presidente ou um atleta. Queremos que a decisão final do TAD seja antes de o campeonato iniciar. Mesmo com as dificuldades que teremos até lá chegar. Obviamente, a preparação alterou-se depois desta decisão. Também estamos inscritos nos sub-23 e temos de pensar o que fazer e qual a melhor forma de fazer", informou o líder sadino.
Paulo Gomes atacou ainda a decisão da Liga Portugal, que devia ter sido "imparcial". "No Manual de Licenciamento, [a Liga] diz que o recurso deve ser feito no Conselho de Justiça da Federação. Hoje, no acórdão do TAD, diz que o recurso ao TAD foi atrasado porque o CJ se considerou incompetente para julgar o caso. Ora, o manual diz que o recurso tem que ir para Conselho de Justiça e depois a Liga diz que tem que ir para o TAD. Há que lamentar este tipo de decisões", explicou o dirigente. No entanto, é público que o recurso sadino foi remetido pelo CJ para o TAD e não pela Liga.
Apesar de a decisão do TAD não ser passível de recurso, há uma outra sobre a decisão da Comissão de Auditoria da Liga em desclassificar os sadinos das competições profissionais à espera de parecer do TAD: "Poderemos ganhar este processo, mas já não em tempo útil."
Para já, o clube conta com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal. O município promete ajudar "na viabilização futura".