O talento de Ben Shelton passou a fronteira dos EUA

Jovem vive sonho na Austrália, onde vai enfrentar Tommy Paul. Nuno Borges já o venceu e Duarte Vale foi campeão ao lado dele.
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Ben Shelton nunca tinha saído dos EUA. Deixou pela primeira vez o conforto de casa para se aventurar nos courts rápidos do Open da Austrália, onde já está nos quartos de final, e a mostrar que o ténis norte-americano pode muito bem ter encontrado uma nova estrela.

Nem um mês depois de entrar no top 100 do ranking ATP, o tenista de 20 anos está já virtualmente no top 50 da lista mundial. Uma ascensão meteórica em 12 jogos que o fez superar o melhor registo do pai e um dos seus treinadores. Bryan Shelton foi um ex-tenista profissional que chegou a ser 55.º do mundo e que hoje é treinador da equipa da Universidade da Flórida, onde Ben jogou até ao verão do ano passado.

Nascido em Atlanta, o agora tenista foi primeiro seduzido pelo futebol americano e só entrou nos courts aos 12 anos. Já era evidente que herdara algum talento do pai, que foi recusando a internacionalização precoce da carreira do filho. Em agosto do ano passado, três meses depois de se sagrar campeão universitário - prova que venceu em 2021, por equipas, em conjunto com o português Duarte Vale - o jovem norte-americano tornou-se profissional.

Começou a época de 2022 com um ranking de 573.º , mas foi ao Masters de Cincinnati eliminar Lorenzo Sonego e Casper Ruud (atual n.º 5). A presença no torneio correu-lhe tão bem que o levou a interromper os estudos - continua a estudar empreendedorismo e negócios internacionais online - e a apostar tudo no ténis. Cincinnati valeu-lhe um convite para o quadro principal do US Open, onde se estreou com uma derrota frente ao português Nuno Borges.

Apostou nos challengers internos e venceu três dos seis torneios em que participou nos últimos seis meses do ano passado, entrando no top 100 do ranking ATP pela primeira vez. Foi na condição de n.º 92 do ranking que recebeu convites do ATP de Adelaide (perdeu na estreia, com Coco Gauff), do ATP de Auckland e do Open da Austrália, que o obrigaram a sair dos EUA pela primeira vez na vida. Facto que o próprio revelou nas redes sociais. Na Nova Zelândia conseguiu a primeira vitória da carreira a nível ATP fora de casa, frente a Sebastian Baez (41.º) por 7-6 e 6-1 ao fim de 83 minutos de jogo.

Seguiu-se o Open da Austrália , onde a poderosa e astuta esquerda o ajudou a derrotar o promissor australiano Alexei Popyrin ( 6-3, 7-6 e 6-4) e o colocou frente a frente com o compatriota J.J. Wolf numa batalha de cinco sets e quase quatro horas, pelos parciais de 6-7, 6-2, 6-7, 7-6 e 6-2. Nos quartos de final segue-se agora o também compatriota Tommy Paul, que derrotou ontem Roberto Bautista-Agut.

Chegue onde chegar no segundo Grand Slam da carreira, o talento de Ben Shelton já convenceu a TEAM8, empresa de agenciamento de Roger Federer, e o rapaz já faz manchetes como sendo "o futuro do ténis norte-americano", rivalizando com Frances Tiafoe (17.º) pelo título de primeiro tenista negro norte-americano a poder chegar ao top 10, depois de Arthur Ashe e James Blake, os únicos que o conseguiram em 50 anos de ranking ATP.

Apesar de terminar 2022 como país mais representado no ranking ATP, os EUA ainda não viram um tenista made in USA ter sucesso num Grand Slam masculino desde que Andy Roddick ergueu o troféu no US Open em 2003. E será pedir muito que Ben o consiga na estreia em Melbourne, onde ainda há um Novak Djokovic em grande forma. Ontem, o sérvio atropelou Alex De Minaur (6-2, 6-1 e 6-2) e qualificou-se para os quartos de final do torneio australiano pela 13.ª vez, tendo conquistado nove troféus.

isaura.almeida@dn.pt

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